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Tecnologia, solidão e a busca por conexões humanas + profundas
Em um mundo cada vez mais interconectado por meio da tecnologia, as nuances da solidão e dos relacionamentos contemporâneos tornam-se tópicos de discussão essenciais. Neste ano, outro tema correlato ganhou destaque a partir de uma apresentação no SXSW: a intimidade artificial, expressão que denota a superficialidade das relações em um momento em que os holofotes estão sobre a inteligência artificial e sobre as facilidades das conexões digitais (relembre aqui o que foi apresentado em Austin).
Especialistas de distintas áreas se reuniram para mergulhar nessas questões no painel "Solidão, relacionamentos contemporâneos e intimidade artificial", realizado no Festival do Clube de Criação 2023 e que teve a mediação de Gal Barradas, fundadora da Gal Barradas Brand&Venture.
Participaram do debate André Alves, psicanalista, escritor e cofundador da consultoria Float (que atua na intersecção de estratégia, produção de conteúdo e experiências de aprendizado); Carolina Massière, diretora criativa da BeContent, produtora de conteúdo com projetos focados em mulheres; Dimitra Vulcana, professora doutora em ciências da saúde, podcaster, drag queen e youtuber do canal Dra. Drag; e Lídia Cabral, fundadora da Tech4sex, plataforma de conteúdo, pesquisas e tendências para o bem-estar sexual.
Gal abriu o painel com uma reflexão sobre a natureza da solidão na era digital. Ela observou que, em meio a uma enxurrada de possibilidades de contatos proporcionados pela tecnologia, muitos ainda se sentem isolados e desprovidos de conexões significativas. "A tecnologia é uma solução para quem já queria uma não dependência das outras pessoas, ou ela é um acelerador de solitários?"
Outro ponto levantado por Gal se refere a paradoxos em meio a tantos avanços. Afinal, a tecnologia leva informação para os quatro cantos do Brasil e, ao mesmo tempo, é preciso lidar com fake news. “Quando a gente fala de solidão, também existe um paradoxo: toda vez que conseguimos ter um momento nosso, estamos com o celular na mão”.
Com sua experiência como psicanalista, André Alves mergulhou na complexidade da psiquê humana e em como ela se adapta à era digital. Também ressaltou a diferença entre estar conectado e sentir-se verdadeiramente conectado. "A gente tem muitas tecnologias de conexão e aproximação, mas não temos tecnologias de manutenção das relações", afirmou.
Dimitra Vulcana, ou Danilo Lima Carreiro, trouxe uma abordagem sócio-histórica ao debate. Ela explorou como a sociedade contemporânea, moldada por valores neoliberais, promove uma subjetividade individualista. Dimitra discutiu a tensão entre cooperação e competição na sociedade atual. "Por mais que a gente queira virar essa chavinha de competição para a cooperação, nós convivemos em uma sociedade que precisa competir."
Carol Massière tratou da necessidade de as marcas e as pessoas se humanizarem e se conectarem de maneira genuína e não apenas através de interações digitais superficiais. "Empresas são seres abstratos. Mas, por trás das companhias, existem pessoas. Acho que a gente precisa investir mesmo é em humanizar pessoas”, analisou. Ela reforçou ainda o valor da empatia e da autenticidade nas interações.
A intersecção da tecnologia com a sexualidade foi a abordagem de Lídia Cabral. Em sua visão, a era digital está moldando uma nova revolução sexual, que é mais inclusiva e diversificada. Ela mudou a maneira como nos conhecemos e nos relacionamos.
No entanto, é importante ter em mente outros aspectos. Lídia falou de uma experiência que teve com uma plataforma de IA chamada Replika, que traz o seguinte apelo: “the AI companion who cares”. O ponto é que o avatar começou a flertar com ela, revelou. Qual o impacto desse tipo de interação em uma pessoa solitária?
“Com a IA não prevemos para onde a conversa pode ir. Temos de ter um firewall que bloqueie, que ponha um limite ao tratar de determinados temas. Foi um choque. Imagino o impacto em alguém que venha mesmo a acreditar que está em um relacionamento com o avatar. Hoje vivemos a intimidade artificial, que é a ausência da presença. Às vezes, estamos fisicamente ali, mas não de verdade. Estamos fisicamente, mas a mente está em outro lugar, através do celular", completou.
Com isso, ficou claro que a tecnologia trouxe oportunidades de relacionamentos na era hiper conectada, porém implicou em novas complexidades. A verdadeira intimidade e autenticidade na interação com as pessoas permanecem como pilares essenciais para a saúde mental e bem-estar na sociedade digitalizada. A busca contínua é por um equilíbrio entre aproveitar os benefícios da modernidade enquanto mantemos conexões humanas profundas e significativas.
Danilo Telles e Fernanda Beirão
11º Festival do Clube de Criação
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