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O ícone da fase de alta da indústria de games nesta quarentena
Assim como o streaming e as plataformas de videoconferência, a indústria de games vive momentos de alta nestes tempos de quarentena. Que o diga a Nintendo, cujas ações na bolsa de Tóquio subiram 14,7% em março e que teve crescer mais de 10% neste mês.
Outros números mostram como o mercado está em efervescência. O game Final Fantasy 7 Remake, exclusivo para PlayStation 4 (Sony) pelo período de um ano, vendeu mundialmente 3,5 milhões de cópias nos três primeiros dias de seu lançamento, em 10 de abril. A Electronic Arts, dona do jogo Fifa, acumula alta de 3,6% no ano, enquanto a Activision Blizzard, que tem os títulos Overwatch e World of Warcraft, viu o valor de suas ações aumentarem 2,3% em março.
De fato, o setor de um modo geral pode celebrar. Dados recentemente divulgados pela Superdata, uma companhia da Nielsen, indicam que os gastos com games digitais atingiram US$ 10 bilhões em março. Segundo análise da empresa, o consumo desses jogos se tornou uma importante forma de entretenimento durante a crise de covid-19.
No caso da Nintendo, seu sucesso está levando a empresa a uma situação peculiar: ela não está conseguindo atender à demanda. E a principal razão para isso é o game Animal Crossing: New Horizons, um título para o console Switch. Lançado em 20 de março, o jogo é um fenômeno de vendas nestes dias de pandemia, o que permite estabelecer o game como símbolo máximo desta fase superlativa da indústria.
Junto com o novo game, a procura pelo Switch cresceu tanto que está faltando equipamento no mercado. Em fevereiro, a companhia tinha afirmado que achava que teria condições de fornecer os consoles, ante a perspectiva de vendas altas. Mas, com a produção de diversos componentes paralisada na China e a explosão de consumo de games durante a quarentena, aconteceu o que a Nintendo não imaginava: não se encontrava mais Switch nas lojas. Não havia na Target ou Best Buy ou Amazon. Em mercados de revenda, o valor aumentou, com preços 55% acima do normal.
Em março, as vendas do Nintendo Switch tinham dobrado, chegando a 766 mil unidades. O resultado superou com folga os dos rivais PlayStation 4 (315 mil unidades comercializadas) e Xbox One, da Microsoft (277 mil).
Diante desse problema, a Nintendo informou que pretende aumentar sua produção para 22 milhões de unidades neste ano fiscal. Tal quantidade é mais do que a empresa japonesa vendeu nos EUA desde o lançamento do Switch, em 2017, até o ano passado.
Sobre o sucesso de Animal Crossing, é preciso dizer – para quem não sabe do que se trata – que New Horizons é o quinto título do jogo. Não é uma novidade para os fãs da marca, portanto. Mas as vendas da nova edição superaram, logo na primeira semana, as dos títulos anteriores da série, tornando-se o maior lançamento de um jogo sozinho do Switch.
Na verdade, Animal Crossing: New Horizons teve um desempenho ainda mais fabuloso. Um relatório do NPD Group, que divulga números mensais sobre o segmento, apontou que foi o jogo mais vendido em março nos EUA. Lá, foram mais de três milhões de unidades físicas adquiridas desde sua estreia. Vale dizer que, no Japão, os consumidores adquiriram 1,9 milhão de jogos em três dias.
O NPD havia indicado também que a compra de títulos de jogos – de diversas marcas – subiu 34% nos EUA, movimentando US$ 739 milhões (confira aqui).
Porém ainda faltava saber o desempenho da mídia digital. Até aquele momento, o mercado só conhecia os resultados das vendas físicas de Animal Crossing. Esses números mostravam que o título da Nintendo tinha batido franquias como Call of Duty (Activision Blizzard) e Fifa nos EUA. Apesar da falta de dados digitais, já se sabia que New Horizons era o segundo game mais vendido deste ano no mercado americano: o primeiro lugar estava com Call of Duty: Modern Warfare 2019.
Até que saiu o resultado das vendas digitais de março nos EUA, revelado pela Superdata. O relatório indicou que New Horizons vendeu cinco milhões de unidades nesse formato desde que chegou ao mercado (veja mais detalhes aqui). É o recorde de vendas digitais entre os games para consoles em seu período de lançamento. A marca anterior pertencia a Call of Duty: Black Ops 4.
E o que há de tão incrível no novo título da série? New Horizons leva o jogador a transformar uma ilha deserta em um paraíso que possa receber visitas de animais fofos e com cara de gente e mesmo de avatares humanos (que são personalizados e vestidos conforme o gosto). Ao tornar a ilha um mundo mais interessante, o jogador pode ganhar dinheiro – para ser usado nesse universo -, fazer trocas, plantar novas culturas e até montar um museu. É um mundo lúdico, que pode ajudar a atravessar a dura realidade imposta pelo novo coronavírus.
Aproveitando-se das possibilidades do game, um museu de verdade, de Los Angeles, criou uma ferramenta para os jogadores. Por meio de um site, o Getty Center disponibilizou o Getty Animal Crossing Art Generator. Interessados podem selecionar uma obra de arte entre as mais de 70 mil que fazem parte de sua coleção para que o jogador a leve para sua ilha e tenha a sua própria galeria. Gera-se um QR Code para a imagem escolhida ser aplicada via Nintendo Switch Online.
Outra instituição da Califórnia, o Monterey Bay Aquarium, decidiu também aproveitar a popularidade do game da Nintendo para apresentar informações sobre animais e fósseis – no jogo, é possível cavar em busca de fósseis. O aquário entrou no jogo e tem sua ilha e seu museu (clique aqui para ler mais no Twitter).
Da mesma forma, pode-se usar QR Codes para que os avatares apareçam com diversos looks, inclusive os que imitam os de grifes como Chanel e Gucci. O nível de personalização das roupas é tão profundo que até mesmo estilistas estão desenhando peças e exibindo suas criações em redes como Instagram.
São exemplos assim que mostram como o jogo da Nintendo tornou-se uma porta de entrada para marcas, como declarou Moshe Isaacian, estrategista de social do Laundry Service, ao site The Drum (leia aqui). "Animal Crossing é um ótimo lugar para as marcas estarem porque é onde as pessoas encontram tempo para escapar da realidade durante esses tempos difíceis".
Como dito anteriormente, o Animal Crossing é um fenômeno de popularidade, mas o setor inteiro de games está atraindo o apetite de investidores. Um analista da Easy Equities, Barry Dumas, reportou que a quarentena impulsionou a indústria de games para outra estratosfera. “A transmissão e a exibição de e-sports aumentaram, pois os principais eventos foram feitos online. Isso colocou a Activision Blizzard e a Electronic Arts de volta aos holofotes”, escreveu.
A questão é saber como se comportará este mercado quando os dias de quarentena ficarem para trás – informação que, ressalte-se, não é possível precisar até este momento.
Lena Castellón