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Festival do Clube 2021

Cultura corporativa e novos talentos: como juntar tudo

28.10.21

Um dos maiores desafios da indústria da comunicação hoje é não só atrair novos talentos como promover a diversificação das equipes, incorporando pessoas de vários grupos sociais. Fazer isso sem que a empresa adote uma cultura que abrace valores como diversidade, equidade e valorização dos funcionários é impensável, na opinião de quem está envolvido no assunto.

A Miami Ad School começou um trabalho nesse sentido há cinco anos. A meta era aumentar o número de inscrições de representantes de grupos minoritários. “Pesquisamos porque essas pessoas não buscavam fazer carreira na criação, descobrimos as razões e procuramos resolvê-las. Também trouxemos mentores e acadêmicos para nos ajudar”, contou a CEO global da organização, Pippa Seichrist, em vídeo enviado para o painel “Cultura corporativa, como construir ou manter a sua (e atrair as novas gerações)” no Festival do Clube de Criação 2021.

Segundo ela, em cinco anos o volume de inscrições de pessoas pertencentes a minorias passou de 19% para 53%. “Agora, estamos formando os criativos e estrategistas que as agências precisam para diversificar suas equipes”, afirmou, ao lembrar que, no Brasil, a Miami Ad School tem uma iniciativa na qual pessoas de diversas formações e backgrounds são convidadas a ajudar a escola em seu trabalho de levar mais diversidade para as agências.

Não adianta falarmos sobre diversidade se não olharmos também para equidade, inclusão, e para como isso tudo está estruturado - ou não - dentro da organização”, apontou Stephanie Velozo Crispino, CEO da Tribo Global, consultoria especializada em transformação cultural e educação de lideranças, uma das convidadas do debate. O painel teve também as participações de Danilo Janjacomo, vice-presidente de criação Isobar Brasil, e Gabriela Rodrigues, head de cultura e impacto da Soko, e mediação de diretor-executivo de operações da Mutato, Eduardo Zanelato.

A Tribo identifica três momentos importantes no processo de transformação da cultura organizacional. O primeiro é entender a cultura que já existe na empresa, tenha ela sido criada intencionalmente ou não. Para promover algum tipo de mudança que torne a cultura interna mais saudável e humanizada, é preciso saber como ela é no presente.

Depois dessa primeira etapa, vem o momento de envolver as equipes no processo. Quando as pessoas se engajam, melhores são os resultados alcançados, pois estão todos remando na mesma direção. Por fim, é preciso redesenhar a estrutura, para que ela não continue incentivando um padrão de comportamento que não cabe dentro da evolução cultural que a empresa está buscando.

Os líderes têm papel fundamental nesse processo, pois a liderança é a representação simbólica do que aquela empresa é do e do que ela quer ser”, afirmou Stephanie. Foi exatamente para reformular a estrutura criativa da agência que a Isobar trouxe, há um ano, Danilo Janjacomo.

Na visão do criativo, não há como colocar em curso um processo de transformação se a empresa continua a atuar sobre a mesma base, a mesma estrutura, os mesmos cargos e o mesmo jeito de pensar, como a linha de produção de uma fábrica. Por isso, foram promovidas modificações como mudar o título de redator para criador de contexto e fala.

Quando a pessoa tem a visão do papel que desempenha na agência, ela vai continuar escrevendo, mas sempre se lembrará de que está falando dentro de um contexto e pensará sobre se ela tem propriedade para falar aquilo ou se precisa de outras visões. A mesma coisa com o designer de conversas. Seu papel é pensar qual conversa queremos para determinada campanha”, explicou o vp da Isobar.

Um ponto que ele considera importante é o processo de análise de profissionais e de portfólio. Como avaliar o trabalho de alguém de determinado grupo social que a empresa quer ter em seus quadros se aquela pessoa não teve as mesmas oportunidades que outros?

Acho cruel avaliar alguém assim pelo trabalho realizado anteriormente. O que estamos fazendo é chamar as pessoas para conversas e analisar o potencial de cada uma. Vim para a Isobar para alinhar a agência com o que a sociedade está pedindo”, resumiu.

Para Zanelato, a transformação na indústria da comunicação muitas vezes fica mais na aparência do que na prática. “Sinto que, quando o approach é a cultura, o jeito de trabalhar, a forma como a agência vai lidar com a diversidade, começa-se pela parte cosmética e não pela prática. Quem está tomando as decisões? Quem está aprovando? Isso é importante”, ponderou.

Vulnerabilidade

Outra agência que está passando por mudanças significativas é a Soko, devido à fusão com a Cubocc, ambas pertencentes à holding Flagcx (leia mais aqui). A nova estrutura reúne 250 profissionais, sob a marca Soko, e está em processo de adaptação à nova realidade corporativa.

A primeira coisa que estamos descobrindo é sobre vulnerabilidade. A gente vai errar, vamos tentar uma rota mais ousada e isso vai exigir coragem. Se mostrar vulnerável é mostrar sua coragem. Isso é importante para a construção de uma cultura”, reconheceu Gabriela.

A Soko definiu seu propósito em uma frase: “combater as práticas tóxicas do mercado tendo um trabalho com excelência criativa”. Também criou um guia de cultura para lideranças, explicando como a cultura da empresa se materializa em ações práticas para quem lidera um time. “Escrevemos que não temos uma cultura verticalizada, que ela foi desenhada para ser horizontal: temos criado guias e promovido conversas frequentes para ir arrumando o caminho, porque ele não é uma linha reta. Muita coisa muda”, completou.

Gerações sem conflito

Pippa Seichrist destacou ainda a importância de se entender o comportamento das diversas gerações, explicando que baby boomers e zennials frequentemente não entendem os millennials. “Não é que os valores deles estejam errados. São só diferentes”, defendeu.

Quando eles entraram no mercado de trabalho, era um símbolo de honra trabalhar 80 horas por semana. Naquele tempo, a Chiat Day era conhecida como Chiat Day & Night. Em uma rede nacional de agências nos EUA, se dizia que “quem não vier no domingo não precisa se preocupar em vir na segunda-feira”.

Mas os millennials não colocam o trabalho acima de tudo na vida. Pesquisa realizada com 200 representantes dessa geração revelou que, para eles, o primeiro fator que faz de uma agência um bom lugar para se trabalhar é ela ter projetos com propósito, seguido de cultura organizacional, ter seu trabalho apreciado, salário, contar com o apoio das lideranças, localização da agência e, apenas em sétimo lugar, a oportunidade de crescer na carreira.

Eliane Pereira

Todos os painéis do Festival do Clube 2021, realizado entre os dias 22 e 23 de setembro, foram transmitidos pelo Globoplay. O evento deste ano foi gratuito.

Reveja a programação completa aqui.

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