Festival do Clube 2022

A 10ª edição do Festival do Clube de Criação trouxe, em grande estilo, uma reflexão sobre os desafios da reconstrução do eu nas novas dimensões da realidade. O tema foi discutido por Christian Perrone, advogado, coordenador de estudos sobre metaverso no Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS Rio) no painel “A reconfiguração do indivíduo na era da Web 3 e do metaverso”.

Perrone mostrou que as experiências mais básicas do metaverso se dão dentro da própria mente humana, quando o indivíduo se imagina no corpo de um super-herói, de um famoso aventureiro ou de um personagem histórico. Essas sensações, segundo ele, são potencializadas por estímulos externos, como a simples leitura de um livro. “Eu mesmo me projetava na figura do Harry Potter”, revelou.

O pesquisador explorou brevemente o conceito de realidade na neurociência, mostrando que o cérebro, por vezes, não é capaz de estabelecer distinções claras entre o que é realmente vivido e aquilo que é imaginado. Também observou que os sentidos podem ser facilmente enganados, como ocorreu na célebre projeção dos irmãos Auguste e Louis Lumière, nos primórdios do cinema, de um trem aproximando-se de uma estação. Muitos telespectadores fugiram da sala, em pânico, receosos de serem atropelados pela locomotiva.

Em tempos modernos, as mentes podem ser ludibriadas por sistemas mais complexos e evoluídos de reprodução de ambientes. Um vídeo exibiu pessoas assustadas por suporem caminhar por uma estreita prancha estendida para o vazio a partir do topo de um edifício.

De acordo com Perrone, as mais ricas experiências do futuro próximo devem explorar as potencialidades do avatar, ou seja, das figuras inventadas que representarão os indivíduos nos espaços virtuais. “Será uma forma das pessoas refletirem no espelho sobre quem são e como querem se apresentar em cada situação da vida”, pontuou.

Ele também mostrou as aplicações práticas das realidades simuladas. Será o caso de um esportista vivenciando uma prova olímpica, um médico realizando uma cirurgia e um candidato a piloto conduzindo uma aeronave em situação de emergência.

Também explorou a ideia da realidade como instrumento de desenvolvimento da empatia e de educação para a civilidade. O exemplo utilizado foi de um homem branco que, no metaverso, tem a pele negra e enfrenta uma série de situações de racismo, como bullying na escola, desprezo em uma entrevista de emprego e violência em uma batida policial.

Identidade e privacidade

Segundo Perrone, há questões éticas e legais a serem consideradas no desenvolvimento da vida no metaverso, como a questão da identidade digital. Outro desafio, de acordo com o palestrante, será garantir a privacidade e a incolumidade dos dados daqueles que utilizarem esses recursos e plataformas.

Por fim, o tecno-advogado destacou um problema de natureza filosófica: os riscos inerentes à fragmentação da realidade. “Se hoje, no tempo das fake news, os fatos já são tão adulterados, com diferentes narrativas, imaginem o que ocorrerá quando o desenvolvimento da tecnologia permitir reproduções muito mais aprimoradas da realidade?”, questionou.

Walter Falceta

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Serviço:

10º Festival do Clube de Criação

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