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O lado bom do negócio é ter criatividade
Um negócio, para ser bom para a sociedade, precisa ter um propósito, abraçar valores humanos e sustentáveis, ser centrado em pessoas (em vez de em produtos) e, last but not least, ser real e honesto.
Foi com esta proposta (e em plena pandemia, em 2020) que nasceu a Delirio & Twain, uma consultoria criativa independente com sede em Madri. Para a fundadora e co-CCO da empresa, Eva Santos, qualquer marca ou negócio tem um lado bom. Foi sobre isso que falou no painel “The Good Side of Business”, no Festival do Clube de Criação 2022.
Em sua apresentação, o que mais se destacou foi a defesa apaixonada do valor da criatividade na propaganda. Na análise de Eva, a publicidade vem perdendo talentos por causa da sensação de que o criativo passou a ser algo secundário dentro da própria indústria da criatividade, como havia antecipado ao Clubeonline (leia mais aqui).
Não é apenas uma sensação. Pesquisa feita pelo LinkedIn mostra que a demanda por profissionais mudou no mercado publicitário: a busca por habilidades criativas caiu 17% nos últimos cinco anos, enquanto a procura por habilidade tecnológicas cresceu 47%.
O levantamento apontou ainda que a publicidade perdeu 5,5% mais pessoas do que ganhou. Os motivos da fuga de profissionais são vários, mas o principal é a falta de valorização.
“Nosso negócio era um negócio de alquimistas, se baseava no talento de determinadas pessoas. Mas ele se tornou o oposto, virou um distribuidor de comunicação. Transformamos o negócio em uma fábrica. Então, é como se não fossemos mais parte da indústria criativa. A publicidade é só uma pequena parte dessa indústria. A música e o cinema não ignoram o trabalho dos criativos”, criticou Eva.
Para ela, no entanto, a criatividade está mais em moda do que nunca. "Todas as indústrias estão buscando profissionais criativos, porque para reinventar as coisas é preciso criatividade. Mas, em lugar de aproveitar nossos talentos, nós os estamos desperdiçando”, observou.
Metodologia de trabalho
Para ilustrar seu ponto, Eva recorreu a uma famosa frase atribuída a Albert Einstein: “Loucura é querer resultados diferentes fazendo exatamente tudo igual”. “O nosso negócio é ter ideias que vendam e que toquem as pessoas. Os criativos têm uma metodologia de trabalho, mas achamos difícil traduzi-la”, comentou.
No caso da Delirio & Twain, a metodologia adotada se inspira no Atlas of Emotions, ferramenta interativa que ajuda a construir um vocabulário de emoções e iluminar o mundo emocional do usuário. O objetivo é ter mais controle sobre o que dispara as emoções e como a pessoa responde a elas.
A consultoria converteu essa ideia em uma metodologia de marketing que chamou de Good Side of Business, criada para ajudar a conectar o trabalho de consultoria com o de criação. “É um conceito que vai além da publicidade. Acreditamos que a criatividade é a ferramenta mais poderosa que existe para resolver problemas complexos. Pensamos nela de uma maneira mais transversal”, explicou Eva.
A metodologia é composta por seis passos, sendo três focados na parte de consultoria e análise estratégica e três voltados à concepção, implementação e mensuração dos resultados das soluções propostas.
Todo o trabalho tem como fundamento três conceitos básicos: introduzir ordem e sentido ao processo de pensamento; aprofundar a análise estratégica; e ter máxima flexibilidade, para conseguir se integrar ou se adaptar ao esquema de funcionamento do cliente.
Como exemplos do trabalho da Delirio & Twain, Eva mostrou campanhas criadas para Audi e para o time do Barcelona (veja os vídeos abaixo). Ao final, deixou um alerta: “Não podemos baixar a cabeça porque, se fizermos isso, não será bom nem para nós mesmos nem para a nossa indústria. E, em alguns anos, ela poderá se tornar irrelevante”.
Eliane Pereira
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