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Eugenio Mohallem comenta o festival e explica, inclusive, a saída de Marcio Moreira
Clubeonline: Como você descreveria sua experiência como jurado do El Sol, na categoria TV? Os trabalhos foram conduzidos de forma satisfatória?
Eugenio Mohallem*: O festival me pareceu seríssimo e bem intencionado. Inclusive, durante os julgamentos, tomam alguns cuidados éticos que a gente até poderia cultivar por aqui. Por exemplo, nas votações abertas, onde o "sim" é indicado erguendo-se o braço , eles não aceitam nem computam o voto retardatário,
daquele cara que olha o voto dos coleguinhas para decidir se levanta ou não a mão. Votei as categorias TV e mídia impressa. Na hora de votar rádio, não entendi patavina os primeiros três spots - todos num espanhol rápido e extremamente coloquial. Daí, pedi para ser excluído do juri, porque meus votos não seriam lá muito justos.
Clubeonline: Você saberia nos explicar por que o presidente dos júris de TV, Rádio e Mídia Impressa, Marcio Moreira (brasileiro e vice-chairman do McCann WorldGroup), decidiu abandonar o Festival?
Mohallem: No segundo dia de votação, no início das definições de medalhas de mídia impressa, o Marcio Moreira - com o que entendo ter sido a melhor das intenções - tentou implementar uma certa rigidez processual (quando se podia falar, quando só se podia votar, mas sem direito a comentários, etc) e um jurado se manifestou veementemente contra o que entendeu ser uma atuação imperial do presidente. A discussão alcançou algumas oitavas acima do que o tema exigia, o Marcio se chateou e foi embora. Mas foi só isso. Nada teve a ver com a lisura de A ou B ou com resultados supostamente tendenciosos para país C ou D (ou principalmente E ): a definição de medalhas mal havia começado, foi um barraco de ordem filosófica. Se o problema tivesse sido falta de seriedade, eu também teria deixado o festival, mas o que houve efetivamente foi um desentendimento sobre o job description do Presidente do Juri.
Clubeonline: Como você avalia o El Sol, de uma maneira geral (pontos positivos e negativos), no panorama dos festivais internacionais de publicidade?
Mohallem: A organização do Festival é séria, bem intencionada e profissa; a cidade, lindíssima e com uma estrutura tão boa quanto Cannes para esse tipo de evento. Por enquanto, vejo-o mais como um Prêmio-Espanhol-que-aceita-participações-estrangeiras do que como um prêmio Internacional a la Cannes. Nenhum problema nisso, pois o One Show também é um Premio-Americano-Que-Aceita-Estrangeiros. Mas, se quiser ser verdadeiramente mundial, o El Sol precisa evoluir da atual configuração do juri, que é metade Espanha/metade outros países ibero-americanos. Porque o formato atual naturalmente favorece peças espanholas, ainda que os jurados sejam muito corretos (e não vi nada por lá que os desabone). E quando digo favorece, é porque metade do juri está familiarizado com elas, enquanto que as outras peças lutam para vencer regionalismos, barreiras linguísticas, etc. Mas dizer que o El Sol foi palco de patriotadas, como às vezes acontece no Fiap, seria uma grande injustiça com ele: o Grand Prix de Gráfica foi para o México, os de Rádio e TV para a Argentina e a agência do Ano foi brasileira.
* Eugenio Mohallem é sócio e diretor de criação da Fallon
Se quiser aproveitar para ler matéria publicada no jornal espanhol El Mundo, sobre a saída de Moreira, clique aqui.