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Festival do Clube 2022

Fome: organizando a tropa do avental

23.10.22

"A Fome e as Marcas", painel realizado na tarde deste sábado (22), converteu-se em um dos pontos altos da 10ª edição do Festival do Clube de Criação, reunindo um time eclético de especialistas, em entusiasmada interação com a plateia.

A moderação foi realizada pela professora Denise Oliveira, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz e coordenadora do Laboratório Brasileiro de Hábitos Alimentares. Ela iniciou o encontro tratando dos paradigmas vigentes no campo das marcas e da produção de alimentos. "Esse modelo foi desenvolvido para criar abundância para a humanidade, mas acabou centralizado em oito grandes conglomerados internacionais", pontuou. "Essa dinâmica privilegiou algumas culturas, como soja e milho, e não eliminou a fome do mundo".

De acordo com Denise, essa mercantilização da vida prejudicou comunidades indígenas e quilombolas, além de incentivar o desperdício e desvalorizar os saberes ancestrais das comunidades. “Precisamos alterar essa realidade porque este é um modelo civilizatório que não deu certo”, afirmou. “É necessário combater a visão vigente que naturaliza a desigualdade e a fome”.

O padre Júlio Lancellotti, responsável pela Pastoral do Povo de Rua de São Paulo, fez um emocionado apelo à plateia, composta, sobretudo, por jovens profissionais e estudantes nas áreas de gestão, comunicação e marketing. Ele criticou duramente os governantes e empresários que criminalizam o auxílio aos mais vulneráveis. "Partilhem o alimento, combatam a fome, enfrentem o preconceito contra os pobres, pratiquem a insubordinação e desobedeçam as ordens injustas", conclamou, arrancando aplausos do público. “Eu não utilizo nenhuma arma, tenho apenas o meu avental, que visto todos os dias pela manhã antes de alimentar as pessoas necessitadas; e eu convido vocês a também participarem deste combate pacífico, desse ato político cotidiano contra a aporofobia”.

Muito comovida com o testemunho, a chef e empresária Paola Carosella contou de sua trajetória pessoal, que evoluiu da cozinha para a interação de aprendizado com indígenas, quilombolas e movimentos sociais. Segundo ela, porém, esse posicionamento político lhe rendeu muitas críticas. “Fui chamada de esquerdista e comunista, porque não gostam que as mulheres assumam protagonismos, manifestem suas ideias e apontem as injustiças”, declarou.

Paola lembrou que essa participação teve início efetivo quando da ocupação das escolas públicas paulistas pelos estudantes, em 2016. “Fui ver o que estavam comendo e logo percebi como meu ato incomodou certas pessoas”, relatou. Segundo a cozinheira, existe hoje uma tentativa de tornar invisível a fome no Brasil. “O atual presidente diz que não há fome, porque não há luta quando achamos que algo não existe”, criticou.

Na opinião de Paola, os seres humanos são complexos e podem atuar em diferentes frentes ao mesmo tempo. “As empresas também devem colaborar nesse processo, porque nenhuma corporação deveria ter como único interesse vender produtos”, afirmou. “Abracem essa verdade e levem essa luta para o departamento criativo das empresas”.

Kattiele Haffner, head de sustainability, public affairs and communications da Coca-Cola, concordou. Segundo ela, as marcas não podem estar ausentes desse circuito das responsabilidades sociais e ambientais. “Antes o marketing era imperativo; era o faça isso, beba aquilo; hoje, a melhor experiência sugerida é de cocriação, de parcerias entre as corporações e a sociedade”, pontuou.

A gestora lembrou que a Coca-Cola mantém proveitosa parceria com a Ação da Cidadania e tem realizado ações conjuntas com outras entidades sem fins lucrativos, como a Gastromotiva, fundada em 2006 pelo chef David Hertz. “Sabemos de nosso potencial para realizar transformações sociais por meio da gastronomia”, salientou. “A iniciativa privada não será capaz, sozinha, de enfrentar tantos desafios, mas em rede podemos gerar impacto social positivo na sociedade”.

Em uma fala emocionada, no fim do painel, Rodrigo Kiko Afonso, diretor executivo da Ação da Cidadania, lembrou que os valores destinados ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) estão congelados desde 2017. Segundo ele, nesse período, não houve ganho real no salário mínimo, mas se registrou inflação de quase 200% nos alimentos. Afonso ainda criticou as decisões do atual governo federal, que extinguiu o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA).

A fome foi erradicada no Brasil, em 2014, mas as políticas atuais eliminaram todos os avanços obtidos e, hoje, vivemos a maior crise alimentar da história do nosso país, ao contrário do que dizem as autoridades federais”, protestou. “A fome voltou para milhões de famílias, mas tentam invisibilizar e naturalizar esse terrível problema nacional”.

De acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil, 58,7% da população brasileira sofre hoje em algum grau com a falta de comida. Na faixa dos mais vulneráveis, 33,1 milhões não têm o que comer e lutam desesperadamente pela sobrevivência.

Divulgada em junho último, a pesquisa foi realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), iniciativa apoiada por organizações como a Ação da Cidadania, a Oxfam Brasil e o SESC São Paulo.

Veja a programação do Festival aqui.

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Serviço:

10º Festival do Clube de Criação

Patrocínio master (ordem alfabética): Globo, Google, Santeria e Tik Tok.

Patrocínio/apoio (ordem alfabética): Africa, Alice Filmes, Apro + Som, Barry Company, Broders, Cerveja Avós, Draftline, Clube da Voz, Grupo de Atendimento e Negócios, Jamute, KraftHeinz. Landscape, Modernista, Mugshot, MyMama, Nescafé Dolce Gusto ,Not So Impossible, O2, Paranoid, Piloto, Publicis, S de Samba, Sentimental Filme, Shutterstock, TBWA Media Arts Lab, Untitled, Uol, Vetor Zero, WMcCann e Zohar.

Ingressos estão à venda na plataforma da Sympla (aqui). Garanta o seu.

Dúvidas ou desejo de se associar? clubedecriacao@clubedecriacao.com.br ou Whatsapp do Clube: 11 - 93704-2881

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Endereço Memorial: Av. Mário de Andrade, 664 - Barra Funda

Acesso pelo Metrô Barra Funda

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