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Elas Perguntam, Elas Respondem

Débora Nitta (Facebook) e Thamara Pinheiro (Soko)

10.03.21

O Clubeonline abriu um espaço para a troca de experiências, ideias, dúvidas e reflexões sobre a mulher no mercado de comunicação.

Para isso, montamos duplas formadas por profissionais que nunca trabalharam juntas antes. A experiência visa mostrar o que evoluímos e discutir para onde vamos. Afinal, se tomarmos como base que a mulher “chegou lá”, o que vem a seguir?

O mais importante nesta proposta é a troca entre as profissionais convidadas. Para isso, elas tiveram liberdade de estabelecer três perguntas para sua “dupla”. E responderam às três encaminhadas por ela.

A série foi inaugurada no Dia Internacional da Mulher com Ilca Sierra (Via Varejo) e Lica Bueno (Suno) – leia aqui como foi a troca.

Em seguida, foi a vez de Gláucia Montanha (Convert) e Nathalia Cruz (Porta dos Fundos) - confira aqui.

Agora a dupla é formada por Débora Nitta, diretora de global customer marketing do Facebook para América Latina, e Thamara Pinheiro, creative data da Soko.

Até sexta-feira teremos mais trocas!

DÉBORA NITTA

Com mais de 25 anos de experiência no mercado de comunicação e marketing, Débora Nitta está no Facebook desde 2018. Entrou para a companhia para liderar o time de relacionamento com agências. Depois foi promovida a diretora de global customer marketing do Facebook para América Latina,

Antes de atuar na rede, ela esteve na WMcCann, sua casa por 12 anos. Na agência, chegou a ser vice-presidente de planejamento. Tem passagens também por Lew’Lara, Salles/DMB&B e Talent.

Débora conta que sua paixão é desenvolver projetos que tenham a diversidade e a inclusão como elementos fundamentais para a transformação dos negócios.

As questões enviadas por Thamara Pinheiro e respondidas por Débora Nitta são as seguintes:

Thamara - O que é pra você "chegar lá"? O conceito de sucesso em si.

DÉBORA O conceito de sucesso deveria ser, por definição, pessoal e intransferível. Por anos, assumimos a régua alheia de sucesso para nos medir. E isso é, obviamente, fonte inesgotável de frustração. Pra mim, sucesso significa conseguir alinhar minha essência com a minha existência: colocar em prática o que eu acredito, meus valores e princípios, o máximo possível, em tudo o que faço. E seguir inquieta e curiosa durante todo esse caminho.

Thamara - Quando falamos em mulheres que ocupam posições de poder, falamos de praticamente um tipo de mulher com experiências muito semelhantes: mulheres brancas de classe média alta. Como acha que podemos incentivar mulheres negras, indígenas e periféricas a também se imaginarem "chegando lá"? Como essas mulheres de sucesso podem ajudar na inserção e ascensão de mulheres desassistidas pelo mercado de trabalho?

DÉBORA - Qualquer pessoa em posição de poder tem a responsabilidade de ser forte aliada para que todas as mulheres, em especial as sub-representadas, tenham espaço para chegar onde elas quiserem. Isso demanda a conscientização de que somos parte do problema, além do desejo autêntico de ser parte da solução. Não tem jeito. Nesse processo, você precisa ser vocal e intencional. Precisa de um plano, de articulação estratégica que transforme as empresas em terreno fértil para a mudança. É preciso sistematizar a abertura de espaços de troca, onde vozes de mulheres negras, periféricas e indígenas sejam verdadeiramente ouvidas. É preciso flexibilizar requisitos de contratação, preparar o time interno para o acolhimento, trazer experts para ajudar na aceleração da mudança. E passar a seguir e apoiar, no seu Instagram, Facebook, LinkedIn, Twitter, profissionais diversos, que você não conheça, com referências que não sejam as suas. Marcar conversas, cafés virtuais, ir atrás dessas pessoas e se demonstrar verdadeiramente disponível. Demanda energia, vontade, comprometimento. Felizmente é um caminho sem volta e nele todo mundo ganha.

Thamara - O que você considera um ato revolucionário quando pensamos em comunicação no ano de 2021?

DÉBORA - A vulnerabilidade. Infelizmente, ela ainda é um ato revolucionário. A vulnerabilidade, um dos atributos mais potentes para a conexão humana, sempre foi identificada com fraqueza, perda de força, algo a ser escondido e massacrado. Contrariamente a tudo isso, é justamente a vulnerabilidade que abre espaço para as relações verdadeiras, para a aprendizagem contínua, para a troca autêntica. Diante de tamanha complexidade que vivenciamos hoje, a vulnerabilidade é característica dos verdadeiros fortes, que não têm todas as respostas, que estão verdadeiramente abertos ao diferente, que se constroem e se reconstroem sempre, e com a ajuda do outro. Na maior parte dos casos, esse ato revolucionário ainda não faz parte do dia a dia das empresas, incluindo a indústria de comunicação e suas lideranças. Vulnerabilidade tem de ser nossa revolução.




THAMARA PINHEIRO

Creative data da Soko, onde está há um ano, Thamara Pinheiro entrou na publicidade por meio do programa 2020, criado pela então JWT para promover equidade racial na agência. Trabalhou em contas como Avon, Netflix, Absolut e Faculdade Zumbi dos Palmares, com a qual ganhou ouro em Cannes com o projeto “Black Box”, em 2019 (relembre aqui).

Thamara acredita que a publicidade tem forte poder de criar imaginários e realidades. Por isso, considera que, em um país como o Brasil, diversidade deveria ser o básico.

Pensando nessa responsabilidade e no lugar em que ocupa, ela foi uma das fundadoras do AUE, hub de conteúdo criativo com propósito, que foi lançado este ano. Ele provoca marcas, veículos e agências a pensar comunicação com responsabilidade criativa.

Thamara participou da primeira live do Clube+Vozes, projeto do Clube de Criação em favor da diversidade (veja aqui como foi).

As questões enviadas por Débora Nitta e respondidas por Thamara Pinheiro são as seguintes:

Débora - Quem foi para você a primeira mulher a te inspirar na carreira? Por quê?

THAMARA - Complicado. Por ser uma mulher negra, nunca tive referências dentro do que eu realmente queria ser, uma publicitária criativa. Se aqui falamos de um ambiente majoritariamente masculino, mulheres brancas ainda são minoria e mulheres negras quase não existem. Ser criativa foi uma escolha muito fora do meu "ambiente natural". Mas, quando falo em redação e escrever, mulheres como Conceição Evaristo me inspiraram a relatar minhas vivências e experiências.

Débora - Para você, Thamara, quais os avanços que devemos celebrar no Dia Internacional da Mulher?

THAMARA - Acredito que a discussão hoje já chegou a outro nível. Entendemos que cada "grupo de mulheres" tem suas particularidades, suas conquistas e suas lutas. Claro que, se todas formos juntas, a tendência é melhorar mais rápido, mas, pra mim, os maiores avanços de hoje são o entendimento dessas características que chamamos de privilégio. Mulheres negras, mulheres periféricas, mulheres indígenas e mulheres brancas, como podemos nos ajudar e, mesmo assim entender, respeitar e acolher nossas diferenças? Pra mim, como mulher negra faz todo sentido parabenizar outra mulher negra pelo Dia Internacional da Mulher. Já em relação a mulheres brancas eu vejo que a maioria delas não sente a necessidade de ser parabenizada tanto quanto nós. Entendo e respeito esse posicionamento. Os avanços ainda estão muito dentro das nossas comunidades. Chegou a hora de expandir. Ainda há muito a ser feito.

Débora - Se você pudesse trocar de lugar com qualquer mulher no mundo por um dia, com quem seria? Por quê?

THAMARA - Pergunta difícil. São muitas mulheres que me inspiram em segmentos diferentes, mas vou falar de uma mulher tão versátil quanto eu quero ser: Rihanna. Além de ser uma mulher negra bem-sucedida em sua carreira de cantora, ela é uma empresária incrível. Para todas as "dificuldades/deficiências" que enxergou no mercado, ela empreendeu com soluções que mudaram completamente o cenário daquele produto. Exemplo: a Fenty Beauty, a primeira marca de maquiagem com 50 tons diferentes de base e corretivos. Nunca uma marca havia pensado tanto na diversidade de peles negras. Durante muito tempo as maquiagens nos deixaram cinzas. Outra exemplo é a Savage Lingerie, uma marca de lingerie sexy feita para corpos normais, o que me parece meio óbvio, mas ninguém teve a coragem de colocar essa ideia de pé. Ela conseguiu fazer com que os desfiles da Victoria Secret não fizessem mais sentido para o cenário atual, no qual brigamos tanto para nossos corpos serem livres e aceitos. Essas mulheres que encontram ideias óbvias e mudam a percepção de outras mulheres sobre elas mesmas são revolucionárias. Essas mulheres me inspiram.

Amanhã tem mais uma dupla.

Elas Perguntam, Elas Respondem

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