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Produção de som: uma 'era de oportunidades'
"Quando a trilha não é vista no primeiro plano em um comercial, é porque está cumprindo o seu papel". Essa foi uma das constatações do painel "Liberdade Criativa na Produção de Som", que aconteceu no Festival do Clube de Criação. Mas também é verdade que a música está ganhando mais importância na comunicação, inclusive como fio condutor de uma ideia. Não é sempre, mas acontece.
“Vivemos uma era de ouro para a produção de áudio”, afirma Chris Jordão, sócio e produtor musical da Quiet City. Ele se refere aos inúmeros formatos que surgem todos os dias e à explosão do conteúdo para streaming, que precisa de serviços como áudio, trilha e mixagem. "É verdade que a remuneração não cresceu na mesma proporção, mas é uma era de oportunidades", disse ele. Inclusive para profissionais que tem seu estúdio em casa. É fato que a estrutura de uma produtora ainda dá tranquilidade para agências e clientes durante um processo. Mas com o acesso cada vez mais fácil a bons equipamentos, os profissionais talentosos têm muita chance de se destacar trabalhando em home studio. Ou mesmo como parceiros das produtoras maiores em entregas para branded content, por exemplo.
A tecnologia de fato mudou o universo musical. Se antes uma ideia poderia ser barrada pela falta de recursos, hoje um computador pode resolver qualquer problema. E aí, o que faz mesmo a diferença é a criatividade. "Vale o que está na sua cabeça", diz o produtor musical da Mugshot, Mauricio Herszkowicz.
"Nosso trabalho é um exercício constante de encontrar soluções", pontua o mediador da mesa e produtor executivo da Sonido, Evandro Neiva. Ele citou um estudo sobre criatividade que comprova que desafios constantes encadeados, como o cotidiano da publicidade, torna o ser humano mais capaz e criativo. "O exercício traz no seu resultado uma experiência que será usada no próximo desafio", explica.
O erro é outro fator essencial para a evolução da criatividade. "É preciso se libertar do apego e entender que ter um trabalho ‘gongado’ é parte natural desse processo", diz Cris Pinheiro, sócio e produtor musical da Punch Áudio. Sem falar nos “acidentes”, como pisar no pedal errado e descobrir o timbre perfeito ou puxar uma trilha para o lugar “errado” na hora da edição e perceber que funcionou melhor. Aliás, nesse caso eles fizeram questão de dar o crédito para a “Nossa Senhora do Sinc”, muito conhecida no meio. Lembraram também que experiência faz muita diferença, mas é preciso ter sempre jovens por perto, com a permissão de experimentar e errar.
Mas como se permitir errar com pautas tão cheias e deadlines tão apertados?
“A falta de tempo pode ajudar. Com muito tempo disponível você tende ao racional e endurece suas ideias”, ressalta Janecy Nascimento, maestrina da Loud. Não que uma produção de áudio não exija tempo. “Precisamos dele, por favor!”, foi o coro do painel. Mas as limitações podem ajudar também.
Pinheiro lembra que é preciso gostar do que faz e definir o que se quer fazer. “Mesmo sem tanto dinheiro, eu faço animação porque eu gosto”. Para ele, no entanto, fazer longas e séries não foi a melhor experiência. “Você não tem a agilidade da publicidade. Um longa pode ficar na casa por seis meses, nada se resolve nunca, e a grana não é tão boa. Decidi ficar com a publicidade”.
Existe sempre o mundo ideal, como o envolvimento dos produtores de som no pré-roteiro, ou ter tempo e a confiança dos criativos para trabalhar com liberdade. Mas é raro.“Nosso trabalho costuma ser produção de trilha sob encomenda, linkando imagem e briefing. E isso não significa que não podemos criar em cima disso”, orientou a maestrina, que adora quando pode tirar toda a trilha de um filme, olhar para as imagens e deixar que elas falem. “É lindo”.
Janecy trabalhou com música para o teatro e orquestra, inclusive em escolas Waldorf, e lembra que trazia umas referências consideradas bem diferentes quando chegou na publicidade. E isso agradava bastante.
Mas é possível e necessário beber em diferentes fontes todos os dias. “Em um dia você trabalha com uma música orquestral, no outro chega um job para metal extremo, depois tem que focar no funk carioca”, lembra Edu Luke, fundador e produtor musical da Hefty Áudio. Os novos formatos também levam a novas descobertas. “Às vezes precisa tirar algo de referências que chegam muito prontas e pelas quais o diretor de cena e a criação já estão muito apaixonados”, disse. Ou mesmo aprender com formatos. “Até gif já pediram para sonorizar”, lembrou.
“Muitas vezes vão exigir que você chegue muito perto de uma referência. Por isso, prefiro investir tempo criando as minhas próprias referências antes mesmo de começar a trabalhar na produção. Se gostarem, parte do trabalho já está pronto”, ressaltou Chris Jordão. Mas também podem não gostar e você assume o tempo investido. Ele começou a carreira nos Estados Unidos e lembra que lá chegava a criar 25 versões para uma mesma trilha.
Edu Luke destacou, no entanto, que o Brasil é um dos únicos países onde as produtoras de áudio fazem a entrega toda. No exterior, em geral, há produtoras específicas para cada parte do processo. Por isso também as estruturas são mais completas nas produtoras brasileiras, que contam com especialistas internos para cada área.
"As produtoras estão no processo de virar agências de música. Já oferecemos licenciamento, fazemos parcerias, e vamos acumulando competências que nos capacitam a direcionar a produção musical por completo. Fazemos muito mais que a trilha", garantiu Herszkowicz. Segundo ele, a parceria com artistas tem sido um desafio gostoso de enfrentar e traz renovação e novas perspectivas para a produtora.
Rita Durigan