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Festival do Clube 2021

Pluriversalidade e novos olhares na abertura do evento

22.09.21

A importância da criatividade, sob os mais diferentes prismas e olhares diversos, perpassa os temas dos painéis e debates que fazem parte da ampla programação da edição de 2021 do Festival do Clube de Criação, que acontece nesta quarta (22) e quinta-feira (23), pela primeira vez em formato híbrido e gratuito, com transmissão ao vivo pela plataforma Globoplay (aqui você pode clicar nos links para acompanhar o conteúdo).

Divididos em duas salas, os 47 painéis não ficam circunscritos ao limite dos assuntos referentes à indústria publicitária, mas abraçam a economia criativa de modo mais amplo e aprofundado, propondo também reflexões sociais e ambientais, ao colocar holofotes em grandes discussões e preocupações globais da atualidade (confira a programação completa aqui).

Para abrir as atividades, Joanna Monteiro, presidente do Clube de Criação de São Paulo e CCO da Publicis Toronto, destacou que se trata de um “momento de mudança e transformação para todo o mercado”, além de ressaltar a importância deouvir, evoluir, aprender e mudar”. “O Festival do Clube foi criado justamente para ser esse espaço de discussão das atividades do mercado e o que vem por aí. Conversas difíceis, verdadeiras e fundamentais para todos, para gente se reunir, escutar, mudar e agir, que é o principal”.

Neste contexto, a presidente do Clube ressaltou a conversa que seguiria sua abertura, entre Egnalda Côrtes, changemaker e CEO da Côrtes, e Aza Njeri, criadora de conteúdo digital, doutora em literaturas africanas e pós-doutora em filosofias africanas, logo no começo da edição de 2021 do Festival (leia aqui e mais sobre foi o painel "Verdades Expostas", abaixo).

Joanna também pontuou o encerramento da atual gestão do Clube de Criação, lembrando que foi um ciclo de dois anos difíceis, com muitos desafios potencializados por conta da pandemia de Covid-19 e que todos enfrentaram situações inéditas até então. "Somos uma ONG formada por publicitários com a missão de fomentar e ajudar a formar. Nós existimos para apoiar e garantir que nossa profissão siga valorizada e mais plural”, reforçou.

Entre os projetos destacados por Joanna como parte de sua gestão estão o Clube Portfólio, realizado em parceria com o Lab Periféricas (leia aqui), no qual oito meninas de universidades de periferia receberam dicas para tornar seus portfólios mais competitivos; o Clube + Vozes (aqui), projeto que cedeu o perfil do Clube no Instagram para 26 profissionais pretos compartilharem suas histórias, entre os meses de junho e setembro de 2020, em três etapas; o Clube Insights (leia aqui), 16 encontros virtuais, via Zoom, abertos para todos, com grandes nomes da publicidade e entretenimento; Clube Conversa (veja o primeiro da série aqui), um bate-papo da presidente do Clube com profissionais do mercado, pensado para aproximar ainda mais a entidade dos profissionais de marketing das empresas anunciantes; e o Clube Tech, em parceria com a Figtree & Co. (aqui), um curso de inteligência artificial e inteligência emocional – como resultado, dois dos participantes foram contratados pela empresa. Ela falou ainda sobre o júri do Anuário, que em 2020 e 2021 foi montado com 50% mulheres, 50% homens e 30% de profissionais pretos, em média.

Além disso, a presidente anunciou a iniciativa “Indique um Sócio”: cada sócio da entidade vai poder indicar um novo sócio de forma gratuita, com o objetivo de ajudar a fomentar a diversidade. “Pretendemos ter o dobro de sócios, com uma representatividade importante, que precisamos para fazer um Clube melhor”. Para indicar, envie um e-mail para clubedecriacao@clubedecriacao.com.br, com o assunto “Indique um Sócio”.

Verdades Expostas

Em seguida, como já havia adiantado Joanna, duas “não-publicitárias” - Egnalda Côrtes e Aza Njeri - trouxeram perspectivas para que todos busquem abraçar um olhar pluriverso, evidenciando que a agenda ocidental é uma possibilidade dentro de diversas outras pluripossibilidades.

Eu não falo só de inclusão, falo de capital, de economia. Ter pessoas negras na sua empresa pode render 30% mais de lucro, segundo dados da consultoria McKinsey. No Brasil, 54% das pessoas são pretas e consomem R$ 1,7 trilhão por ano”, pontuou Egnalda, depois de se apresentar e falar um pouco sobre sua empresa, a Côrtes e Cia., primeira agência de influenciadores negros da América Latina, lançada em 2015.

A profissional, que se autodenomina “matrigestora por devoção”, destacou que sua parceria com o Clube de Criação não é de hoje e que agora segue como consultora da entidade e conselheira permanente. Sobre o “filme nebuloso, triste caótico e sombrio” aprovado pelo Clube, Egnalda afirmou que se trata do “alterego do mercado publicitário”. “É o que de fato o mercado publicitário pensa, mas não admite porque é feio, é crime. Ensinaram que você chegou lá porque você merecia ou porque seus pais tiveram acesso. Mas você tem que rever sobre seu privilégio”, alertou. “Esse medo pode trazer inovação se você abrir seus olhos, sua criação, seu poder de acesso para colocar pessoas negras em lugares de poder. Mais uma vez, estou falando sobre uma responsabilidade social, mas também sobre resultados”, completou. “Essa construção precisa ser nossa, o convite é para todos. Ousadia vai ter que existir, precisa ser incômodo para poder sair o novo”, defendeu.

Aza Njeri explicou por que as pessoas a chamam de “acendedora de sóis”. “Todo ser humano é um sol vivo e é nossa responsabilidade acender esse sol. A arte de ser um sol vivo e acender o sol do outro é uma responsabilidade comunitária daqueles que fazem parte da indústria cultural, não só da perspectiva antirracista, mas também do ensolaramento da população dessa constelação solar, em vez de um abafamento dessas pessoas”, refletiu. “Jogando um pouco de dendê nessa conversa: é preciso furar bolhas. Pensar em como conseguir pensar outras possibilidades de filosofias, éticas e estéticas dentro dessa indústria e mostrar que a agenda ocidental é apenas uma possibilidade dentro de um universo de pluripossibilidades”.

Aza lembrou que o modelo civilizatório é essencialmente anglo-europeudois pilares principais - capital e indústria cultural - abarcam as sociedades ocidentalizadas. Neste contexto, ela observou que o Brasil não é Ocidente, mas “performa a categoria ocidental de América Latina”, com capital e indústria cultural calcados no “modelo hegemônico de Ocidente”, caracterizando-se como uma sociedade “ocidentalizada”.

O Ocidente segue fundamentalmente três pilares: judaico-cristão (ideia da singularidade da verdade), greco-romano (noção de sociedade, democracia, educação, imperialismo, colonialismo), e iluminista (a "razão" como critério último, fragmentando e contrapondo razão x emoção, bárbaros x civilizados etc). Segundo a acadêmica, o Brasil alinha-se a esse “tripé ético-filosófico”, sendo uma “cópia mal diagramada” da hegemonia ocidental.

Dentro deste modelo de poder ocidental, o “Senhor do Ocidente” - o arquétipo daqueles que regem a supremacia ocidental - é um homem branco, cisgênero, hétero, patriarcal, morador do eixo norte do globo (portanto, não é latino-americano), com poder financeiro, político, linguístico etc. Ela citou o personagem interpretado por Leonardo DiCaprio em “O Lobo de Wall Street”, Jordan Belfort, como a “metáfora cinematográfica” deste “Senhor do Ocidente”. “Todos nós somos considerados ou desconsiderados numa escala filosófica da humanidade que tem como modelo o ‘Senhor do Ocidente’, à medida que você se distancia ou se aproxima dele”, explicou Aza.

Ela acrescentou que a população negra no Brasil só entra em consideração nessa escala se fizer negociações severas, e que a indústria cultural ajuda a construir tudo isso. “O Brasil é a maior diáspora africana do mundo, com 56,10% de população afrodescendente, sendo o segundo maior país de população negra do mundo, só perdemos para a Nigéria”, salientou. “A negociação deve ser nos nossos termos, a partir da nossa agenda: o brilho do nosso sol é inegociável, a fé na vida é inegociável. Eu nego a diversidade porque ela parte da centralidade do ‘Senhor do Ocidente’ e eu não sou e não almejo ser o Jordan Belfort”, explicou Aza.

E convocou: “precisamos pensar em qual é nossa responsabilidade para a pluriversalidade de agendas. Como os criativos, produtores, dentro da indústria cultural, aqueles que têm poder para dar uma guinada, podem ampliar seus horizontes e perceber que somos reflexo não do universo, mas do multiverso”.

Valéria Campos

Espie a programação completa do Festival do Clubeaqui.

Para acompanhar o Festival ao vivo e de graça escolha sua sala por aqui.

Serviço
Festival do Clube de Criação
Quando22 e 23 de Setembro de 2021
OndeGloboplay
InscriçõesSympla
Hosted byClube de Criação
www.clubedecriacao.com.br
Fone: 55 11 3034 3021
Whatsapp: 11-93704-2881

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