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O sonho de dormir bem em um mundo marcado pela crise
A ansiedade, a privação do convívio social por causa da pandemia, o medo da contaminação e o adoecimento de pessoas conhecidas geraram situações de estresse que impactaram tremendamente o organismo humano. É o que diz o neurocientista Sidarta Ribeiro, vice-diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que esteve no Festival do Clube de Criação 2021. No painel “Sonhos e decepções em um mundo pós-pandêmico”, ele foi entrevistado pela jornalista Cilene Pereira, editora de saúde na Veja.
Sonhar é um assunto que vem merecendo especial atenção nestes tempos. “Modificações bioquímicas e fisiológicas afetam o sono, reduzem a atenção, a consolidação de memórias e o processamento emocional”, advertiu.
De acordo com o professor, não há saída para a pandemia na dimensão da competição e da falta de solidariedade. Sidarta afirma que existem meios de mitigar a ansiedade e a depressão com práticas meditativas, mas que é preciso que as pessoas reaprendam a sonhar com roteiros coletivos. “Se não formos capazes de sonhar na frequência do grupo, aí se reinstala a lei da selva”, refletiu.
“As pessoas reclamam da duração e da qualidade do sono: o que fazer para mudar esse padrão”, indagou Cilene. Para o professor, é preciso rever a ideia que temos hoje do sono, considerado como a parada inevitável quando somos totalmente tomados pela exaustão.
“O sono precisa ser valorizado, precisa ser precedido de um ritual, com tempo adequado, sem tela luminosa ligada, sem álcool, sem a ingestão habitual de drogas indutoras”, afirmou. “Porque o sono ruim leva à saúde precária, a problemas de memória, a falta de concentração e a outras graves enfermidades”.
Sidarta lembrou que nossos antepassados compreendiam que a noite era o tempo natural do descanso, da reposição de energias, da reorganização mental, hábito que perdemos com o surgimento da luz artificial e das novas tecnologias, especialmente aquelas do entretenimento.
O neurocientista explicou que a falta de sono e o sono de má qualidade afetam gravemente o aprendizado. “Estudos provam que uma soneca depois da aula, na escola, ajuda na retenção do aprendizado”, disse. Cilene perguntou sobre a relação entre exercícios físicos e sono. Para o professor, o ideal é que essas atividades sejam praticadas pela manhã ou à tarde. Se ocorrerem à noite, o ideal é que sejam praticadas mais cedo. “Em caso contrário, há complicações hormonais enormes, pois o corpo precisa de um período de aquietamento antes de dormir”.
O pesquisador advertiu que o tempo da pandemia deve servir para que as pessoas reorganizem suas rotinas e procedimentos. “Ainda temos sonhos negativos, herança de nossa ancestralidade, quando éramos a presa no mundo selvagem”, lembrou. “Hoje, temos outras fontes de estresse, de pressão, como o indivíduo que tem um bilhão na conta bancária e dorme preocupado em obter outro bilhão”.
Segundo Sidarta, repensar nossas prioridades e objetivos de vida é fundamental para um sono melhor e para sonhos que nos inspirem a solucionar os problemas coletivos.
Walter Falceta
Todos os painéis do Festival do Clube 2021, realizado entre os dias 22 e 23 de setembro, foram transmitidos pelo Globoplay. O evento deste ano foi gratuito.
O conteúdo do Festival já está disponível na plataforma de streaming. Até o dia 27 de outubro - acesse a partir daqui.
Reveja a programação completa aqui.
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