arrow_backVoltar

Festival do Clube 2022

Olympikus e Nestlé: inovações brasileiras e impacto social

03.11.22

Não é incomum marcas brasileiras se depararem com a desconfiança do consumidor quando o assunto é qualidade e performance, em especial frente aos apelos de concorrentes internacionais. Por isso, um dos grandes desafios dos times de inovação das empresas é mostrar que é possível entregar produtos de ponta, atendendo a demanda do público e ainda impactando a sociedade. E isso vale para as operações locais de corporações presentes em outras partes do mundo.

Foi sobre isso que Márcio Callage, CMO da Vulcabrás, e Denis Chamas, gerente de inovação e novos modelos de negócio da Nestlé, falaram no painel “Inovação em Produtos no Brasil”, realizado na 10ª edição do Festival do Clube de Criação, no Memorial da América Latina.

O foco do bate-papo estava sobre duas histórias que permitem ver como a inovação pode chegar à mão do consumidor. A mediadora Flávia Roberta Freitas, líder de responsabilidade social da IBM América Latina, abriu o painel chamando atenção sobre como transformações acontecem e fazem com que a gente amplie a mente.

A primeira história foi a do tênis Corre Grafeno, modelo da Olympikus, marca da Vulcabras, que é destinado a corredores de longa distância. Callage explicou o contexto do processo de criação do produto, que foi lançado neste ano. "Se a inovação não estiver conectada a uma estratégia maior, tem menos chance de dar certo", disse. Como ele declarou, a Olympikus disputa mercado com algumas das marcas mais desejadas e inovadoras do mundo.

"A Olympikus consegue ser líder no Brasil porque tem um propósito claro de democratizar o acesso à tecnologia e à alta performance. Precisamos desenvolver um produto de uma maneira que o torne acessível para um grande volume da população. Porque é o que gera receita, gera resultado e paga o processo como um todo", explicou.

Com isso, a empresa trabalha com dois tipos de tênis: um é para o "corre do dia a dia", com os quais a marca que vende quase 15 milhões de pares por ano, desenvolvido para trazer conforto e durabilidade. "Esse tênis tem de ser versátil e resistente, deve servir para ir à festa, à escola, ao trabalho, enfim, para o dia a dia", afirmou.

A outra linha é dedicada à corrida, que é a Fórmula 1 da Olympikus. Isso quer dizer, produtos de alta performance, como os bólidos da F1, que trazem tecnologia para ser empregada futuramente em outros produtos, como os carros comuns – ou, no caso, os tênis cotidianos. É com essa família, a Corre, que o processo de inovação está estabelecido. "A partir dessa inovação, a gente desce para os produtos do dia a dia".

Callage contou que o processo de inovação na Olympikus é baseado em escuta e diálogo contínuo com a comunidade corredora. E isso também é feito com base nos próprios consumidores e nas experiências que compartilham. "A sociedade hoje vive e se comunica em rede. O mundo descentralizou a informação. A partir do momento em que tenho uma comunidade que escuto e com quem converso, eu a torno disseminadora e amplificadora das inovações do trabalho que estamos construindo", afirmou. "O processo de inovação já é parte da construção do sucesso do produto. Ele auxilia a narrativa do negócio".

Nessa linha, a Olympikus criou, em 2019, o projeto Bota Pra Correr, que incentiva brasileiros a conhecerem o Brasil correndo e, ao mesmo tempo, dá oportunidade à empresa de estar perto da comunidade corredora. De acordo com Callage, a ideia é criar um ambiente de produção de conteúdo e distribuir esse conteúdo para esses corredores, que tratam de divulgar a experiência. "Mas isso não adianta se eu não tiver um bom produto", ponderou.

Neste ano, o Bota Pra Correr, que foi retomado depois da pandemia, realizou duas provas: uma na Chapada dos Veadeiros (Goiás) e outra na Rota Ecológica de Milagres, em Alagoas (que foi disputada no dia 22 de outubro). Essa etapa reuniu cerca de 800 pessoas, o maior número de participantes do evento, dentre todos os destinos já visitados. E em 2023 o circuito volta a acontecer. Serão duas etapas no segundo semestre. Os destinos serão revelados no início do ano que vem.

O processo de inovação

Quatro anos atrás, a empresa criou a plataforma do Corre. Chamou  engenheiros, mestres em biomecânica, professores de educação física, fisioterapeutas e designers para conhecerem o centro de desenvolvimento da Olympikus e para cocriar aquele que, em 2018, tinha o objetivo de ser o melhor tênis de corrida feito no Brasil. O produto bombou. Foi criado depois o Corre 2, ao qual a USP se uniu para ajudar a desenvolver o produto. "O processo, de novo, é de diálogo. E todo ele é documentado para que sirva de divulgação e ativação de algo real", acrescentou. "Tivemos a oportunidade de pagar bolsas a mestrandos da USP para participarem de um teste real de lançamento de um produto", contou.

Em 2022, como sequência desse processo, a Olympikus lançou o Corre Grafeno, um produto equipado com placa de propulsão de grafeno, material que vem sendo utilizado por algumas indústrias, como a de eletrônicos, pela sua flexibilidade e resistência. "A onda do tênis de placa de carbono havia surgido no Brasil e no mundo e a gente precisava construir algo para competir", disse. A solução foi uma inovação 100% brasileira. Pela primeira vez no mundo, o grafeno era utilizado em uma placa de propulsão de um tênis (mais abaixo, veja vídeo de lançamento do produto).

Apesar de ser acessível e de ter sido desenvolvido com uma solução tecnológica revolucionária, o produto, por ser brasileiro, carregava uma desvantagem: a desconfiança. Para convencer a comunidade da corrida da qualidade do novo produto, primeiro a empresa convidou os principais grupos de corrida brasileiros a conhecerem os laboratórios e o produto. O feedback foi positivo. Depois, lançou o Corre Grafeno em uma corrida noturna na pista do Campo de Marte, em São Paulo. E o produto decolou.

"Esgotou em duas semanas no site e em três semanas nas lojas. E, 21 dias depois, 9 dos 10 pódios da Maratona Internacional de São Paulo foram com Corre Grafeno, provando que é um produto de alta performance", contou Callage, cheio de orgulho (veja vídeo abaixo). "Tudo isso não existe sem a comunidade ajudando a divulgar e acreditando na marca", salientou.

Flavia comentou que esse processo de inovação aberta tem a ver com democratização da tecnologia e colaboração. E convidou Denis Chamas, da Nestlé, para trazer exemplos de outra indústria, a da alimentação, que também está preocupada com a inovação aberta e com a colaboração.

Ousadia e colaboração

Pegando o gancho na apresentação de Callage, Chamas ressaltou vários pontos em comum nos processos de inovação das duas empresas, apesar de serem de indústrias tão diferentes. Entre eles, o fato de as coisas não acontecerem de um dia para o outro, de envolverem colaboração e de terem uma conexão local.

Chamas comentou que a Nestlé está em 99% dos lares brasileiros. Este dado mostra o potencial que a companhia tem para construir coisas novas. "É preciso ousadia, provocação, teimosia, muita ciência e conhecimento para trazer mais gente para a conversa e poder trazer o novo", disse.

A ousadia de inovar pode ser vista no primeiro case que Chamas apresentou ao público, o do Leite Moça: o “Moça humanizado. Chamas observou que o nome Moça foi escolhido no Brasil há aproximadamente 100 anos e está, portanto, muito enraizado no país. O desafio, então, era levar a marca para um lugar novo e rejuvenescê-la, levando-a para territórios diferentes. A ideia foi lançar uma personagem humanizada, reconstruída em forma de avatar, que foi a protagonista de um filme do produto com realidade imersiva (confira mais abaixo). "Depois de 100 anos, me sinto mais moça do que nunca", diz a personagem.

Em seguida, Chamas mostrou o primeiro produto social da Nestlé, a barra de cereal Gerando Falcões. O produto tem 100% do lucro revertido para o projeto Favela 3D, da ONG Gerando Falcões, que tenta deixar a favela mais desenvolvida, mais digna e mais digital – daí, os 3D (veja vídeo mais abaixo). "Trabalhamos em cima da inclusão digital, bem na pandemia, quando esse assunto esquentou. A gente conseguiu, inclusive, doar mais de 1.600 equipamentos, entre computadores, laptops e celulares, para a comunidade poder se conectar com a internet", afirmou.

As barras de cereal Gerando Falcões (de coco e de banana e canela) e suas embalagens são uma cocriação do time Nestlé com Pedro Ângelo, jovem do projeto Voz da Periferia e mais quatro rapazes, vindos do mesmo projeto. Pedro foi, inclusive, integrado ao time de inovação da Nestlé como designer.

"Conseguimos gerar transformação por meio de uma modelagem feita aqui para as pessoas daqui e por pessoas daqui. Não simplesmente com uma doação", explicou. Segundo ele, este modelo vem inspirando outras ações na própria empresa e fora dela, em outras organizações.

Flavia reforçou a importância dessa modelagem para produtos sociais. "Esse tipo de ação, que, às vezes gera desconforto ou desconfiança, é fundamental para que as grandes transformações aconteçam. E a gente já está vendo isso", afirmou.

Panela de startups

Chamas falou ainda sobre o Panela, plataforma de inovação da Nestlé para aceleração de startups, um espaço aberto para ouvir e conectar. Vale dizer que, nos últimos três anos, a companhia já se conectou com 1800 startups, desenvolveu 150 pilotos e implementou 50 projetos em escala.

"O Panela nasceu um pouco antes da pandemia, veio se fortalecendo e, agora que a gente pode se encontrar fisicamente, ele tem um lugar maior ainda no nosso prédio. Construímos a Panela House, com um lounge para palestras, workshops e eventos", contou (leia mais sobre a abertura do espaço aqui).

Com essa estrutura, a Nestlé decidiu levar o Panela para um dos principais eventos de inovação do país: o Festival HackTown 2022, em Santa Rita do Sapucaí (MG). Cerca de 30 mil pessoas estiveram na cidade, acompanhando painéis e apresentações espalhadas por diferentes espaços. A Nestlé montou estrutura própria, o Panela Lounge, em um dos endereços mais tradicionais da região, o Inatel (Instituto Nacional de Telecomunicações).

No Panela Lounge, a companhia preparou palestras sobre o futuro da alimentação e abriu espaço para seus parceiros. Entre eles, a Hakkuna, uma foodtech que desenvolve uma proteína a base de grilo – isso mesmo, o inseto.

No HackTown, a Hakkuna preparou até bolo para que os visitantes degustassem um alimento enriquecido com a proteína. Havia também grilos desidratados e flavorizados (mostarda e mel, por exemplo). No Festival do Clube, a Nestlé também levou quitutes e os grilos enriquecidos com sabor da Hakkuna para que os delegados conhecessem uma alternativa de proteína.

Essa é uma solução alimentar que pode se desenvolver e se espalhar pelo país com a ajuda da Panela House, que oferece estações de trabalho para as startups que fazem parte de seu ecossistema de inovação. Elas podem passar o dia com o time da Nestlé ou até montar uma estrutura de trabalho no espaço. "O Panela é o combustível para o futuro que a gente quer na Nestlé", concluiu Chamas.

Marcia Melsohn (colaborou Lena Castellón)

Confira a programação do Festival aqui.

Leia todas sobre o Festival do Clube aqui.

Serviço:

10º Festival do Clube de Criação

Patrocínio master (ordem alfabética): Globo, Google, Santeria e Tik Tok.

Patrocínio/apoio (ordem alfabética): Africa, Alice Filmes, Apro + Som, Barry Company, Broders, Cerveja Avós, Draftline, Clube da Voz, Grupo de Atendimento e Negócios, Jamute, KraftHeinz. Landscape, Modernista, Mugshot, MyMama, Nescafé Dolce Gusto ,Not So Impossible, O2, Paranoid, Piloto, Publicis, S de Samba, Sentimental Filme, Shutterstock, TBWA Media Arts Lab, Untitled, Uol, Vetor Zero, WMcCann e Zohar.

Dúvidas ou desejo de se associar? clubedecriacao@clubedecriacao.com.br ou Whatsapp do Clube: 11 - 93704-2881

Facebook Clube de Criação 

@CCSPOficial no Twitter

@ClubedeCriacao no Insta

#festidaldoclubedecriacao

Festival do Clube 2022

/