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Zé Ricardo e Simoninha: música para conectar as marcas
O palco do Festival do Clube de Criação 2022 recebeu Zé Ricardo, músico e diretor artístico do palco Sunset do Rock In Rio, e Wilson Simoninha, músico, compositor e sócio da S de Samba. O encontro se deu no painel “Entretenimento, marcas e muita música”.
Simoninha começou o papo dizendo que a música uniu os dois em uma amizade que já dura mais de 20 anos, e em seguida, Zé Ricardo contou um pouco de sua história. Carioca, negro e filho de um porteiro com uma lavadeira, ele começou a trabalhar aos 13 anos de idade como office boy no Banco do Brasil. “Sempre aproveitei cada oportunidade que a vida me deu”, disse ele, que afirma que hoje não trabalha com a música, mas vive para ela. “Música é o que eu respiro, o que eu acordo pensando e o que vou dormir pensando.”
Hoje, quando olha para trás e reflete sobre suas origens, ele pensa: “nada mal para um menino que veio de onde eu vim."
Assim como milhares de artistas pelo país afora, Zé Ricardo iniciou na música tocando à noite em bares. Ele ainda se recorda da primeira vez que tocou e, quando o dono do estabelecimento foi fazer o pagamento, o ainda jovem músico estranhou “eu não tenho dinheiro para te pagar”, disse à época, acreditando que deveria pagar pela oportunidade.
Uma vez estabelecido como músico profissional, ele conta como foi a transição para diretor artístico e como isso o levou até o Rock In Rio, festival no qual é responsável pelo Palco Sunset e pelo Espaço Favela.
Segundo Zé, aconteceu por volta de 2005, quando foi convidado para montar um projeto para o festival Vivo Open Air. “Eu criei uma narrativa para esse show, talvez não tão consciente porque na verdade eu sabia o que a gente queria, então eu entendi depois do primeiro Vivo Open Air, que eu conseguiria aproveitar algo que o público não estava vendo. Essa é a maior dificuldade hoje no entretenimento, a gente tem muito acesso e todo mundo quer uma coisa nova."
Ele diz ainda que no mundo criativo, as pessoas pensam que uma coisa nova é inventar a lâmpada, mas em muitos casos pode ser algo óbvio e simples que apenas ainda não foi pensado.
Sua história como diretor artístico começou de fato quando retornou ao Vivo Open Air, desta vez em Portugal. Lá, propôs algo que era comum no Brasil, mas inédito em Portugal, que foi a junção de grandes artistas.
“O Open Air em Portugal foi um marco na minha vida e na dos artistas portugueses de alguma maneira porque era como se Gilberto Gil e Caetano Veloso nunca tivessem subido no palco juntos. O Pedro Abrunhosa e o Rui Veloso, que são dois grandes gênios da música portuguesa, nunca tinham cantado juntos e cantaram a primeira vez comigo, em 2005”, lembrou.
Com o sucesso do evento, Roberta Medina, responsável pelo festival e vice-presidente do Rock In Rio, convidou-o para criar um palco dentro do Rock In Rio Lisboa que tivesse a mesma importância do Palco Mundo.
“Eu fiquei pensando em milhões de coisas porque aquilo não fazia sentido com a história da minha vida, preto, filho de porteiro, filho de lavadeira. Mas naquele momento eu falei 'eu mereço, por que não pode ser eu?'", questionou-se.
E foi em Portugal que surgiu o Palco Sunset, que segundo Zé Ricardo, é o sol de sua vida profissional. Ele conta que em Portugal, foi informado de que não havia artistas interessados em tocar durante o dia, mas ele encarou o desafio com a ajuda da publicidade e da palavra que repetiu diversas vezes durante a entrevista: narrativa.
“E se tocar de dia fosse a coisa mais cool do universo? E se o lance fosse tocar de dia, até mais legal que tocar de noite? A gente só precisa propor isso. Vamos contar uma história, criar uma narrativa e fazer com que tocar de dia seja a coisa mais cool do mundo. Vamos chamar o palco de 'pôr do sol' e é aí que entra a publicidade, o marketing”, destacou.
Ele então passou um mês andando por Lisboa, conversando com a população e fazendo pesquisas. O resultado final foi um sucesso, tanto que isso o aproximou do criador do Rock In Rio, Roberto Medina, que hoje é seu grande amigo.
“Eu tenho um ritual com ele. Esse que acabou de passar foi meu 16º Rock In Rio, e no primeiro dia ele já sabe que vou ligar para ele porque realmente acho que é uma loucura, eu ligo e falo ‘você é muito louco de me dar três palcos no seu festival’", disse.
Além do Palco Sunset, Zé Ricardo foi idealizador do Espaço Favela, que para Simoninha é “uma criação sensacional e fundamental para os dias de hoje, é uma experiência que tem a ver com tudo que aconteceu no Festival do Clube de Criação”, citando o painel “Favela, o 4º setor”, com Celso Athayde.
Para Zé Ricardo, o Espaço Favela não é algo assistencialista ou paternalista. “Não é uma ajudinha para o favelado: o Espaço Favela é um grande espaço para conectar marcas. O Espaço Favela é sobre talento.” Ele declarou ainda que o processo de curadoria para o espaço envolve mais de 60 pensadores e pessoas das favelas, com os quais ele se reúne e que enviam material para que seja selecionado.
“Quem mora na favela se sente representado quando vê um parça dele no palco tocando, e entende a necessidade de se falar sobre as coisas positivas da favela, que é um poço de talento. Talentos prontos para ocupar qualquer lugar do mundo, e não só na música, também tem empreendedores, pessoas que têm capacidade criativa. A gente tem que falar sobre isso também. A gente tem que dar oportunidade para que a sociedade comece a olhar para favela de um jeito diferente", pontua.
Zé aproveitou o tema do Espaço Favela para falar sobre como enxerga a melhor maneira de como as marcas podem se relacionar com os festivais.
“Ou as marcas se conectam com o propósito dos festivais, ou elas não vão conseguir visibilidade. Existe uma resistência muito grande de uma parte da sociedade frente às mudanças que o mundo está propondo, por isso uma grande polarização. Mas não adianta, porque o mundo vai mudar, já está mudando. E as marcas têm uma oportunidade de conectar seus propósitos com os dos festivais. Por isso as marcas que estão conectadas com festivais como o Rock In Rio vão ter vida longa porque a gente precisa de diálogo e, através das marcas, a gente pode propor esse diálogo", concluiu.
A pedido de Simoninha, ele deu como exemplo a live de Elza Soares patrocinada pela Mastercard no início da pandemia de Covid-19. "Foi uma live para arrecadar dinheiro para pessoas que estavam passando fome. Chegamos na Elza Soares, que era uma grande amiga, alguém que fez parte da minha vida. Duvidaram da proposta, mas o nome do CD da Elza é 'Planeta Fome' e estávamos fazendo uma campanha contra a fome, então vamos trazer a Elza Soares.”
Além de Elza Soares, outras lives foram feitas com a proposta de unir artistas de gêneros diferentes, como Criolo e Alcione, e Liniker e MIlton Nascimento.
“A Mastercard enquanto marca foi se apropriando dessa proposta e desse conteúdo, porque era verdade e eles acreditaram nisso. A marca foi se apropriando, vivendo e pegou o propósito dela, que era o combate à fome, com uma causa social. A marca estava falando muito mais com essa junção de lives do que simplesmente fazendo a ação que queria fazer.”
Falando diretamente ao público do Festival do Clube de Criação, Zé Ricardo disse que os criadores têm a obrigação de provocar as marcas para que elas saiam das suas zonas de conforto e entendam que propósito não é só fazer uma coisa que as pessoas acham legal, mas é realmente querer mudar alguma coisa e conseguir isso através da arte, de alguma parceria.
Wilson Simoninha completou o pensamento do entrevistado e amigo, dizendo que não se pode subestimar o público. “A gente tende, dentro da publicidade, a subestimar o público, a gente sempre procura as soluções mais óbvias, colocar o cantor que está fazendo mais sucesso. Só que aquele cantor está cantando em cinco campanhas, então fica difícil criar uma identidade para sua campanha.”
No final, Zé Ricardo respondeu a uma pergunta da plateia, sobre como lida com críticas a suas escolhas para o Palco Sunset, que segundo ele, é um espaço de todo mundo. “A curadoria é feita com rigor e o rigor traz ecos positivos e negativos, mas eu sei o que eu quero fazer. Eu quero que você vá, mesmo sem querer, e saia de lá transformado. A gente faz curadoria para chegar nas pessoas que não sabem que querem aquilo, e não para fazer o óbvio.”
Ele encerrou com um pedido ao público: “Todos os trabalhos que vocês botarem na rua, usem para inspirar. Acreditem que de alguma forma, mesmo pequena, a gente pode inspirar alguém, e aí a gente transforma tudo.”
Danilo Telles
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