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Paris e Londres. A Viagem das Meninas
Tenho um casal de filhos gêmeos, Antônia e Theo, de 9 anos de idade. São crianças adoráveis como todas, mas com um jeitão diferente da maioria, por causa do tipo de criação que minha mulher e eu damos a elas. Como os dois nos acompanham em tudo, desde que nasceram, Antônia e Theo são capazes, há muito tempo, de reconhecer o azul do pintor Yves Klein, discutir se o ossobuco do Da Silvano, de Nova York, é tão bom quanto o do Parigi, de São Paulo, ou assistir ao show Toca Lulu, do Lulu Santos, cantando todas as canções, até a 1 da madrugada, sem demonstrar um pinguinho de sono. Tudo isso sem deixarem de ser crianças normais, com direito a muito jogo de bola, Playstation, Lego, bambolê, capoeira, aulas de inglês, francês, guitarra, natação e o dia a dia escolar, com deveres estabelecidos e cumpridos.
Como todos os gêmeos do mundo, Antônia e Theo são superunidos, adoram estar juntos. Mas, no início do ano passado, fizeram uma reivindicação diferente. Pensando na semana do saco cheio, que acontece tradicionalmente em outubro, os dois disseram que, pela primeira vez na vida, queriam viajar separados. Antônia queria viajar só com a mãe, e Theo, só com o pai, numa operação que apelidamos de Viagem das Meninas e Viagem dos Meninos.
Com tudo bem planejado, Theo e eu fomos para San Francisco e Los Angeles, lugares escolhidos por causa da Califórnia, que ele queria conhecer, e da indústria do cinema, que ele adora. Antônia e Patrícia foram para Paris e Londres, porque Antônia queria rever Paris e conhecer Londres, por causa da rainha e do Harry Potter.
As duas viagens foram espetaculares, com detalhes que renderiam horas de papo. Mas, como o tempo e o espaço têm limites, escolhi a Viagem das Meninas, devidamente espionada no diário das duas, para contar a vocês. Patrícia e Antônia foram para Paris e se hospedaram no hotel errado, por culpa delas mesmas. Na verdade, podiam ficar no LHotel, ícone de Saint-Germain-des-Prés, onde morou Oscar Wilde, mas, como deixaram a reserva para a última hora, o LHotel estava lotado e elas tiveram de se contentar com o Lenox, que também fica em Saint-Germain, mas não é a mesma coisa.
No dia da chegada, cansadas com a viagem São PauloParis, elas só comeram uma coisinha no histórico Café de Flore, deram umas voltas em Saint-Germain e foram para o hotel se arrumar para uma noite que prometia ser espetacular, com direito a um passeio pela Place des Vosges, no Marais, e um jantar no LAmbroisie. O LAmbroisie é um dos melhores restaurantes do mundo, e os garçons, impressionados com a elegância e o comportamento de Antônia, que, aos 9 anos de idade, sabia apreciar todos os pratos, incluindo o personalíssimo queijo Rocamadour, no final, acabaram dando um cardápio autografado de presente a ela.
No outro dia, as duas foram para Versalhes. Visitaram o palácio, os jardins com fontes e o Hameau de la Reine, lugar secreto onde Maria Antonieta dava as maiores aprontadas. Depois, voltaram para Paris, para um croque monsieur num bistrot qualquer, visitaram o Louvre des Antiquaires, a loja do genial designer de móveis catalão Jaime Tresserra, e foram se preparar para o programa da noite: um cruzeiro gastronômico pelo Sena, a bordo do Don Juan II. Segundo o Diário das Meninas, o passeio foi uma beleza, mas a comida, uma roubada.
No terceiro dia parisiense, as duas passearam um pouquinho por Saint-Germain, de manhã, e foram à Torre Eiffel almoçar no famoso Le Jules Verne, de Alain Ducasse. Um programaço. Depois do almoço, foram ao Louvre para ver a Mona Lisa, também conhecida no pedaço como La Gioconda, passearam de bicicleta pelo Jardin des Tuileries e fizeram um momento 'peruinhas', olhando as vitrines e o interior da Chanel da Rue Cambon. Da Chanel foram para a Fundação Cartier, ver a exposição do artista australiano Ron Mueck e depois jantaram no Kinugawa, o melhor japa de Paris, para quem realmente entende de japas.
No quarto dia de Paris, elas acordaram tarde, foram tomar café da manhã no Les Deux Magots, fizeram um sinal da cruz
dentro da Igreja de Saint-Germain, entraram na boutique do Dries van Noten e compraram chocolates no Debauve &
Gallais. Tudo isso de manhã. No início da tarde, foram tomar sorvete no Berthillon da Île Saint-Louis, pegaram o metrô para o Beaubourg, onde viram a exposição do Roy Lichtenstein e encontraram a Nina Scheaffer, amiga da Antônia que estava em Paris passeando com os avós. Naquela mesma noite, Antônia, Patrícia, Nina e os avós da Nina jantaram no La Coupole. Não amaram a comida, que, na verdade, nunca foi brilhante, mas amaram o ambiente, sempre histórico e vibrante. Acabado o jantar, as duas foram dormir cedinho, porque no outro dia iam para a Inglaterra no fabuloso Eurostar, o trem que liga a Gare du Nord, de Paris, com a St. Pancras Station, de Londres. Adoraram.
Patrícia e Antônia se hospedaram em Londres no lugar certo, por absoluto mérito delas mesmas. Reservaram com a devida antecedência o Blakes Hotel, em Roland Gardens, de propriedade da designer Anouska Hempel. No primeiro dia, Patrícia e Antônia almoçaram uma comidinha italiana no Carluccios da Fulham Road, visitaram o prédio do Bibendum e foram para a Victoria Place pegar o ônibus vermelho, programa obrigatório para uma marinheirinha de primeira viagem como Antônia. Depois voltaram ao Blakes para uma ducha e saíram para jantar no recém-inaugurado
Balthazar de Londres, que, segundo as duas, é igualzinho ao de Nova York.
No segundo dia, as duas tomaram café da manhã no próprio Blakes e depois saíram direto para a London Eye, a famosa
roda-gigante de Londres à beira do Tamisa. Dali, deram uma paradinha no Aquarium de Londres que é logo em frente, comeram um hot-dog de rua bem rapidinho e foram para a Frieze, a famosa feira de arte instalada no Regents Park. Passaram horas agradáveis na Frieze e, à noite, saíram direto para o Cambridge Theatre, onde foram assistir ao musical Matilda, com direito a música de boa qualidade, muita alegria e jantar after theatre no badaladíssimo Hakkasan.
O terceiro dia de Patrícia e Antônia começou cedinho devido a um compromisso muito importante: uma visita ao Warner Bros. Studio, onde foi filmado o Harry Potter. A visita dura 3 horas e, segundo Antônia, é excelente, com direito a conhecer o grande salão de refeições da escola de bruxos e tirar fotos de Harry Potter voando na sua vassoura. Isso sem falar nas
milhares de varinhas mágicas e máscaras que se podem ver durante a visita. O almoço acontece lá mesmo, com um sanduichinho de salmão bem razoável, e a volta para Londres pode ser de carro, como foi a ida, ou de trem, o que é uma adorável segunda opção. Antônia escolheu voltar de trem, acompanhada das amigas que encontrou por lá: as filhas da Adriana Varejão, da Mini Kerti e da Márcia Fortes. Patrícia obviamente acompanhou a filha.
O quarto dia de Patrícia e Antônia em Londres começou de uma maneira absolutamente infantil: com uma visita à Hamleys, a maior loja de brinquedos do mundo. Dali foram almoçar cedinho no Mash, a steakhouse do momento em Londres, e saíram para caminhar no Soho, atrás de fantasias de bruxa para Antônia para o Halloween, evento que o pai da Antônia, que sou eu, é contra, mas é voto vencido. As duas acharam e compraram a tal fantasia de bruxa numa loja chamada Angels. Passaram a tarde no Soho e, à noite, inspiradas pelas informações da conciergerie do Blakes, foram jantar no Fifteen, um dos restaurantes do badalado chef inglês Jamie Oliver. Antes do jantar no Fifteen, as duas ainda tiveram fôlego para visitar o Victoria and Albert Museum, que fica aberto até as 10 da noite, onde viram uma exposição sobre pérolas, ouviram música pop inglesa e me compraram uma linda gravata de presente.
No quinto dia londrino, as duas acordaram cedinho para dar uma geral na Londres clássica: visitaram o Big Ben, o Parlamento e a Westminster Abbey. Foram ao Picadilly Circus e à troca da guarda no Buckingham Palace. Espertas que são, almoçaram no novo Bar Boulud, que fica no Mandarin Oriental Hotel, em Knightsbridge. Passaram a tarde numa feira de arte e design fantástica chamada PAD, na Berkeley Square, visitaram a Saatchi Gallery, viram uma impressionante coleção de joias na Louisa Guinness Gallery, descansaram um pouquinho no hotel e foram jantar no Zuma, brilhante restaurante japonês na Raphael St. com Knightsbridge.
O sexto dia era o domingo, pede cachimbo, cachimbo é de barro, e as duas ainda tinham que visitar a Serpentine Gallery, passar no Museu de Cera Madame Tussauds, dar uma geral na Tate Modern, ver a exposição da Mira Schendel e almoçar na brasserie da Oxo Tower. Depois disso, seguiram para o aeroporto em direção ao voo de volta para o Brasil, onde, na manhã seguinte, contaram essa viagem para o marido, pai e irmão bem melhor do que eu contei para vocês agora.
Essas meninas são demais.
Washington Olivetto
(o texto acima também será publicado na edição de maio da Revista Viagem e Turismo)
Leia texto anterior do Escaninho aqui.