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Reflexões sobre o emprego da sibutramina
A retirada da sibutramina do mercado europeu foi baseada em dados já conhecidos do estudo Scout (Sibutramine Cardiovascular OUTcome), no qual 11,4% dos pacientes que utilizaram a sibutramina tiveram um evento cardiovascular, em comparação com 10% dos que tomaram placebo. O estudo incluiu cerca de 10 mil doentes com 55 anos ou mais e história de doença cardiovascular ou diabetes tipo 2, fatores de risco cardiovascular adicionais.
Entretanto, podemos discutir que a extrapolação destes dados pode ser vista como, no mínimo, contraditória. O uso da sibutramina como coadjuvante no tratamento pode trazer uma redução do risco para pacientes que não tenham a doença cardiovascular clinicamente estabelecida, podendo prevení-la ou impedir a sua progressão justamente por ter eficácia na redução do peso, fator de risco definido para doenças do coração.
Vale ressaltar que a advertência do risco cardiovascular com sibutramina já existia na bula, onde está anotado explicitamente que o medicamento não deve ser utilizado em pessoas com história de doença cardiovascular.
Como qualquer medicação, a sibutramina pode apresentar alguns efeitos colaterais. O uso indiscriminado desta medicação deve ser combatido e evitado. A população brasileira consumiu, em 2009, quase 2 toneladas de sibutramina.
Naturalmente que sua prescrição deve respeitar rigoroso critério médico, que deverá pesar o risco/benefício de seu uso. Como se trata de medicação empregada para indivíduos obesos, que freqüentemente apresentam risco de outras doenças, como hipertensão arterial, doença do coração e diabetes, o médico deve realizar acompanhamento rigoroso nos usuários, respeitando suas contra-indicações formais como, por exemplo, nos pacientes com doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca, hipertensão arterial não controlada, arritmias e outros problemas cardiovasculares graves.
Um posicionamento da Sociedade Brasileira de Diabetes, por exemplo, após analisar criteriosamente os dados do estudo, concluiu que se deve acolher as recomendações da FDA quanto às contra-indicações, porém, ainda não temos evidências baseadas em ciência para concordar com a retirada da medicação em pacientes sem estas contra-indicações.
Mas não se pode usar esta medicação sem acompanhamento médico, de preferência especializado.
A atual orientação da ANVISA exige o uso do receituário B2 para prescrição da sibutramina, que é reservado para medicamentos psicotrópicos, por exemplo, com potencial de criação de dependência. Ressalta-se que não há nenhum trabalho científico que sugira que a sibutramina possa criar dependência.
Dr. André F. Reis
Endocrinologia e Diabetologia
andrefreis@terra.com.br
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