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Festival do Clube 2022

Kondzilla: 'A publicidade não é mais a mesma. Graças a Deus!'

28.10.22

Será que a atenção das pessoas realmente diminuiu ou é o conteúdo que não interessa? A resposta a esta pergunta interessa a inúmeros profissionais de diversas áreas, desde professores até criadores de conteúdo e publicitários. E foi com uma indagação nesse sentido que Tatiana Tsukamoto, diretora de criação da Creative Works, do Google Brasil, introduziu o tema da entrevista com Konrad Dantas, o Kondzilla, fundador e também diretor de criação da Kondzilla Filmes: "A atenção acabou? Viva o conteúdo intencional".

Segundo Tatiana, nos últimos cinco anos, o tema "fim da atenção" vem sendo muito falado na indústria do audiovisual. "A revista Time, em 2015, disse que estávamos com uma atenção menor que a de um peixinho dourado. Isso gera pânico nos criativos, porque tudo que a gente quer é que as pessoas parem para prestar atenção", disse. Mas ela trouxe outra perspectiva. "É verdade que as pessoas estão com menos atenção para muitos tipos de conteúdo, mas também é verdade que elas estão gastando muito tempo em conteúdos que elas consideram intencional", afirmou.

Para ilustrar a questão, Tatiana trouxe dois exemplos: um vídeo sobre uma corrida de bolinha de gude (que tem 1 hora e 37 minutos de duração e quase 4 milhões de visualizações) e a tendência observada no YouTube com mais de 3 trilhões de visualizações de vídeos sobre Minecraft. "Se as pessoas realmente não tivessem mais atenção, não teríamos como justificar este fenômeno acontecendo. A atenção hoje virou uma moeda indissociável da intenção. Ou seja, quando a gente de fato tem interesse em um determinado assunto, a gente mergulha nele", concluiu.

Segundo Tatiana, esse fenômeno acontece em todas as plataformas, mas as plataformas também têm vocação. E o YouTube é o lugar que as pessoas escolhem estar com intenção. "A prova disso é que o YouTube é o segundo maior buscador da internet, o que mostra que as pessoas não estão lá para ver qualquer coisa. Elas vão lá para se informar, para se entreter, para aprender sobre alguma coisa", afirmou.

O boom de conteúdo na ocasião do lançamento da segunda temporada de Euphoria, que não é do YouTube, foi um dos exemplos que Tatiana trouxe para justificar essa intencionalidade. As centenas de milhares de visualizações dos episódios da série da Paola Carosella sobre comida no Brasil também surgiu como exemplo, assim como 1,7 milhão de visualizações do vídeo de uma criadora que se chama Ribeirinha da Amazônia, que produz conteúdo sobre a vida dela na Amazônia e como ela faz a comida dela. "A atenção ainda existe quando a gente consegue entender o que as pessoas querem e criar conteúdo para elas", finalizou Tatiana.

Foi falando de intencionalidade que Tatiana justificou a escolha pela presença de Kondzilla no evento. "Ele é o rei do conteúdo intencional", disse. "São 66 milhões de assinantes no canal Kondzilla, o que, se fosse um país, seria o 23º do mundo em população. E além de criar os clipes, que foi como ele começou, lançou a série mais assistida da Netflix no Brasil, Sintonia, a terceira série de língua não inglesa no mundo, o que prova que é o cara para a gente falar de intenção."

Tatiana começou perguntando sobre a trajetória de Kondzilla desde o início da sua produção de conteúdo audiovisual, de funk, até agora, com a procura das marcas pelo trabalho dele. Antes de responder, Kondzilla interagiu com o público, que lotava a sala, fazendo perguntas sobre de onde são, quem é da favela e quem fez faculdade. Em seguida, foi bem objetivo ao dizer que começou a carreira para ganhar dinheiro. Ele queria sair do lugar onde vivia, no mangue, no Guarujá. Tentou vários caminhos que não deram certo, entre eles o rap, e, quando ganhou um gravador de CD da mãe, deu início à sua trajetória na indústria fonográfica, distribuindo as músicas dos amigos da região. "Algumas pessoas diziam que eu estava pirateando, mas como os direitos não eram protegidos, eu estava ajudando a difundir a arte daqueles talentos'', brincou.

Kondzilla queria muito trabalhar com publicidade e cinema, mas eram objetivos muito distantes para ele. "Eu tinha alguns sonhos e hoje tenho a oportunidade de trabalhar em todas essas indústrias", disse. "Para explicar um pouco do que é a Kondzilla, fomos reconhecidos inicialmente no mercado como uma companhia que trabalha com música, principalmente a música funk, que nos acolheu, depois publicidade e agora série de ficção, documentário", contou.

Para chamar a atenção no meio publicitário, passou a fazer muitos videoclipes, primeiro de esportes, depois de rap, rock, axé, forró, pagode, e no final de 2011, quando estava pensando em desistir, foi convidado a dirigir um DVD do Charlie Brown Jr. "Eu não queria aceitar, mas acabei fazendo. O combinado era ir para a estrada com eles. Mas aí, em janeiro de 2012, fiz oito videoclipes de funk cobrando R$ 2 mil e assim começou minha história no funk", contou.

De tentar aparecer a ser procurado por marcas, foi um longo caminho. Kondzilla deve essa posição hoje a dois principais motivos. "Primeiro, pela audiência que a gente gera dentro dos conteúdos. E segundo por ter uma legitimidade, um lugar de fala para se comunicar com o público jovem de periferia", disse.

"Hoje eu tenho que ter uma estrutura, um time comercial, um time criativo, um time de planejamento. Eles vão construir junto às plataformas, junto às agências, para apresentar isso como solução para os anunciantes", destacou. "Acredito que todas as plataformas têm uma verba para queimar gerando audiência orgânica para todo mundo. E quando esse recurso acabar, vai trocar a gestão e vai precisar faturar. E é nesse momento que eu enxergo que estão a Kondzilla, o mercado e todo mundo que precisa produzir conteúdo no nosso território. Mas como boa parte do Brasil é classe C e D, as pessoas não têm recurso para comprar assinatura de todas as plataformas, então a gente vende o nosso tempo através da interrupção, de um anúncio que interrompe aquele conteúdo que a gente está produzindo, pode ser conteúdo de um minuto, de três ou uma série de cinco episódios de 40 minutos. Então, aqui no Brasil a audiência acabou entendendo, aprendendo e consumindo conteúdos com interrupção", explicou.

Sobre anúncios menos interruptivos, foi apresentado um case da Kondzilla com as Casas Bahia, "um trabalho muito integrado da marca e da agência com a produtora". O vídeo teve 25,3 milhões de usuários únicos, 80% de quem assistiu gostou e considerou comprar mais depois de ver o videoclipe e a peça ainda provocou um boom de vendas. "A gente conseguiu colocar bastante da nossa experiência nesse projeto. Misturamos os universos da publicidade, do audiovisual e da música. Foi muita ousadia da Via e da VMLY&R poder fazer isso a oito mãos, junto com o Creators Connect, do Google", falou Kondzilla.

"Eu sou pago como produtora, mas sou avaliado como performance. Então, se isso não estiver muito alinhado com a plataforma, que nesse caso foi o YouTube, não vai alcançar os indicadores, não vai alcançar audiência e vai dar a sensação de que não faz sentido trabalhar comigo", comentou. "Se eu pensar em faturar sozinho e não dividir com a plataforma, não vai ter alcance. Eu e o nosso departamento comercial temos rodado as agências no Brasil explicando este modelo. Os 66 milhões de inscritos que temos são da plataforma, não são meus. Eu não os conheço, o Google sim. Entendo o meu lugar hoje na indústria e quero compor junto ao YouTube, junto ao Google e todas as outras plataformas que estão nos dando a oportunidade de produzir os nossos sonhos, com o recurso de um anunciante", afirmou.

Kondzilla acredita que hoje o principal desafio para os novos criadores está relacionado ao novo formato da publicidade. "É uma publicidade digital. A maior dificuldade de quem vai chegar na indústria da publicidade como criativo é ter que aprender com quem não quer lidar com esse novo formato", disse.

"Tenho ouvido muito por aí pessoas comentando que o festival de Cannes esfriou, que a publicidade não é mais a mesma. Graças a Deus, nem vai ser. Quem tem menos de 30 anos é que vai tocar essa indústria. Não temos que absorver 100% do formato que funcionava 25 anos atrás. A gente é nativo do digital. Montamos um departamento na produtora em que as pessoas são proibidas de mexer no computador, é tudo no celular. O celular é o novo formato e o nosso concorrente é o garoto de 13, 14 anos produzindo conteúdo com um telefone chinês", afirmou.

O futuro da produtora Kondzilla, segundo seu fundador, será focado na educação. Ele acredita que há muito dinheiro disponível no mercado de audiovisual, muitos projetos, muitas plataformas com inúmeros planos para o Brasil, mas falta mão de obra. Por isso, o Instituto Kondzilla, no Guarujá, vai trabalhar formando jovens da periferia para suprir esta demanda e, ao mesmo tempo, dar oportunidade a quem quer e precisa trabalhar. A iniciativa foi apoiada inicialmente pelo Instituto XP, da XP Investimentos, e pelo TIG Setúbal, uma das iniciativas do terceiro setor do Itaú. "Vamos formar inicialmente 40 jovens, que terão, além da formação, acompanhamento e auxílio, para que possam ficar confortáveis e com uma preocupação a menos", contou Kondzilla.

Sobre se manter grande e relevante depois de tanto tempo, Kondzilla disse que o motivo é simples: "Produzo conteúdos que eu gostaria de consumir se tivesse 15 anos". E completou: "Quero continuar ajudando, acelerando, nutrindo o sonho de quem vem de onde eu venho".

E no final, Kondzilla deixou o seguinte recado: "Vamos construir nossas próprias agendas, entender o momento de todas essas companhias. Hoje estão falando de ESG, pode ser que no ano que vem mude a pauta, e a gente tem que estar muito estruturado para não ficar desassistido. Meritocracia não existe, a gente não parte do mesmo lugar. Mas, não tem outro jeito a não ser perseguir nosso sonho, batalhar. A gente vai pilotar essa indústria! Fé em Deus e nas crianças da favela!".

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Serviço:

10º Festival do Clube de Criação

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