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O momento do audiovisual e suas oportunidades
É inegável que o mercado audiovisual brasileiro vive um bom momento, graças à expansão das plataformas de streaming. Esse foi o consenso dos participantes do painel “Séries, TV, Cinema: linguagem e inovação”, realizado no Festival do Clube de Criação 2022.
O debate contou com as participações de Fernanda Menegotto, diretora executiva e cofundadora da VBrand; Heitor Dhalia, cineasta e sócio-diretor da Paranoid; Luís Lomenha, cineasta e roteirista da Jabuti Fimes e showrunner em um projeto da Netflix; Mayara Aguiar, diretora do núcleo de dramaturgia da Globo; e Marcus Baldini, cineasta e sócio-diretor da Damasco Filmes. A mediação foi da jornalista Lena Castellón.
Os participantes do painel começaram o debate analisando o momento do mercado e como se situam nesse cenário. Heitor Dhalia lembrou do início de sua carreira, na publicidade, e de quando vendeu um apartamento para fazer seu primeiro filme. Hoje, a grande diferença é que antes pagava para fazer seus projetos e agora recebe para fazê-los. Atualmente, ele está desenvolvendo “DNA do Crime”, para a Netflix, e depois irá tocar “Torto Arado”, baseado no livro de Itamar Vieira Júnior, para a HBO Max.
“Antes, o mercado estava dividido em duas partes, a publicidade e o cinema, que era aquela coisa suada, difícil, que viveu um ciclo muito poderoso com o fundo setorial, com uma política pública desenvolvida pelo Manoel Rangel [Ancine], que trabalha na minha produtora hoje. Foi um grande ciclo no cinema que foi encerrado nesse governo atual”, avaliou Heitor.
Por outro lado, as plataformas de streaming cresceram no Brasil, estimulando novas produções. Heitor comentou que se reuniu com um dos diretores da Netflix e que ele afirmou que não existe situação melhor hoje do que ser produtor de audiovisual no Brasil.
Baldini concordou, dizendo que o momento é de muita ebulição de produção e que nunca tantas histórias puderam sair do papel. “Eu mesmo estou com projetos que tinha há cinco, seis anos e achava que seria difícil de realizá-los. Acho que o momento dos streamings, a demanda por conteúdo no Brasil e a importância que o país tem no mercado dos players trouxe o interesse por histórias regionais, mas que possam viajar. Esse é o interesse das plataformas, histórias que sejam regionais, mas que rompam com a barreira do Brasil”, explicou.
Para Fernanda, há também um aumento nos formatos mais longos. Sua empresa trabalha desenvolvendo projetos que envolvem marcas como coprodutoras e cocriadoras de produções longas, como séries documentais. Nesse modelo, elas não entram fazendo propaganda tradicional, porém viabilizando um projeto.
“Diria que, nessa perspectiva, de conteúdo de entretenimento de marca, a gente vive um momento de muita potência pela convergência de contextos, de audiência e consumidor que as empresas tanto falam. O público quer conteúdo de verdade, não quer mais ser interrompido na experiência de entretenimento”, afirmou Fernanda. A VBrand, por exemplo, assina com o Cinegroup e o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, o documentário "Retratos de uma Pandemia: Na linha de frente do combate à covid-19", lançado em agosto no Globoplay.
Lomenha acrescentou mais um aspecto na análise do momento do mercado. Ele destacou a diversidade nas produções nacionais, com mais diretores e produtores negros. Lomenha citou o exemplo da ONG Cinema Nosso, escola de formação para jovens da periferia que prepara esses talentos para o mercado audiovisual.
Mas há desafios. “Hoje, a gente tem um mercado extremamente aquecido e uma dificuldade gigante de formar uma equipe para fazer uma série. Acabei de sair do meu maior projeto até agora, uma série para Netflix de ficção sobre a chacina da Candelária e a gente vê a dificuldade que o mercado enfrenta para formação de equipe, desde o mais básico, de maquinário, até a direção, câmera”, comentou.
Ele foi acompanhado em sua fala por Mayara Aguiar, uma das diretoras da novela “Cara e Coragem”, que concordou que o audiovisual brasileiro vive um bom momento, mas ainda precisa avançar com políticas públicas e aumentar a diversidade para colocar no ar mais projetos indígenas, de profissionais LGBTQI e de pessoas pretas.
Ainda sobre a oportunidade criada pelo boom dos streamings, Lena fez menção a números recentes da Netflix, que, depois de um período de baixas, mostrou em seu balanço do terceiro trimestre que voltou a subir. Em carta da companhia endereçada aos acionistas, como destacou a jornalista, a mensagem foi a seguinte: “Operamos em um setor altamente competitivo, no qual as pessoas têm muitas opções de entretenimento diferentes – de TV linear a streaming, de YouTube a TikTok e jogos a mídias sociais. O lado bom é que a oportunidade é muito grande e está crescendo”.
Nessa temática, a das oportunidades, Heitor discorreu sobre a popularidade das séries criminais. Ele tem em seu currículo a altamente popular série “Arcanjo Renegado – 2ª Temporada” (Globoplay). A ideia do projeto surgiu de José Junior, fundador do grupo cultural AfroReggae. Dhalia falou sobre os motivos que levaram Junior a ter sucesso como showrunner, citando a história do produtor e ativista com a ONG.
“Essa experiência no mundo das séries de ação e de crime veio com o entendimento de que você só pode falar de um universo se tiver alguma propriedade de compreensão do que ele é. Nosso erro é olhar muito para os temas de maneira fetichista. É se inspirar em séries que já viu, mas você não conhecer nada do que está retratando. Obviamente, essas séries e esses produtos estão fadados ao fracasso.”
O painel passou ainda por outros temas, como a série “O Rei da TV”, recentemente lançada e dirigida por Baldini para o Star+, e a questão jurídica. A produção, cujo trailer teve cerca de 8 milhões de views, é uma biografia não-autorizada de Silvio Santos. “Era uma discussão grande. A gente tinha uma mesa com o pessoal do fact checking de um lado, os advogados da Disney e da produtora, do outro. A gente ficava discutindo o que podia ou não a cada linha do roteiro”, contou Baldini, que deixou claro que não houve qualquer tipo de autorização da parte de Silvio Santos. “Não conseguiria fazer de outra forma. Quem assistir, vai sentir que não é uma série chapa branca.”
Produto nacional por excelência, as novelas também foram pauta do painel. Afinal, o formato está vivendo um novo momento, com o interesse maior pelas plataformas de streaming de vídeo. Para Mayara, o streaming é o futuro: “Eu confio muito no folhetim e acho que tende a crescer com o streaming”.
A diretora falou ainda sobre a diversidade no maior produtor de novelas da América Latina e sobre ser a primeira diretora negra no departamento de dramaturgia da TV Globo, onde está há nove anos. “Esse movimento é tardio, mas ele está acontecendo. Eu precisava ver os meus e as minhas lá e esse processo está acontecendo”, celebrou.
Mayara também falou sobre duas outras diretoras negras que se juntaram ao time de teledramaturgia da TV Globo: “No ano que vem, teremos Juh Almeida e Ju Vicente fazendo duas novelas, uma na próxima das 19h e a outra fazendo ‘Terra Vermelha’, que é novela das 21h. Espero que esse processo não pare e que esse movimento seja o primeiro de muitos”, disse ela, que deverá lançar um longa em 2023. Vale dizer que Juliana Vicente assina a direção do documentário “Racionais – Das ruas de São Paulo pro mundo”, que estreia no dia 16 deste mês na Netflix.
Mais duas questões entraram para a pauta do painel. Baldini destacou a importância da produção independente no mercado brasileiro. Ele lembrou do filme “Bruna Surfistinha”, que dirigiu, e de como a atriz Deborah Secco não foi sua primeira opção. Ele teve liberdade para escolher outra protagonista, mas o fato é que Deborah acabou por conquistar o papel. "Essa autonomia só existe no produto independente, que é autenticamente brasileiro. Ele pode se somar aos projetos dos streamings. Uma coisa não exclui a outra. Como identidade cultural, o produto originalmente brasileiro tem um papel insubstituível”, ressaltou.
Já Lomena reforçou que não adianta ter apenas diretores negros na produtora para aumentar a diversidade. É necessário que mais profissionais negros se tornem donos de negócios e controlem o dinheiro. Ele deu como exemplo o carnaval, onde iniciou sua carreira. “Quando eu falo de termos contratos com empresas de pessoas negras, eu me lembro do carnaval. Via contratos de um espetáculo da comunidade negra, mas quem comandava eram pessoas brancas. Em termos de produção de dinheiro, eu voltava para minha casa ferrada e o presidente ia para a casa incrível dele”.
Danilo Telles
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