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Festival do Clube 2021

Vetor e a história da animação no Brasil

22.10.21

Reconhecida no mercado audiovisual brasileiro pela excelência com que produz trabalhos de animação e 3D, a Vetor Zero dividiu sua trajetória com o público no painel “35 anos de Vetor: vamos falar de animação?”, no Festival do Clube de Criação 2021.

Em um encontro descontraído, Alberto Lopes, sócio e produtor executivo; Gabriel Nóbrega, sócio e diretor de cena, e Mateus de Paula Santos, sócio e diretor de criação, todos da Vetor, contaram detalhes da história do pioneiro estúdio de animação. Eles mostraram alguns dos diversos filmes que já produziram em sua longa trajetória. Os sócios foram entrevistados por Renata Leão, diretora executiva de criação da David SP, e Daniela Ribeiro, diretora de criação da Publicis.

Décadas de experiência

Antes da chegada da internet no Brasil, nascia, em 1985, a Vetor Zero. Apostando em um mercado que ainda não existia no Brasil, Sergio Salles e Alceu Baptistão, então com 23 anos, lançaram a empresa, que se resumia aos dois amigos e a uma única máquina de computador, onde se desenhava através de códigos de programação.

O primeiro grande trabalho da Vetor foi um vídeo de 90 segundos da CitroSucos, em que laranjas abasteciam caminhões que navegavam no espaço.Era um lance sci-fi, era a pegada da Vetor nessa época”. Alberto contou todo o trabalho que a equipe teve na ocasião para conseguir fazer a peça, que demandava um tipo de equipamento que a Vetor ainda não tinha.

O Sérgio e o Alceu, com o sinal do projeto, compraram um computador em Miami, mudaram-se para a cidade e começaram a fazer o trabalho lá por uns dois meses e voltaram para cá, com o computador. A partir de então houve um upgrade na qualidade de entrega do nosso serviço”, revelou.

Dessa experiência nasceu a relação da Vetor com o mercado publicitário. “A gente percebeu que estava na publicidade nosso cliente ideal, que poderia financiar os investimentos que a gente previa”. O produtor executivo da Vetor explicou que, no início dos anos 90, somente a Rede Globo produzia peças 3D de qualidade, com o lendário Hans Donner e suas vinhetas de novela. Entre as produtoras, a Vetor foi pioneira. “Era tudo experimental”, afirmou.

Dani lembrou como várias produções da Vetor fizeram história e estão até hoje no imaginário nacional. Foram exibidos os filmes das formiguinhas da Philco e os caranguejos da Brahma. Alberto disse que, na época, essas peças foram muito impactadas por estudos que a americana Pixar fazia em suas obras. “Eles faziam testes lá e isso reverbera no mercado todo. Assim, fomos evoluindo e melhorando”.

Questionado por Renata, Mateus comentou sobre o tempo em que criou a Lobo e trabalhou como concorrente da Vetor. “A gente tentava mostrar nosso trabalho para as marcas, mas ouvíamos a mesma coisa ‘legal, mas já trabalhamos com a Vetor’”, afirmou. Ele relatou que, junto a seus sócios, analisou que era uma ideia melhor se juntar à líder do mercado brasileiro. “A preocupação na reunião em que isso ficou decidido era a conta: eu não tinha nenhum real”, brincou.

Naquela altura, em meados dos anos 90, o mercado nacional se aqueceu com a chegada da MTV. Mateus recordou-se de uma situação em que estavam produzindo dois clipes com públicos extremamente diferentes “A gente estava fazendo o clipe da Sandy & Junior e de uma banda alternativa de um amigo. A banda chamava Golden Shower. Os dois clipes ganharam o VMB, da MTV”, disse.

Já durante os anos 2000 a Vetor foi caminhando para as animações undergrounds e fez uma nova aquisição, a Animatório,produtorinha de garagem” de Gabriel, que trouxe para a casa sangue novo. “A gente não sabia muito bem o que queria, só sabia que queria fazer animação”, declarou.

Antes de criar a Animatório, Gabriel já tinha a Vetor como referência. Ele confidenciou que tentou fazer um estágio na produtora. “Cheguei com meu CD, dei para o cara e ele falou ‘obrigado, até a próxima’”, detalhou, às gargalhadas, o agora sócio da empresa.

Hoje parece que o resto do mundo se deu conta do que a Vetor há 35 anos já sabia: as animações são essenciais na publicidade, são parte da cultura nacional, e a Vetor, é, portanto, parte da história do Brasil.

Fernanda Beirão

Todos os painéis do Festival do Clube 2021, realizado entre os dias 22 e 23 de setembro, foram transmitidos pelo Globoplay. O evento deste ano foi gratuito.

Reveja a programação completa aqui.

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