Festival do Clube 2021

Até não muito tempo atrás, o chamado anúncio com fundo visual era uma peça publicitária na qual a direção de arte representava a própria ideia a ser passada. Atualmente, ela é parte essencial da concepção de uma campanha. Passou de instrumento tático para ferramenta estratégica. Para o diretor de arte, fotógrafo e editor João Linneu, a disciplina evoluiu, incorporando uma visão de design, mas perdeu um pouco da característica de conter uma grande ideia em si mesma.

“Hoje, o manifesto da marca vira um texto de anúncio, um post de mídia social, está na voz do embaixador da marca. Assim também a direção de arte amadureceu, no sentido de termos pensamento de design aplicado a ela”, analisou Linneu, que se dedica à sua editora de livros de fotografia, a Void, e à “célula de criação” Plant, em parceria com também diretor de arte Bruno Oppido.

A dupla participou do painel “Caminhos da direção de arte e da fotografia: um paralelo entre o Brasil e o mundo”, na companhia da diretora de criação da Africa, Sophie Schonburg; do diretor de cena da Delicatessen e sócio da consultoria Other Guyz, Fernando Nobre; e do diretor de criação e head de arte da Saatchi & Saatchi Londres, Rodrigo Castellari.

Afastado da publicidade desde 2014 e hoje morando na Islândia, Linneu contou que, ao retomar o trabalho de publicitário com a Plant, sentiu-se acordando de um coma profundo para um novo mundo, no qual os jovens diretores de arte têm muitas referências, mas pouco conteúdo.

“Tudo é referência para a direção de arte – uma capa de disco, um pôster, a frase no para-choque do caminhão. Quando entendi isso, foi meu momento mais criativo. Comecei a pensar mais conceitualmente e menos em fazer um anúncio bonito”, lembrou.

Para seu parceiro Bruno Oppido, os melhores trabalhos são fruto da união entre conceito e beleza. “A magia acontece quando essas duas coisas se encontram: quando se chega em um sistema de design, mas ele é pautado em cima de algum conceito. Porque não basta ter um sistema lindo, tem que ter uma razão para estar usando aquilo”, argumentou.

Na mesma linha, Sophie Schonburg defendeu que a direção de arte agora tem um papel maior dentro da comunicação das marcas. “Ela é algo muito mais amplo. Está em filmes, em fachada de loja, em como a marca se comunica em todos os pontos de contato. Hoje, a direção de arte é mais fluida. Ela tem que acompanhar a trajetória da marca em sua totalidade, fazer parte da narrativa da marca.”

Por outro lado, no que diz respeito à publicidade, ainda há uma visão de que as imagens devem ser perfeitas. O fundador da Void considera isso uma verdadeira “bola de ferro” e lembra que o público está acostumado a imagens não tão perfeitas, postadas todos os dias nas redes sociais. Por isso, ele decidiu incorporar as imperfeições ao seu trabalho, como forma de fazer as pessoas se identificarem com o que estão vendo.

“Nos anos 1990 queríamos atingir um nível divino de perfeição na fotografia publicitária. Hoje entramos em outro momento, de tentar trazer uma coisa um pouco mais orgânica, analógica, manual”, concordou Fernando Nobre.

Rodrigo Castellari lembrou da postura questionadora e crítica que Linneu adotou em certo momento de sua carreira e como isso ajudou a trazer mudanças. “O João liderou um movimento de desconstruir a direção de arte ou, pelo menos, de fazer de um jeito diferente, usando mais o background de design gráfico. Mas essa referência também acabou se esgotando. Antes era a ideia visual, uma imagem que passava uma ideia, e passou a ser só beleza meio vazia, sem conceito”, analisou. Para ele, as marcas têm sua parte de responsabilidade na medida em que não se comprometem com conceitos mais palpáveis.

Eliane Pereira

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Serviço
Festival do Clube de Criação
Quando: 22 e 23 de Setembro de 2021
Onde: Globoplay
Inscrições: Sympla
Hosted by: Clube de Criação
www.clubedecriacao.com.br
Fone: 55 11 3034 3021
Whatsapp: 11-93704-2881

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