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Série Emergência Climática

Clubeonline ouviu as agências sobre o tema

10.04.24

Copernicus, o observatório europeu do clima, apontou em fevereiro último que o mundo registrou uma preocupante marca histórica. Pela primeira vez, completou-se um ciclo de 12 meses consecutivos com a média de temperatura global superando o limite crítico de aquecimento do planeta. Isso quer dizer 1,5º C acima da média do período pré-industrial, valor estabelecido no Acordo de Paris.

Cientistas e organizações especializados no impacto das mudanças do clima alertam que o relatório, com dados encerrados em janeiro, é um testemunho da urgência da adoção de medidas que realmente combatam o aquecimento e os efeitos da crise climática.

Embora 2023 tenha sido o ano mais quente da história, existem dados indicando que 2024 poderá bater esse recorde. A avaliação é da Organização Meteorológica Mundial, ligada à ONU, com base em relatórios elaborados em diferentes partes do mundo. Os resultados divulgados pela agência levaram o secretário-geral da ONU, António Guterres, a declarar que precisamos de ações inovadoras para combater o aumento das temperaturas.

E as agências de publicidade diante disso?

A pauta climática faz parte da agenda ESG. E a sustentabilidade há anos vem sendo discutida nos ambientes corporativos. Seja na forma de relatórios anuais, compromissos públicos, produtos “verdes” ou de campanhas de conscientização, grandes marcas têm se posicionado em defesa do planeta. Afinal, a sociedade cobra das empresas, entre outras medidas, soluções que mitiguem os efeitos provocados por processos industriais, pelo mau uso dos recursos naturais e pelo consumo excessivo, um ponto que está conectado à comunicação.

Mas como as agências de publicidade, que atendem as marcas, se envolvem com esse tema? Estão combatendo, elas próprias, problemas que afetam o meio ambiente? De que modo contribuem com seus clientes no enfrentamento do quadro de emergência climática que vivemos? Ou o mercado entende que essa é uma responsabilidade que não lhe cabe?

O Clubeonline buscou respostas entre as agências brasileiras. Acionamos desde as que integram redes internacionais às que trabalham de maneira independente, das que têm décadas de existência às mais novas, que abriram suas portas com propostas diferenciadas de atuação.

Foram procuradas QUARENTA E DUAS AGÊNCIAS DE PUBLICIDADE. Delas, APENAS DOZE atenderam aos nossos questionamentos: Africa Creative, AKQA, AlmapBBDO, Artplan, DM9, FCB, Monkey-land, Paim United Creators, R/GA, Troup/Cyranos, VML e WMcCann (em ordem alfabética).

As 30 que declinaram foram: Ampfy, Ampla, BETC Havas, Cheil, CP+B, David, Dentsu, DPZ, Droga5, Energy, Fbiz, Galeria, Gana, Grey, GUT, Heads, KELE, Leo Burnett Tailor Made, Lew'Lara\TBWA, Mediabrands, MGNT, Mullen Lowe, NovaSB, Ogilvy, Propeg, Publicis, Soko, Talent, We e Wieden+Kennedy. Deste grupo, 3 enviaram apenas diretrizes gerais das redes às quais pertencem. Outras argumentaram não estarem suficientemente preparadas para o assunto, reconhecendo, porém, sua relevância. E algumas apenas declinaram. 

Foram acionadas também DUAS AGÊNCIAS abertas por criativos brasileiros, que decidiram focar na comunicação voltada para a agenda ESG. São elas Felicidade Collective e GiveBack. Elas responderam prontamente ao nosso chamado.

Mas afinal, "é tarde demais" para o planeta?

Autora do livro Not the end of the world: How we can be the first generation to build a sustainable planet, lançado em janeiro, Hannah Ritchie é uma cientista de dados inglesa que atua como pesquisadora-chefe da plataforma Our World In Data, da Universidade de Oxford. Hannah reuniu pesquisas e estatísticas para mostrar que, apesar da crise climática, o mundo reúne condições de reverter esse cenário, apresentando na obra uma visão mais otimista quanto ao futuro, desde que, claro, medidas efetivas sejam tomadas. Para ela, há um aspecto fundamental a ser esclarecido: acreditar que "é tarde demais" para melhorar a saúde do planeta tem como consequência a inércia. E isso é prejudicial na busca de soluções.

A fim de estimular o mercado a consolidar suas estratégias para a temática ESG e a investir mais fortemente em projetos que incluam a emergência climática na agenda, o Clubeonline dará visibilidade nas próximas semanas às respostas das agências que optaram por contribuir com esta reportagem especial.

Nesta abertura da série “Emergência climática, apresentamos alguns conceitos adotados e ações implementadas pelas 14 agências que participam deste papo.

Para saber com mais detalhes o que elas estão fazendo, acompanhem as próximas matérias desta pauta.

Lembrando que buscar soluções para combater a emergência climática é, de fato, algo fundamental para que a humanidade tenha algum futuro.

Vamos à primeira parte das respostas.




Criamos uma área específica de sustentabilidade e ESG dentro da Africa em 2018. Com o intuito de conceber e executar projetos, o núcleo também desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de políticas internas e estratégias para nossos clientes, que realmente façam a diferença para o mundo” – Marcio Santoro, sócio, copresidente e CEO da Africa Creative

Nossa intenção é cada vez mais trabalhar com a missão de endereçar a agenda climática em processos e projetos, e nos consolidar como um estúdio com expertise para realizar trabalhos criativos acerca do tema, partindo de metodologias proprietárias de impacto positivo que desenvolvemos ao longo dos últimos anos”Paula Santana, head de projetos especiais da AKQA

As pautas ESG são urgentes e inegociáveis para o futuro da humanidade e para o presente dos negócios, em qualquer atividade. Evidentemente, existem diferentes estágios para cada tipo de indústria e empresa, mas trata-se de um caminho sem volta. A propaganda tem o poder de criar desejos, mas também carrega a responsabilidade de acelerar mudanças culturais na sociedade. Então, sem dúvida, é nosso papel protagonizar essa agenda” – Filipe Bartholomeu – sócio, presidente e CEO da AlmapBBDO

Nós, como agência, temos um papel importante em fomentar este assunto - como criar produtos e ações que possam contribuir positivamente com o atual cenário - para que o consumidor se informe e se conscientize. Temos também a consciência de que as ações que criarmos com esse propósito irão impactar o hoje e o futuro das novas gerações” – Gláucia Montanha, CEO da Artplan SP

Essa é uma pauta muito importante para diversos dos nossos clientes. Às vezes, vem com a alcunha de ESG. Mas o mais importante é que desponta como prioridade, não para a comunicação apenas, mas para todos os movimentos das empresas, que vão desde a maneira de produzir, atuar no mercado até, claro, anunciar”Icaro Doria, copresidente e CCO da DM9

Ao longo do último ano, a presença de temas ESG cresceu muito na agenda de CMOs e CEOs. Como consequência, a agência tem sido chamada a contribuir para a visão geral das companhias e/ou para desenvolver projetos específicos focados no assunto” - Juliana Vilhena Nascimento, managing director da FCB/SIX

Cada um tem de dar a sua contribuição, de alguma maneira. O que não pode ser feito é usar a causa apenas para ganhar prêmios ou para comunicar somente para o mundo publicitário. Temos de usar a criatividade para ajudar, efetivamente” – Ricardo Forli, sócio da Monkey-land

"O planeta é um sistema fechado com recursos finitos. Essa verdade traz consigo um senso de responsabilidade coletiva, já que todos moramos nele. Todo ser humano e as organizações criadas por ele têm papel importante no combate à emergência climática. Algumas atividades de mercado impactam em maior grau a sustentabilidade ecológica e as ações que reduzam os malefícios causados devem ser proporcionais a esse impacto. A sustentabilidade, inclusive, pode ser utilizada como vantagem competitiva nas empresas. Um exemplo é o ISEB3, índice da Bolsa de Valores que ranqueia as empresas mais comprometidas com a sustentabilidade, o que gera mais valor para seus negócios” - Mateus Pagot Gobbi - head de cultura e pessoas  da Paim United Creators

"propaganda vive um paradoxo eterno. Nosso trabalho estimula o consumo. O consumo aumenta a produção e por aí vai. Então, cabe a clientes, agências, plataformas e veículos de mídia estimularem o consumo, sim, mas de modo consciente. Evitar o desperdício. Veja que loucura: um estudo da ONU estima que 1,3 bilhão de toneladas dos alimentos produzidos para consumo humano é perdido ou desperdiçado a cada ano. Isso acabaria com a fome no mundo. E isso acaba com o meio ambiente. Tem alguém fazendo alguma campanha de conscientização de consumo e produção? Alguma marca liderando este tema? Alguma organização? Não. Ou seja, nosso mercado pode e deve ter um papel crucial nisso. E será o mínimo, mas nobre, a fazermos” - Márcio Oliveira, managing director da R/GA

"Todos nós, em qualquer segmento profissional, temos a obrigação de abraçar uma causa relacionada a assuntos ambientais. É a nossa sobrevivência em jogo. Não existe outra opção para ninguém, sejam governos, marcas, agências ou os colaboradores e suas famílias. Quando o Movimento Volta Pinheiros foi criado - 100% apartado da agência, gerido e financiado por um grupo de amigos -, sabíamos que seria difícil engajar os cidadãos e as marcas em um assunto tão basal quanto ‘água’, pois este seria de responsabilidade só do Estado. Hoje, depois de 7 anos, o Volta vê as marcas abraçando a margem revitalizada com uma intensidade única e o governo privatizando as águas que não conseguiu limpar direito e continuam tão imundas quanto em 2019" - Marcelo Reis, sócio da Troup/Cyranos

Eu acredito em corresponsabilidade. Todos nós somos responsáveis pela evolução da nossa indústria e das comunidades em que estamos inseridos. O mercado de comunicação tem o poder de criar conexões, mudar comportamentos e se inserir na cultura popular. A criatividade é uma ferramenta muito poderosa de transformação socioambiental e precisa ser usada com esse propósito. Ela nos ajuda a romper com vieses e estereótipos e a contribuir para a evolução da sociedade como um todo. Nenhum de nós, em nenhuma parte da cadeia, pode se abster de desempenhar seu papel nesse processo de transformação pelo qual estamos passando” – Karina Ribeiro, CEO da VML

Além de sermos signatários do Pacto Global das Nações Unidas, temos parcerias com várias organizações especialistas, tanto para desenvolver ações corporativas como para auxiliar nossos clientes a se apropriar dessa temática de maneira responsável e consciente. Também fazemos parte da AdNeto Zero, coalizão entre agências de publicidade que tem como objetivo mudar o comportamento do consumidor, incorporando mensagens de sustentabilidade na propaganda” - Luiza Portella, diretora de estratégia, responsável pela implementação das ações de sustentabilidade da WMcCann

Uma nova pesquisa do Chartered Institute of Marketing (CIM) revela que 49% dos profissionais de marketing no Reino Unido têm receio de trabalhar em campanhas de marketing de sustentabilidade com medo de que sua empresa seja acusada de cometer greenwashing. Vejo um comportamento semelhante no Brasil” – Tomás Correa, fundador e CCO da Felicidade Collective

Após alguns anos, conseguimos construir uma extensa rede global, que inclui especialistas, ONGs e startups voltadas para o clima e questões sociais, em diversos segmentos. É impossível ter domínio pleno, profundo e atualizado de todos os assuntos relacionados ao tema contando apenas com colaboradores internos. Essa conexão permite oferecer insights valiosos e soluções práticas” – Rui Branquinho, cofundador e CCO da GiveBack

Série Emergência Climática

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