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Festival do Clube 2021

Consumo consciente e comunicação para salvar o mundo

27.10.21

Tudo o que você produzir ou consumir vai gerar impacto no planeta. A busca é para que ele seja o menor possível”. A análise de Guilherme Moreno, gerente de marketing da Malwee, foi um dos fios condutores do painel “Lowsumerism, porque sustentabilidade é garantia de futuro”, no Festival do Clube de Criação 2021. Essa foi uma das mesas do evento que promoveu discussões sobre maneiras de preservar o planeta, com assuntos que foram do greenwashing aos incêndios na Amazônia.

Nesse debate, o foco esteve no consumo, em comunicação e em modos de conscientizar as pessoas – todas, entre elas populações menos representadas, como as periferias – a respeito da crise climática que vivemos. Além de Moreno, o painel contou com as participações do jornalista Matthew Shirts, cofundador do Fervura no Clima; do arquiteto e designer Marko Brajovic que tem projetos que conectam humanos à natureza; e da jovem embaixadora da ONU Amanda Costa, fundadora do Perifa Sustentável. A mediação foi de Chiara Gadelha, consultora de sustentabilidade, moda, beleza e design.

Moreno comentou o desafio que é continuar olhando para a empresa como um negócio da indústria da moda que precisa produzir, gerar lucro, apoiar famílias através da geração de empregos e se comprometer com iniciativas sustentáveis e ligadas ao conceito ESG 2030 (em referência a Environmental, Social, and Corporate Governance). Segundo ele, não adianta investir em inovação tecnológica que permita produções mais sustentáveis e repassar o custo disso ao consumidor. “Buscamos soluções que permitam trabalhar em escalas maiores, com mensagens simples de comunicar e que não pesem no bolso de quem compra produtos da marca”, disse.

Um exemplo é o lançamento da coleção de roupas tingidas com amoras. O filme “Tingimento Natural” (veja mais abaixo) tem a missão de informar o público o uso da fruta como substituição de produtos químicos nocivos, dando assim a consciência e a possibilidade do consumo responsável. O objetivo é que as pessoas possam escolher por produtos que poluem menos.

Mas não é fácil conscientizar pessoas do impacto que a produção do jeans ou a compra de uma blusa pode ter na falta de água que estamos enfrentando. São as chamadas “verdades inconvenientes” que a indústria precisa começar a falar com transparência para envolver as pessoas nesse processo de conscientização. “Trabalhar de forma sustentável e com responsabilidade socioambiental não é algo fácil, nem tem um caminho pronto. É um jeito de pensar, um processo vivo que vamos aprendendo ao longo da jornada”, ressaltou Moreno.

Chiara pontuou que a informação se torna o caminho para a “responsabilidade compartilhada entre quem faz e quem compra. Apesar da gravidade do assunto, esse informar ao grande público pode vir de forma leve, segundo ela. “Algumas vezes, a gente ri e percebe que não sabe o que fazer, ou que tem muito por fazer. Através do humor, questões sérias parecem deixar de ser sobre você e isso abre espaço para conversas”, disse.

Um exemplo desse tipo de humor que brinca falando sério foi o vestido usado por Alexandria Ocasio-Cortez, ou AOC, como é conhecida, no MET Gala. A economista, ativista e política nos Estados Unidos escolheu um vestido com a frase “Tax the Rich”, em alusão a uma discussão sobre taxação maior dos ricos no país. É cômico porque o evento, que tem visibilidade mundial, é para celebridades convidadas ou para pessoas que pagaram U$ 35 mil por ingresso - os valores vão de U$ 300 mil a U$ 400 mil por mesa. “Ela estava falando dela mesma, mas chamou a atenção para a questão”, afirmou Shirts.

De acordo com ele, ser uma fonte de notícias sobre o clima com “ciência, humor e arte”, como define o Fervura no Clima, ajuda a engajar gente na busca por soluções. Em suas palavras, isso representa a terceira onda no processo de comunicação climática.

A primeira começou em 1988, quando o cientista da NASA, James Hansen, falou oficialmente sobre o aquecimento global, chamando a atenção do mundo através da ONU. Depois, em 2015, vem a segunda fase com o Acordo de Paris, que é uma luta para combater o negacionismo e provar, com dados científicos, que o aquecimento é algo real e urgente. Agora estamos em busca de pessoas e soluções e o humor e a arte ajudam muito”, completou.

Ativista jovem, periférica e preta, Amanda questionou a falta de representatividade na busca dessas soluções. “Tem uma frase que me representa muito: ‘não existe justiça ambiental sem justiça racial”, disse. Ela lembrou que as populações menos representadas, como as da periferia e os quilombolas, já estão sofrendo fortemente as causas do aquecimento global. “Se quisermos mesmo salvar o planeta precisamos ouvir outras pessoas de fora desse universo heteronormativo da supremacia branca. São elas que trarão soluções disruptivas e ousadas, que desafiam o status quo e promovem o novo”, afiançou.

Amanda estará na COP 26, a 26ª conferência da ONU sobre as mudanças climáticas, que irá acontecer em Glasglow, com mais três jovens negras compondo a delegação da plataforma de conteúdo Perifa Sustentável (@perifasustentavel), participação que foi viabilizada com o apoio de entidades e empresas, entre elas o Clube de Criaçãoleia mais aqui. No evento, um dos objetivos de Amanda é enegrecer o discurso climático, levando a ótica de representantes das comunidades e das juventudes negras.

Para Brajovic, o segredo está na própria natureza, com a qual deveríamos aprender resiliência, estratégias e capacidade de se estruturar e de se adaptar. O arquiteto explicou o conceito de biomimética, uma metodologia para ler e entender estruturas biológicas e as estratégias da natureza, “designer” de 3,8 bilhões de anos que permanece evoluindo e não tem uma solução final.  Ela coevolue. E isso, segundo ele, contradiz a afirmação capitalista de que os mais fortes sobreviverão.

Não é verdade. Precisamos expandir esse conceito de cooperação porque, ou todos sobrevivemos, ou ninguém vai”, alertou. A inspiração pode estar na consciência de que “não somos indivíduos, mas feitos de uma série de organismos que convivem, cooperam”.

Brajovic enfatizou que “precisamos ser radicais nas soluções, pois não há mais tempo para minimizar impactos”. E fez uma provocação ao apresentar uma série de questões: O que queremos sustentar? O mundo do consumo? Nossos bolsos? Ou o bem comum regenerativo e abundante no qual vivemos?

Diante disso, Chiara recomendou o documentário Fantastic Fungi, disponível na Netflix (veja o trailer abaixo). E pediu que aos participantes da mesa escolhessem uma palavra para definir lowsumerism, que pode ser traduzido como baixo consumo, mas que ela prefere usar como consumo consciente.

Shirts escolheu “simples”. Amanda disse que é essencial. Moreno optou por respeito. Brajovic foi além e sugeriu tingir em casa a própria roupa com amoras.

Todos os painéis do Festival do Clube 2021, realizado entre os dias 22 e 23 de setembro, foram transmitidos pelo Globoplay. O evento deste ano foi gratuito.

Reveja a programação completa aqui.

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