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O combate às queimadas precisa de apoio
A estiagem prolongada e as temperaturas acima da média agravaram a situação de queimadas no país. Além das condições climáticas adversas, há indícios de ação humana criminosa em algumas áreas. O quadro é extremo. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que o Brasil registrou 68.635 focos de queimadas em agosto. É o pior resultado para o mês desde 2010 – na época foram 90.444 os focos detectados.
Entre os biomas, a Amazônia é o ecossistema mais afetado, com 55,8% dos registros. Na sequência, estão Cerrado (27,1%), Mata Atlântica (8,8%), Pantanal (6,4%), Caatinga (1.8%) e Pampa (0,1%).
Nenhuma região do Brasil teve número inferior de queimadas em agosto, em comparação ao ano anterior. Ou seja, a luta contra o fogo está ainda mais desafiadora. Na análise por região, o Norte apresentou 33.639 focos de incêndio. O Centro-Oeste, 20.441. O Sudeste registrou 6.440 casos, enquanto o Nordeste e o Sul tiveram 5.655 e 2.460, respectivamente.
A falta de chuva e as temperaturas acima da média durante o outono e o inverno criam um ambiente favorável para a propagação dos incêndios. Esses fatores não apenas reduzem a umidade da vegetação, tornando-a altamente inflamável, como também facilitam a propagação rápida das chamas, com consequências devastadoras para ecossistemas inteiros e para a qualidade do ar.
No contexto global, o Brasil destaca-se no G20, defendendo ações para reduzir os danos das mudanças climáticas. Mas os números demostram que estamos falhando no enfrentamento de um problema tão grave que pode ser sentido a largas distâncias dos focos de incêndio. O WWF-Brasil alertou que os famosos “rios voadores”, como são conhecidas as correntes de ar que transportam a umidade da Amazônia para outras terras, viraram gigantescos corredores de fumaça que podem ser vistos do espaço. Esse transporte de partículas das regiões que estão ardendo prejudica a qualidade do ar em lugares distantes da floresta.
Em um único dia (22 de agosto), esses corredores de fumaça, conforme captado pelos satélites do Inpe, atingiram 11 estados: Amazonas, Rondônia, Pará, Acre, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e São Paulo.
Diante desse cenário, o trabalho das brigadas tem sido fundamental na tentativa de evitar o pior. Mas é preciso fazer mais – muito mais. Nas redes sociais, está nítida a necessidade de dar apoio muito maior a esses grupos. É o caso do Instituto Cafuringa, do Distrito Federal, que pede recursos para equipamentos de proteção individual (EPI), insumos como gasolina e óleo para ferramentas e deslocamento de pessoal, abafadores, enxadas, lanternas.
Na Chapada dos Veadeiros, a Brigada Voluntária de São Jorge, formada recentemente, pede doações para reformas em sua base. Outro grupo, o Rede Contra Fogo, que atua na mesma região do parque nacional, agradece todo o apoio recebido (inclusive pela oferta de água, alimento e transporte) mas fornece uma chave PIX para quem estiver disposto a continuar colaborando.
Essas são algumas das brigadas que necessitam de mais atenção e recursos. Um grupo de brigadistas de Alter do Chão, no Pará, porém, contou com um apoio importante em março. A brigada recebeu ajuda da cantora Anitta, que, ao completar 30 anos, escolheu três instituições para serem beneficiadas por seus fãs: ela pediu que, em vez de presentes, que fossem feitas doações. Foi feita uma vaquinha com a meta de R$ 100 mil. Com o dinheiro arrecadado, a Brigada de Alter preparou mais uniformes e formou novos combatentes. No final de agosto, Anitta escreveu para eles: “Podem ter certeza que o que eu puder fazer, sempre que precisarem e estiver ao meu alcance, eu farei e de coração”.
Vale mencionar também o árduo trabalho de grupos que estão tentando ajudar animais de todas as espécies, vítimas dos incêndios. Um deles é o Onçafari, que publicou em agosto no Instagram: "De janeiro a julho, 1,25 milhão de hectares do Pantanal foram consumidos pelas queimadas, incluindo muitas áreas de reservas do Onçafari. O fogo se espalha rapidamente e a intensidade é tão grande que nem mesmo as ágeis onças-pintadas, capazes de nadar e escalar árvores, estão conseguindo se proteger". A ONG pede doações para continuar em seu empenho de salvar os animais.
Mobilização?
O gesto de Anitta ao apoiar brigadistas não encontrou eco, até o momento, entre outras personalidades. E nem entre marcas. É como se o problema das queimadas não fosse alarmante. Em maio, com as enchentes no Rio Grande do Sul, o mercado de comunicação se mobilizou amplamente. No entanto, nos primeiros dias da tragédia ambiental, o movimento estava bastante centrado em empresas com atuação local. Depois, as marcas se envolveram mais e o país também se uniu em ações para ajudar a população gaúcha.
No caso das queimadas, quase não há ações capitaneadas por empresas que sejam capazes de mobilizar muita gente. Mesmo entidades que carregam a bandeira da sustentabilidade não fizeram posts chamando atenção da população para a crise do fogo – até o momento. O que chega a espantar quando se lembra do buzz provocado por artistas australianos que se engajaram na luta contra os incêndios que assolavam o país em 2020. A atriz Nicole Kidman e a cantora Pink doaram, cada uma, US$ 500 mil. Uma vaquinha foi montada no Facebook e em apenas 48 horas juntou-se o equivalente a US$ 17 milhões. Naquele ano, o fogo destruiu uma área que era o dobro do tamanho da Bélgica e causou mais de 20 mortes.
Há anos, o Festival do Clube organiza painéis que discutem sustentabilidade e crise ambiental. Na edição de 2021, uma das convidadas foi Ane Alencar, diretora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e uma PHD em fogo, com especialidade em desmatamento e queimadas. Perguntada pelo climatologista Carlos Nobre, da USP, quão perto estamos do ponto de não-retorno, ela respondeu: “Algumas áreas da região já ultrapassaram esse ponto, como o Sul da Amazônia, onde a estação seca está três ou quatro semanas mais longa”.
Alertas como este a respeito das queimadas vêm sendo dados há um bom tempo. Se não houver uma maior mobilização para enfrentarmos mais essa crise, o perigo é o Brasil ficar cada vez mais cinza.
E o quadro pode se agravar ainda mais, segundo especialistas. A rede Observatório do Clima pontuou que uma nova onda de calor está chegando. Isso pode intensificar os incêndios nas regiões afetadas e provocar novos focos em outros estados nos próximos dois meses. A entidade defende que o governo e a sociedade incentivem medidas efetivas de mitigação e adaptação. Entre as soluções estão implementar políticas ambientais rigorosas, fortalecer a fiscalização e apoiar projetos que protejam as florestas. "Estamos diante de uma crise que exige ação urgente e responsabilidade de todos", reforçou. O Ibama autorizou a contratação de brigadistas em todas as regiões para ajudar no combate aos incêndios. Mas é preciso mais gente e empresas nessa luta.
A conscientização sobre a gravidade da crise climática que vivemos é fundamental para enfrentarmos com mais recursos situações trágicas como as enchentes no Rio Grande do Sul e as queimadas pelo Brasil. Nesta edição, a 12ª, o Festival do Clube abordará 0 tema "emergência climática" em alguns painéis. Em um deles, o físico e astrônomo Marcelo Gleiser vai falar sobre a valorização do planeta Terra. Também vão participar dessa "trilha" Junior Yanomami (presidente da ONG Urihi e defensor da floresta), Juliano Salgado (presidente do Conselho Diretor do Instituto Terra, fundado por Sebastião Salgado, e diretor de "O Sal da Terra") e Amanda Costa (diretora do instituto Perifa Sustentável), entre outros nomes.
Veja aqui quem já confirmou presença no Festival do Clube 2024.