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O futuro é feminino?
Cinco profissionais muito bem relacionadas, com carreiras sólidas e de fala clara, comandaram um bate-papo sobre o espaço da mulher, não só no mercado publicitário, mas no mundo. A apresentadora Marina Person, a atriz Leandra Leal, e as executivas Gal Barradas (BETC), Andrea Siqueira (DC da Africa Zero) e Luciana Rodrigues (Turner) trocaram ideias sobre posicionamentos e filosofias e chegaram à conclusão de que, mesmo em um mundo machista, o conhecimento e a competência podem fazer a diferença na vida e na carreira de uma mulher.
Logo no inicio foi exibido um trecho do seriado Veep, e Leandra Leal pontuou: "Exibir este trecho me incomodou, porque o modelo de profissional de sucesso da personagem da atriz Julia Louis Deyfrus é histérico e não acho este um modelo bacana de mulher".
Partindo deste gancho, as integrantes da mesa falaram deste 'ideal masculino' de competitividade, que era o que se conhecia nas empresas, versus características mais femininas de gestão, como a capacidade de ouvir, de ser mais tolerante, mais compreensiva.
“Em relação a salários, ainda estamos muito longe de ser iguais aos homens”, afirmou Leandra, ao citar um estudo que diz que apenas em 2085 os rendimentos serão equiparados. “Mas não podemos desanimar”, reiterou. A atriz contou que, até bem pouco tempo atrás, existia apenas uma mulher com o cargo de Diretora de Núcleo na Rede Globo. “Hoje, esse número está maior, pois nós vamos mostrando, pouco a pouco, a nossa capacidade. Mas se formos para o lado do cinema, dos 24 longas que já fiz na vida, em apenas um deles fui dirigida por mulher, ou seja, a representatividade ainda é muito pequena”, pontuou.
Marina Person completou a informação dizendo que no Festival de Cinema de Toronto, que aconteceu na semana passada, no Canadá, as diretoras de cinema mulheres não ultrapassaram a casa dos 3%, Nem nesta edição, nem nunca.
Andrea Siqueira disse que pesquisa da revista Fast Company mostrou porcentagem igual (3%) para as líderes de criação nas agências norte-americanas. Ela afirmou não saber se, no Brasil, a porcentagem é a mesma, mas apostou que sim. Se não for ainda menor. "Eu conheço todas e as posso contar nos dedos", brincou. Quando perguntada sobre o motivo pelo qual isso acontece, disse achar que é algo cultural, mas que está se transformando. Luciana Rodrigues contou que, antes do debate, consultou escolas de criação como MiamiAdSchool e Cuca, e descobriu dados animadores: "Hoje, há classes de criação com mais mulheres do que homens, realidade que não existia até pouquíssimo tempo atrás. Este fato é muito revelador", comemorou.
Algumas vozes, no entanto, estão falando ainda mais alto: a atriz Patricia Arquette, por exemplo, virou notícia quando roubou a cena na cerimônia de abertura do Oscar com seu discurso em favor da igualdade de salários entre homens e mulheres. Na ocasião, ela foi aplaudida de pé pelos presentes e sua fala foi fortemente repercutida na internet.
E a atriz com mais de 50 anos? Que papeis sobram para ela? Segundo Leandra, só de tia, avó, dona de pensão. "Parece que a mulher depois dos 50 não tem espaço para mostrar sua beleza, sua sensualidade, sua capacidade de conquista. Parece que nem transar mais ela pode", sublinhou a atriz. "Já o homem, ao contrário, tem cada vez mais destaque e importância, pega meninas, fica grisalho e charmoso, enriquece. Enfim, para a mulher é um massacre".
Sem falar em toda a 'agenda' exigida à mulher: estar linda (leia-se magra), boa mãe, super esposa, mega bem informada, sempre no salto, excelente profissional e amiga para todas as horas.
Para ficar apenas no mundo prático do mercado de trabalho, mais especificamente dentro do setor da propaganda, a questão que fica é a necessidade urgente de se rever modelos e descobrir respostas para perguntas como: “Quem é a mulher de hoje? O que ela quer? Quais são seus gostos?”, destaca Gal Barradas.. "Mesmo porque, sem essa real definição, é impossível tocar a mulher de forma verdadeira. Que mulher se enxerga desse jeito estereotipado?", perguntou Luciana Rodrigues.
Ainda sobre a questão de falta de representatividade, a discussão foi parar no Coletivo 65|10, grupo de publicitárias criado para discutir o machismo na propaganda. Segundo ele, 65% das mulheres não se identificam com a forma como são retratadas na publicidade (leia mais sobre o Coletivo aqui).
Fato: a mudança precisa acontecer. Mas a questão que fica é: como fazer isso? Provavelmente, usando microfones como estes da mesa, mas também mudando a postura nos pequenos gestos do dia-a-dia. E lembrando, como destacou Leandra, que, quem cria os homens e os ensina a respeitar ou não as mulheres são as próprias mulheres.
Quando os microfones foram abertos para perguntas, as opiniões estavam em sintonia com as das mulheres do palco. “A mulher ainda é muito deixada para escanteio. Como vocês disseram, quase não existem diretoras de criação mulheres”, pontuou uma estudante, que já trabalha em agência e busca essa posição.
E esse é um fenômeno mundial: o Cannes Lions, por exemplo, sempre recebe críticas por quase não haver mulheres nos seus júris, tanto que já criou uma espécie de cota velada, para que os países sejam obrigados a mandar mulheres para avaliar trabalhos na Riviera e diminuam as críticas.
“O engraçado é que os caras fazem uma propaganda extremamente machista sendo que o público-alvo é a mulher”, criticou Marina Person. “Me lembro de uma campanha da Hope, com a Gisele Bündchen (me desculpe se o criativo estiver aqui na sala), onde ela chegava para o marido de calcinha e sutiã e o avisava que tinha estourado o limite do cartão de crédito. E ele, ao vê-la naqueles trajes, meio que não ligava...”, conta. “Eu fiquei me perguntando para quem aquele filme tinha sido feito”, finalizou.
Renata Batochio
Serviço:
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