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Elas perguntam, elas respondem

Thamara Pinheiro (AUE / Gut) e Carol Saraiva (Walt Disney Company)

10.03.22

Clubeonline abriu um espaço para a troca de experiências, ideias, dúvidas e reflexões sobre a Mulher no mercado de comunicação.

Para isso, montamos duplas, formadas por profissionais que nunca trabalharam juntas.

A experiência visa mostrar como e o quanto evoluímos e discutir para onde vamos.

O mais importante nesta proposta é a troca entre as profissionais convidadas. Para isso, elas tiveram liberdade de estabelecer duas perguntas para sua “dupla”. E responderam às duas questões encaminhadas por ela.

A série, que se estenderá ao longo desta semana, conta com a participação de quatro integrantes da diretoria do Clube de CriaçãoJoana Mendes (presidente)Jessyca Silva, Thamara Pinheiro e Mariana Mendes. Elas integram a Chapa Preta, que venceu a eleição no ano passado.


Thamara Pinheiro

Thamara é  cofundadora e líder de criatividade no AUE, hub criativo de impacto e inteligência cultural, que só no ano passado fez trabalhos para marcas como Facebook, Clube de Criação, Feira Preta e Wunderman Thompson. Já desenvolveu projetos para clientes como Avon, Netflix, Absolut, Mercado Livre, Coalizão Negra Por Direitos e Faculdade Zumbi dos Palmares, para a qual criou campanha que ganhou Leões de Ouro e Prata no Festival de Cannes (projeto Black Box). Hoje, está na agência Gut São Paulo como redatora. Em 2021, foi eleita como uma das 30 vozes que lutaram para mudar a indústria da comunicação pelo coletivo @Papel&Caneta.


As questões enviadas por Carol Saraiva e respondidas por Thamara são:


Carol - Faz 7 anos que eu saí do Brasil, que progressos você acha que a indústria de comunicação teve neste tempo?


Thamara - Apesar de estar na indústria há apenas 5 anos, acredito que algumas coisas progrediram desde sua saída, talvez representatividade seja a principal mudança. Hoje, temos algumas lideranças negras que trabalham de forma muito ativa questões relacionadas à diversidade e responsabilidade social. Temos uma presidente e uma vice-presidente do Clube de Criação negras, temos duas mulheres negras que ganharam o prêmio Caboré no ano passado, temos muitas mulheres na liderança de grandes agências e ainda temos uma agência e uma produtora formada 100% por profissionais negros. Até quem não é líder consegue levantar questões importantes relacionadas ao trabalho, como excesso de horas trabalhadas depois do expediente e o quanto é importante e significativa a CLT. Acredito que falar sobre essas questões seja um grande avanço. Se temos lideranças com perspectivas diferentes, conseguimos falar e nos conectar de forma muito mais assertiva que há 7 anos. Sim, esses exemplos ainda são exceções perto do tamanho da indústria e do poder que ela tem de transformar realidades e imaginários. Mas, de novo, acredito que estamos caminhando com intencionalidade e responsabilidade.

Carol - Você luta ativamente pra melhorar o mercado, quais são os maiores desafios que você enfrenta hoje?


Thamara - Acho que o maior desafio são as pessoas. A indústria é feita por pessoas, suas experiências de vida, perspectivas e repertório, e, por mais que tenhamos avançado um pouquinho, ainda temos muitas pessoas, dentro das agências e dos clientes, com repertórios limitados e viciados em uma comunicação que não faz mais sentido para os dias de hoje. Precisamos extrapolar a bolha elitista da publicidade e mostrar que criatividade precisa servir a alguma coisa, precisa ser útil em alguma esfera, seja ela representativa ou de forma mais prática. Nosso job é comunicar, temos o 4º poder nas mãos, como podemos "melhorar" o mundo ou diminuir os "possíveis danos" com nosso trabalho?

Carol Saraiva


Carol é diretora criativa/redatora, com mais de 15 anos de experiência. Atualmente trabalha como diretora criativa na Walt Disney Company, em Los Angeles. Ao longo de sua carreira, foi premiada no Festival de Cannes, D&AD e One Show, entre outros. Em 2014, foi considerada a 3º redatora mais premiada do mundo pelo Cannes Lions Global Creativity Report. Além de seu trabalho como criativa, orienta mulheres e ajuda iniciativas femininas. Ela é fundadora do Elas Na Gringa (elasnagringa.com), plataforma que esclarece mulheres publicitárias brasileiras sobre como ter uma chance de trabalhar no exterior. E também é líder de comunicação da Women@Disney, organização focada em equipar e motivar funcionários a alcançar seus objetivos de carreira e impactar o mundo com projetos relevantes e fundamentados em representatividade.


As questões enviadas por Thamara e respondidas por Carol são:


Thamara - Eu fui uma criança viciada em filmes da Disney, eles sempre têm uma "moral da história", algo a nos ensinar sobre a vida, as pessoas, família e até posicionamentos políticos, ali nas entrelinhas. A Disney realmente  nos "educou'' com suas histórias. Como é trabalhar neste lugar tão mágico, e quais são as responsabilidades que você acredita que veem junto com tudo isso?


Carol - Eu também fui essa criança. Quem me conhece sabe o quanto sempre fui viciada na Disney. Acho que nem no meu sonho mais ambicioso me via trabalhando aqui. Mas que bom que aconteceu, e que bom que entrei na companhia num momento de completa transição. A Disney precisava se modernizar e eu me sinto a pessoa mais sortuda do mundo por poder fazer parte dessa mudança. Eu fui contratada exatamente por ser uma mulher latina, com a experiência que tenho. E sou ouvida, tenho a chance de influenciar a empresa, os futuros projetos, e até as contratações. E levo isso muito a sério. O impacto da Disney no mundo é muito grande, como eu e você sentimos, então vou aproveitar qualquer oportunidade para fazer a diferença. Além de ser diretora de criação, e garantir que a agência da Disney tenha pelo menos 50% de mulheres na criação (hoje temos 65%), eu também sou parte do board chamado Women@Disney. São  25 mulheres que trabalham para a empresa toda garantindo que a voz da mulher seja ouvida e relevante. Dos parques, pro HULU, pra ESPN, pra FOX, pro Disney Plus. A gente tem que garantir que somos representadas de forma correta em todas as plataformas. E eu aprendo tanto com tudo isso, e me faz gostar ainda mais do que faço. Então, acho que minha história tem um pouco de conto de fadas. Mas com muito trabalho e dedicação junto.


Thamara - Você está fora do Brasil há 7 anos. Como o projeto "Elas na Gringa", mentoria para mulheres que querem trabalhar fora do Brasil, nasceu e como ele tem se desenvolvido ao longo desses anos?

Carol - Quando eu vim morar nos EUA comecei a receber muitos portfólios de pessoas que queriam vir pra cá também, e, depois de um, dois anos, percebi que 100% dos portfólios eram de homens. E isso me fez parar e pensar no que estava acontecendo. Se os meios de comunicação só falam dos homens que moram fora, será que as mulheres não se sentem incentivadas? Representadas? Mas pera, eu conheço mulheres ao redor do mundo, amigas, pessoas que eu admiro muito. Então lancei um projeto que, num primeiro momento, eu analisava portfólios e dava dicas baseadas na minha experiência. Num segundo momento, chamei amigas, depois pessoas que eu não conhecia, mas admirava, e, com isso, vieram outras mulheres talentosíssimas que queriam fazer parte. E as coisas cresceram tão rápido que, de repente, a gente tinha 100 mentoras ao redor do mundo e 5 mil mulheres no Facebook querendo ajuda. E isso foi difícil pra mim. O Elas na Gringa é um projeto 100% pago e liderado por mim, e, às vezes, não dou conta, pra ser honesta. Mas eu vou continuar tentando e amando esse projeto como se fosse um filho. Eu tenho vários planos incríveis pra ele, só preciso de mais tempo e ajuda. As mulheres brasileiras da publicidade já conquistaram o mundo, eu só quero dar uma plataforma para elas brilharem ainda mais e ajudarem mais mulheres.


Espie texto anterior da série, com Mariana Mendes (WT) e Gilvana Viana (MugShot), aqui.

 

Elas perguntam, elas respondem

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