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Festival do CCSP 2013

Porta dos Fundos: "Existia espaço para conteúdo humorístico ousado e inovador"

23.09.13


O Festival do CCSP recebeu na tarde do domingo, 22, três integrantes do Porta dos Fundos, grupo humorístico que, em pouco mais de um ano, alcançou, usando como veículo a internet, sucesso estrondoso entre o público brasileiro.



Antonio Tabet, Gregorio Duvivier e João Vicente de Castro foram entrevistados pelo diretor de criação da Ogilvy, Fabio Seidl, no palco principal do Memorial, com a sala completamente lotada, e começaram a conversa explicando as possíveis razões para o tremendo êxito.



De acordo com análise do grupo, existia um buraco pronto para ser ocupado por um conteúdo humorístico mais ousado, próximo da realidade do público e realmente inovador. "Percebemos que existiam pessoas abertas para consumir um tipo diferente de humor e que não acontecia algo realmente novo neste território, nada se distanciava dos clássicos bordões humorísticos. Resolvemos então ocupar esse espaço vazio", conta Antonio Tabet, que é também o criador do Kibe Loco e, assim como João Vicente, trabalhou anteriormente em agências do mercado publicitário.



Como premissa, além de muita criatividade e auto-crítica constante, é palavra de ordem fugir de fórmulas já estabelecidas. "Não fazemos anedotas ou piadas tradicionais. Nossa meta é sempre buscar originalidade", diz Gregorio. João Vicente destaca outro ponto fundamental: "A verdade é que nunca subestimamos o público”, diz ele.



Durante a conversa, Tabet explicou que, desde o começo do projeto, houve a opção pelos vídeos curtos, com muita ironia e até 'pesando a mão' em alguns momentos, capazes de chacoalhar o público. Este foi considerado o modelo perfeito para transitar pela internet, lugar único para expressar  ideias com liberdade e ousadia (e, no início, com pouca grana).“Tentamos apresentar algo distante do humor da TV convencional, cheio de regras, do 'politicamente correto', de restrições”, comenta Antonio.



O estilo do grupo é uma mistura de várias referências e linguagens. Por ter uma composição bastante heterogênea, o Porta consegue reunir variadas inspirações, vindas da formação e das preferências de seus integrantes - de seriados norte-americanos contemporâneos e desenhos animados a gibis e Charles Chaplin.



O processo criativo para compor os roteiros começa com uma reunião no início da semana, onde os integrantes levam aproximadamente dois textos cada para serem discutidos. “A gente se reúne e decide o que vai virar vídeo. Em geral, de dez roteiros criados e apresentados durante nossos encontros, três são selecionados - eliminamos todos aqueles que não fazem a gente rir muito, de cara”, diz Gregorio.



Quanto ao fato de fazerem comumente críticas às marcas de grandes corporações, João Vicente explica: "As marcas fazem parte do nosso dia a dia, muitas delas nos desrespeitam ou incomodam e não poderíamos ignorar essa realidade".



Quanto à participação do grupo em campanhas publicitárias, já considerada excessiva por alguns, João comenta: “Temos bom senso para lidar com a publicidade. A agência ou o cliente chegam com uma demanda e nós criamos duas opções de roteiro. Se eles não forem aceitos, a gente abre mão do trabalho, porque é fundamental manter nossas características, a essência do nosso humor, mesmo se tratando de publicidade". diz João Vicente. Quanto ao excesso, eles brincam: "O Fábio Porchat deve estar protagonizando umas 132 campanhas, no momento. Mas nós estamos apenas em uma ou duas, aguardando mais convites".



"Mas vocês estão abertos a fazer campanha até mesmo para marcas nas quais metem o cacete?", pergunta o moderador. "Não, temos uma lista de marcas que criticamos fortemente e para as quais não vamos trabalhar. Já fomos até convidados por algumas delas. Mas aí é incoerência demais. Não faremos nunca".



Sobre o humor na publicidade, Gregório diz que a propaganda tende a cair no mesmo erro da TV, que é o do medo de ousar. “As empresas estão sujeitas a uma legislação rigorosa e sob regras de departamentos jurídicos muito medrosos. Com isso, a lista de 'dont’s' inclui geralmente exatamente aquilo que a gente gosta de usar para fazer humor”.



Na contra-mão desse conservadorismo, João Vicente cita a cerveja Itaipava, que tem coragem de ousar e anuncia no espaço que antecede os vídeos do Porta, que de politicamente corretos não têm nada.



Nos planos do grupo está um filme para cinema, que seria lançado neste ano mas foi adiado para 2014 porque o grupo, depois de iniciar a produção, achou que o projeto não havia atingido o grau de qualidade e inovação que deveria. "Derrubamos a produção, o que não foi uma decisão simples, mas preferimos fazer isso agora a ter um longa cujo resultado final não nos satisfaria", contou Gregório.



Outra empreitada da turma é a internacionalização de seus conteúdos humorísticos. "Em Portugal, mesmo com a 'barreira da língua' (risos), já temos uma bela entrada. Estivemos lá uma vez e vamos voltar agora, para ver o que rola", comenta Gregório.



Sobre a possibilidade do Porta dos Fundos ter vida curta diante de um cenário de mídia que muda e descarta produtos rápida e constantemente, o grupo ressalta que não tem medo do desgaste da fórmula e que de forma alguma pensa no fim: "Minha vó tem uma frase, que não é dela, mas que ela sempre dizia: 'quem tem competência se estabalece'". E Gregório completa: "Estamos sempre nos reinventando, somos profundamente críticos, relemos roteiros várias vezes, nos policiamos todo o tempo para não deixar nosso trabalho se pasteurizar ou virar algo gratuito ou com fórmula e bula".



Tabet fala do público que conquistaram: "Quando começamos, tínhamos a preferência da classe A, e, pasmem, de pessoas acima de 50 anos. Mas em pouco tempo fomos ampliando esse target e agora estamos bombando nas classes de A a D e com uma ampla faixa etária".



Entre as perguntas formuladas por Fabio Seidl estava esta: "Existe humor sem sacanear alguém? Resposta dos três: "Não, se algo ou alguém não for sacaneado não há humor. Mas procuramos não sacanear frequentemente os alvos mais fáceis, mais frágeis digamos, e comuns, como gays, mulheres, religiões africanas etc. É muito mais dificil atacar o que não é minoria, porque o massacre de camadas maiores da sociedade vem com tudo sobre a gente. Mas preferimos fazer assim".













 


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