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NFTs, contratos inteligentes e desafios dos artistas digitais
Desde sua criação em 2014 pelo artista digital estadunidense Kevin McCoy, os NFTs (de Non-Fungible Token) têm sido chamados de "futuro das obras de arte". Mas hoje eles são uma realidade cada vez mais patente. A atividade dos artistas digitais que estão desenvolvendo agora esse tipo de trabalho foi tema de debate no Festival do Clube de Criação 2021.
O painel “NFT: criptoarte com garantia de autoria no universo digital” contou com Adhemas Batista (head of design da Deustch LA), Dejumatos (artista visual), Fesq (artista digital), Bruno Portella, o Portman (coordenador do Núcleo de Artes Visuais da Secretaria de Cultura Barueri), Lia Vissotto (empreendedora cultural e diretora do Cinnamon Music Video Festival). A mediação foi de Ricardo Cavallini, fundador da Makers.
Portman, que faz mentoria para artistas, contou suas dificuldades de julgar a arte de alguém. Para ele, “a democratização é um dos novos elementos que vem com a informação fácil, via internet, big data. E também vem com o NFT, que derruba barreiras”.
Cavallini questionou sobre contratos inteligentes, conceito que surgiu junto com as criptomoedas (eles são executados por meio de códigos e são operados em uma blockchain). Para Lia Vissotto, eles não substituem a negociação entre as partes. “O fato de o NFT existir não te libera de uma negociação prévia. É uma coisa que sempre vai precisar ter, principalmente quando envolve outras partes. O consenso não deixa de existir. É uma questão ética. Aí, na hora que você faz o contrato inteligente, todo mundo já está de acordo."
Lia comentou que os smart contracts também são uma maneira de monetizar a produção artística. Ela usa o exemplo dos videoclipes, que atualmente só podem ser monetizados via YouTube, plataforma que paga apenas os artistas.
“Mas o blockchain já permite pagar o diretor, a equipe. Vejo isso com muito bons olhos. Acho que é um caminho que ainda vai bombar. Ainda não tenho visto muito videoclipe nessa seara do NFT”, disse. Como demonstração do potencial dos NFTs, ela citou o aclamado diretor de cinema David Cronenberg, que recentemente lançou o curta-metragem “The Death of David Cronenberg” na plataforma de NFTs SuperRare.
Outra questão pertinente sobre os Non-Fungible Tokens é a relação das marcas com a tecnologia. Fesq mencionou a revista Times, que recentemente lançou seu próprio colecionável com o envolvimento de mais de 40 artistas. “No contrato inteligente, os artistas ficam com os royalties pra vida inteira. Foi muito interessante ver uma marca com a chancela da Times pegando essa galera para fazer algo legal em que todo mundo vai ser recompensado.”
Já na visão de Adhemas, os anunciantes precisam ir além de entrar no hype, e logo. "As marcas sempre querem entrar na onda do que está acontecendo. Mas as possibilidades vão muito além do buzzword. Essa coisa do contrato inteligente, de discutir com os clientes a forma como você compra os conteúdos dos ilustradores, fotógrafos, diretores, tudo isso é algo que a gente vai ter de evoluir muito rápido. O que aconteceu com o boom da internet foi algo que deu tempo de as pessoas aprenderem, a transformação digital foi lenta. Em comparação, o NFT não. É um tsunami com uma velocidade incrível.” Adhemas fez um trabalho para Havaianas neste ano.
Os artistas deram sugestões para quem está iniciando no mundo digital, quando Cavallini perguntou sobre como poderiam alavancar seus nomes para vender as obras. Para Portman, o marketing é apenas uma consequência de uma vida artística vivida com mais força, em que o artista consegue ser relevante. Dejumatos recomendou ter um trabalho específico pra vender NFT. “Não é só fazer e jogar no meio de mais um milhão e nunca mais falar disso.”
Os NFTs também trouxeram para o artista um contato mais próximo com o colecionador, que, até então, era uma figura distante no mundo das artes. Fesq é um dos artistas que escolheu se aproximar de seus colecionadores. “Busco ter uma escassez de obras e uma conexão maior com o colecionador. Então, sem dúvida, a relação é algo que também tem de trabalhar. Escolher bons colecionadores ajuda a sua carreira. Você não gostaria de vender sua arte pra qualquer um que der o lance maior. O ideal é escolher pessoas que vão cuidar e valorizar.”
Por fim, os artistas foram questionados sobre um assunto espinhoso, a precificação das obras de arte. Lia revelou que em seu projeto Music Video Festival não trabalhou com leilão, e sim com preços fixos. "Foi uma convenção entre todas as partes. Cada uma das junções gerou alguns NFTs e discutimos o que seria um preço justo. Foi decidido sobre royalties numa revenda, essas coisas. É sempre um diálogo, tratar essas questões muito bem quando o NFT envolve mais de uma parte.”
O conselho de Portman é analisar cada caso e fazer uma pesquisa de mercado. “Essa é uma das maiores dores dos artistas, ainda mais que NFT é uma coisa nova e tem vários tipos de comissão, de taxas no meio do caminho, além do câmbio. Minha recomendação é que pesquisem. Cada contrato inteligente tem suas permissões. Então, é uma análise de cada área.”
Todos os painéis do Festival do Clube 2021, realizado entre os dias 22 e 23 de setembro, foram transmitidos pelo Globoplay. O evento deste ano foi gratuito.
Reveja a programação completa aqui.
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