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Festival do Clube 2022

‘Dá para viver só de videoclipe?’

03.11.22

A 10ª edição do Festival do Clube de Criação colocou a produção de vídeos musicais em debate. O painel “Grandes nomes na direção de videoclipes” trouxe quatro nomes de destaque para falar de suas trajetórias e de como enxergam a indústria nos dias atuais.

No palco estavam Belle de Melo, diretora e roteirista da Iconoclast; Charles Gama, vocalista e guitarrista da banda Black Pantera; Felipe Sassi, diretor da Academia; e Giovanni Bianco, creative director da GB65. Como mediadores estavam Felipe Novaes, produtor executivo de entretenimento da Brigitte Filmes, e Lia Vissotto, curadora do Music Video Festival e fundadora da Cinnamon Comunicação.

Quem abriu o bate papo foi Belle, que destacou seu papel como mulher na indústria: “Acho que ocupar esse lugar, como diretora, é muito importante. É conseguir falar. É um lugar que precisa ser muito batalhado”. E emendou: “Sinto que minha voz ecoa num formato que não é só meu, mas de muitas meninas. Sempre tento trazer isso para o meu trabalho, de não andar sozinha, mas andar com todas”.

Felipe Sassi, que trabalha com videoclipes há sete anos – entre eles, projetos com Iza (veja mais abaixo um dos clipes, "Três"), Duda Beat e Gloria Groove –,falou sobre artistas mulheres: "Sempre fui a bichinha fã de Lady Gaga, Rihanna”, disse. Os videoclipes criados para estrelas como elas fazem parte de seu crescimento artístico.

Apesar de hoje ter reconhecimento e sucesso no meio, o sonho de Felipe sempre foi o cinema, sonho que precisou ser adiado por questões financeiras. Ele não tinha condições para cursar cinema. Mas estudou publicidade. No fim das contas, admitiu, foi uma decisão acertada, pois foi nessa área que aprendeu a ter um olhar mais assertivo para escrever roteiros e acessar um público específico.

"O videoclipe foi minha escola. É um lugar em que você pode explorar muitas narrativas e aprofundar no que você quer falar, seja um recorte social ou pessoal", analisou. Em 2023, Sassi realizará seu sonho e dirigirá seu primeiro longa, “Caipora”.

Enquanto o videoclipe foi a escola de Sassi, para Giovanni Bianco, a história foi outra. Ele passou por várias profissões ao longo da vida e isso o permitiu ter um olhar diferenciado para dirigir videoclipes.

Com clipes feitos para nomes como Anitta (confira mais abaixo "Girl From Rio"), Ivete Sangalo e Ludmilla, Bianco começou a trabalhar cedo, aos 14 anos, ajudando o pai feirante a vender frutas. Em seguida, estudou engenharia civil e depois, artes, quando se formou designer gráfico. Ainda jovem, foi morar na Itália, onde se tornou publicitário. Como diretor criativo, atuou na área de moda até começar a fazer trabalhos na música, com capas de discos nacionais e internacionais, incluindo projetos para Madonna, com quem trabalhou por 16 anos.

"A música é igual a vender um batom, um sapato. A gente está vendendo, só que um outro produto. A gente vende a música, a imagem", comparou.

No entanto, para vender esse produto, Giovanni ressaltou que é preciso admirar o artista e ter sensibilidade para liderar esse tipo de projeto. As experiências anteriores lhe deram outras habilidades. “Trabalhando na feira, eu aprendi a vender. Sendo engenheiro, aprendi a fazer cálculos. E fazendo marketing, aprendi a embelezar. São elementos que você utiliza com o artista. Você tem de ser um bom instrumento para aquele artista. A coisa mais importante é você entendê-lo e ajudá-lo a vender aquele produto da melhor maneira.

Felipe Novaes levantou a questão da possibilidade de trabalhar apenas com os vídeos musicais: “Estamos falando do videoclipe como instrumento de experimentação, de um tipo de produção que mudou muito nos últimos anos. Dá para viver só de videoclipe?

Giovanni foi categórico: “Não posso mentir dizendo que dá dinheiro. Para mim, é só o brigadeiro do bolo, mas é o brigadeiro mais delicioso.”

Belle concordou, mas acredita no equilíbrio: “A gente tem de ser pago - e isso tem de ser cada vez mais discutido. Mas é necessário ter um equilíbrio entre os dois mundos. O mundo do clipe é muito diferente do da publicidade. O primeiro é um lugar em que a gente consegue criar, mergulhar e mostrar um pouco do que a gente é, do que a gente acredita."

Ela começou sua carreira com a banda Rosa Neon, que durou apenas dois anos, mas deixou marcas. “A banda também estava começando e queria lançar um videoclipe por mês, mas não tinha dinheiro, nem equipe. Parecia estar fadado ao fracasso.”

O que faltava em orçamento, porém, sobrava em força de vontade. Foi o que impulsionou não só a banda, como também a própria diretora, que assina videoclipes para Baiana System (veja abaixo "Reza Forte"), Ana Gabriela, Hot e Oreia e Gloria Groove.

Na visão de Lia Vissotto, além do equilíbrio, é necessária uma colaboração real entre o diretor do videoclipe e o artista. “O Giovanni falou de o diretor respeitar o artista, mas também há muitas situações em que o diretor colabora muito com aquela linguagem, que, às vezes, o artista não consegue traduzir, afirmou.

Esse respeito também precisa partir do artista, reforçou Giovanni. Segundo o diretor, muitas vezes, ele não acredita no videoclipe enquanto meio para transmitir sua mensagem.

A gente tem de reeducar os artistas da importância de investir nesse instrumento, que é muito importante para eles. A maioria não tem consciência do valor que tem nisso”, salientou.

Perto do final, o painel ganhou a adição de Charles Gama, que estava tocando com a banda e não conseguiu chegar antes para a conversa. Ele contou que o primeiro clipe da Black Pantera foi feito pela própria banda, que pediu a um amigo para segurar a câmera.

Charles disse que todos os clipes do grupo trazem pautas e referências, citando o exemplo do afro-americano George Floyd, morto em 2020 pela polícia. O caso o inspirou a gravar o clipe da música “I Can’t Breathe” (veja abaixo), frase dita por Floyd enquanto um policial o asfixiava com um joelho sobre seu pescoço.

Quando a gente viu a imagem, minha primeira sensação não foi de fazer a música, foi de revolta. Todo dia a gente sente isso”, revelou.

No final, voltou-se a debater a representatividade, seja LGBTQIA+, feminina ou negra. Para Felipe Sassi, esta é uma indústria da elite, de difícil acesso. Por isso, “não faz sentido não trazer o discurso daquele artista”. De acordo com ele, o trabalho não é só um vídeo de coreografia. “Ela está lá, mas a gente está rebolando com discurso”, completou.

Danilo Telles

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Serviço:

10º Festival do Clube de Criação

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