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Festival do Clube 2023

Sons que o Brasil ouve: funk, rap, trap... E a vez dos ritmos latinos

22.09.23

Que o funk, o hip hop, o rap e o trap são fortes fenômenos da cultura pop, inclusive sob o ponto de vista do consumo, isso está claro, vide o topo das paradas dos streamings de áudio e das plataformas de vídeo no país, tá ok?, como diriam Kevin o Chris e DJ Dennis. Mas para onde esse movimento caminha e de que maneira a publicidade se insere nesse cenário? É o que o painel "Música e cultura urbanas: a ascensão do funk, hip hop, rap, trap" promete discutir no 11º Festival do Clube de Criação, neste domingo 24, na sala da Criatividade, às 18h30, no Memorial da América Latina.

Essa não será a única mesa em que a música estará no centro do debate. Também no domingo, às 10h45, vai acontecer um painel que poderá mexer com sua ideia do que é música latina. O rótulo, criado pela indústria musical, em especial a dos EUA, abriga uma série de estilos e artistas, alguns em ascensão meteórica naquele mercado, como mostram, por exemplo, os colombianos J. Balvin e Karol G  - a cantora, por sinal, está em um remix de "Tá ok", junto com outro colombiano, Maluma, e os dois brasileiros.

Mas e por aqui? Cumbia, ritmos afro-caribenhos, reggaeton e nomes como o do uruguaio Jorge Drexler... o que dizem da maneira como estamos consumindo os gêneros musicais cantados em espanhol ou inspirados nas expressões de artistas de outros lugares desta porção do continente em que vivemos? É o que veremos no painel “Ritmos latinos enfim estão conquistando espaço no Brasil?”, na sala Congressistas.

Sobre a extrema popularidade do funk, do rap e seus subgêneros – que chegaram ao mainstream –, Caio Corsalette, fundador da Canguru Records (selo em parceria com a Universal Music) e moderador do painel sobre música e cultura urbanas, ressalta que o movimento cresce no Brasil e no mundo. “A música urbana é o assunto do momento e o motivo desse crescimento é uma combinação de fatores, incluindo a capacidade desses gêneros de dar voz às comunidades urbanas periféricas, a disseminação da cultura hip-hop e ao maior acesso as mídias digitais", diz.

No caso do funk, ele pontua que o gênero está dominando rankings por várias razões. "O Brasil é um dos países que mais consome música local. E o funk é produto cultural brasileiro. Autêntico, original, vibrante, que está sempre se renovando e é essencialmente popular."

Caio tem experiência no mercado de música e entretenimento. Foi coordenador artístico da MTV Brasil, colaborando com projetos como Acústico MTV, VMB, Yo!Raps, Rock & Gol e Luau MTV. Na ViacomCBS, atuou como diretor de talentos e música, participando de produções como MTV EMA (Europe Music Awards) e VMA (Video Music Awards). Ele também é diretor artístico e sócio do m-v-f, plataforma voltada para a produção de vídeos musicais.

No painel estarão ainda Flávio Saturnino, fundador do portal PopLine; Alana Leguth, sócia-diretora da KondZilla e criadora do selo HERvolution; João Assis, gerente de música urbana da Universal Music; Camila Alam, gerente global de conteúdo criativo de Chivas Regal, do Grupo Pernod Ricard; e CCO Latam da Wieden + Kennedy, Felipe Ribeiro.

Lançado em julho de 2006, o PopLine é um dos maiores portais sobre música pop (nacional e internacional) na América Latina. O soteropolitano Saturnino, além de responsável por sua criação, cuida do planejamento e da parte técnica da empresa. Segundo dados do próprio PopLine, o portal recebe por ano mais de 120 milhões de acessos e está entre os veículos mais populares nas redes sociais, somando mais de 3 milhões de seguidores no Facebook, Instagram, Twitter, TikTok, Kwai e YouTube.

Santista e farmacêutica de formação, Alana atuou dois anos no setor, mas mudou radicalmente de trajetória profissional. Chegou a ser redatora publicitária em Santos, onde, ainda na adolescência, conheceu o funk. Foi na música que se encontrou profissionalmente. Apresentada por amigos em comum a Konrad Dantas, com quem se uniu na vida e nos negócios, criando a KondZilla, que virou referência no universo musical e no setor de influência.

Em 2020, Alana idealizou e fundou o selo musical HERvolution, que dirige. O projeto promove a criação de espaço e protagonismo para talentos femininos da música urbana. Pouco depois de ser lançado, o HERvolution recebeu a proposta de ser transformado em um programa de televisão semanal. Alana e o HER foram indicados ao WME Awards 2021, nas categorias Profissional do Ano e Inovação na Web, respectivamente. O selo inclui as artistas MC Taya, DJ Gaby Soares, MC Lianna, MC Lynne e Nathy MC.

Com formação em Relações Públicas, o carioca João Assis tem uma importante história como empreendedor. Em 218, ele criou a Crivo, empresa voltada para a gestão de carreira focada em talentos do cenário urbano e independente brasileiro. Na mira, músicas oriundas de ambientes como periferias e favelas. Em suas palavras, o nascimento da Crivo se deu por uma defasagem técnica, qualitativa e financeira que ele percebeu ao começar a trabalhar como produtor artístico executivo. Ele ganhou diversos prêmios de aceleração de startups. A empresa fez parceria com as mais importantes gravadoras do Brasil. “Tiramos nosso iguais das ruas e levamos para uma realidade onde viver de música é possível”, declarou, numa ocasião, referindo-se à Crivo.

Camila Alam, por sua vez, levará ao palco a visão do anunciante. Jornalista, ela tem atuado com a produção de conteúdo para marcas há mais de 15 anos. Tem passagens por Trip, TPM, Carta Capital, Rolling Stone e Harper’s Bazaar. Seu trabalho com marcas deu largada com a Red Bull, na qual foi editora e responsável pelos canais de conteúdo da empresa no Brasil. Depois, passou por agências como Mutato e Cubocc. Para a marca Chivas, um dos projetos que desenvolveu foi o “Brindando o Corre”, série no formato videocast feita com o Podpah, em 2022. Nela, a dupla de apresentadores Igão e Mítico entrevistou artistas brasileiros que são inspiração para a população. Participaram do projeto Ludmilla, Baco Exu do Blues, MC Davi e Urias.

Felipe Ribeiro, também santista, que passará a ser co-CCO da W+K em Portland, sede da empresa, conforme noticiado pelo Clube aqui , atua como diretor executivo global de criação para a Budweiser. Na nova função, irá atender clientes como Nike, P&G, Visa e HP e seguirá com seu trabalho com a AB InBev. Em seu site de perfil profissional, Felipe conta que cresceu entre canoístas e músicos e chegou a ser vocalista de uma banda hardcore. Embora esses dias tenham ficado para trás, como ressalta, ele se mantém inspirado pela cultura jovem e pela música.

Somos latinos

Passando para outros ritmos, a comunicadora, empreendedora e DJ Flávia Durante está a cargo da mediação do painel que vai falar de músicas latinas, na sala Congressistas. Ela é diretora da Cena Pop, pela qual produz eventos como Pop Plus, Baile do Bowie e Carnaval Latino, que reúnem moda, música e diversidade através do fervo. Desde 2012, produz em São Paulo o Pop Plus, feira de moda e cultura plus size. E é ainda pesquisadora musical: em seus sets como DJ viaja pela sonoridade de países latino-americanos, ibéricos e do Oriente Médio e Norte da África.

No palco, o argentino Hernan Halak, que dirige a produtora cultural Mundo Giras desde 2010, vai compartilhar sua experiência desenvolvendo projetos na América Latina tendo o Brasil como eixo principal. Ele trabalha com diferentes formatos: música, teatro, circo, dança, exposições, intervenções e festivais, buscando promover a diversidade artística com uma programação que une distintas vertentes culturais. Também é diretor e curador do Festival Mucho, que trabalha a cultura latino-americana em São Paulo.

Quem também irá apresentar uma visão de produção cultural é Felipe França Gonzalez, diretor da Difusa Fronteira, que, desde 2006, organiza apresentações de música, teatro, dança, circo, oficinas e intervenções urbanas de grupos artísticos latinos no Brasil e de grupos e músicos brasileiros em outros países da região, caso de Lenine (em toda a América Latina, exceto Brasil). A empresa atua também no planejamento de carreiras de bandas como Francisco, el Hombre. A Difusa e a Mundo Giras promovem em conjunto o Festival Mucho.

Artistas também vão dividir suas experiências nessa estrada. A atriz e cantora Tetê Purezempla é integrante do Cumbia Calavera, que se define como uma fanfarra latina nascida da diversidade cultural de São Paulo. O grupo foi fundado em 2017 e faz uma releitura instrumental da cumbia em composições clássicas e autorais, difundindo melodias e elementos rítmicos da cumbia chicha, colombiana, música folclórica andina e música popular brasileira.

A estética do Cumbia Calavera chama atenção: nasceu inspirada por uma cena do filme “Poesia Sem Fim”, do chileno Alejandro Jodorowsky, onde várias pessoas vestidas de caveiras invadem as ruas tocando e dançando (para ver mais, acesse o canal do grupo no YouTube). A partir disso, e com a vontade de trazer a cumbia, ritmo que atravessa toda a América Latina hispanofalante, para o carnaval de rua paulistano, aconteceu a primeira saída da fanfarra. Os integrantes saem vestidos e maquiados numa iconografia que remete à Fiesta de los Muertos, do México.

Fábio Carrilho, diretor musical da La Caravana Orquestra, levará o público para outra região do continente. O grupo é composto por 11 musicistas de países como Cuba, Chile, Venezuela e Brasil, reverenciando em seu repertório a música afro-caribenha de grandes orquestras (confira o som no canal da caravana aqui). Em 2020, La Caravana Orquestra foi premiada com o 1º Prêmio Aldir Blanc de Apoio à Cultura da Cidade de São Paulo. Guitarrista, tresero, pesquisador musical e arranjador, Fábio é mestre em música. Tem presença contínua no cenário de música latino-americana em São Paulo nos últimos dez anos.

Discutir música latina e sua expansão pelo Brasil passa por várias camadas, inclusive pela discussão a respeito do público que está ouvindo essa produção. Pelo país, desde os anos 90, há registros de algumas modas, como "Macarena", Shakira e "Despacito" (de Luis Fonsi). “Há um certo público de massa que acaba aderindo”, observa Fábio. Há ainda os aficionados por música (público que sempre existe) e o povo da dança, para citar alguns. “Mas, de um modo geral, há uma maior adesão. Até porque o acesso é muito mais fácil. As pessoas não estão presas à grande mídia”.

Entre os ritmos mais badalados nos tempos mais recentes, por assim dizer, tem o reggaeton, a bachata (gênero famoso na República Dominicana), a cumbia, e sempre a salsa. Há um fato que merece menção: nas grandes cidades chegam músicos de outros países que decidem se apresentar por aqui.

Nos EUA, por exemplo, por volta dos anos 50 desembarcaram muitos imigrantes, levando para o país sua cultura local. E isso ganhou proporções. “No Brasil, principalmente em São Paulo, estamos recebendo muitos músicos de fora. Para que essas músicas de outras culturas tenham mais espaço, o primeiro ponto é que elas sejam tocadas, por músicos e DJs imigrantes, em shows, eventos e festas”, completa Fábio, que defende o fomento das músicas de origem latina feitas por profissionais que vivem aqui. Também é preciso valorizar os locais que abrem portas para esses artistas.

Na visão dele, é essencial ainda romper barreiras, não apenas a linguística, mas social. Uma parte da população, sobretudo a classe média, se aproxima mais da cultura musical dos EUA e europeia, olhando com preconceito para a produção dos países vizinhos e caribenhos, pensando tratar-se de algo inferior. “E tem ainda muita desinformação”, acrescenta. É como se tudo fosse um mesmo ritmo.

A esse respeito, aliás, Hernan costuma provocar uma reflexão quando alguém fala de “música latina”, englobando a produção de distintos países em uma única caixinha. “É um termo que o mercado conseguiu colocar num lugar para enquadrar um monte de ritmo musical. Isso é muito amplo. Eu falo sobre música na América Latina, em que você tem jazz, pop, rock, reggae, vários estilos. A maioria das pessoas quando se refere à música latina, pensa em Shakira, em reggaeton. Que faz parte, só não é tudo”, observa. Por sinal, talvez os brasileiros não percebam, porém a música que se produz aqui também é da América Latina.

Segundo Hernan, este é o sétimo ano consecutivo em que, nos streamings de áudio, a música na América Latina é a que mais cresce no mundo. Muitas companhias de festivais estão se movimentando nesse caminho. A Live Nation, por exemplo, comprou em dezembro de 2021 a Ocesa, uma das maiores plataformas de festivais no México. E em julho passado adquiriu o controle da Páramo, a promotora de eventos musicais líder na Colômbia. “Eles compraram porque sabem que o mercado na América Latina está bombando faz tempo”, diz.

O Brasil está notando isso. Muitos artistas daqui vem procurando Hernan para fazer turnês em outros países da região. “A América Latina é a bola da vez porque tem diversidade, tem todos os climas, tem todas as comidas, tem uma mistura rica e linda que faz qualquer estilo musical funcionar. A América Latina é uma salada em que tudo funciona. É o melhor lugar para conseguir trabalhar, tanto de dentro do Brasil para fora quanto de fora para dentro do Brasil porque América Latina é Brasil também. Brasileiro às vezes não se sente latino, mas é latino. Existem barreiras que são mais psicológicas do que reais”.

Tetê Purezempla reforça esse argumento dizendo que é preciso questionar de onde vem o conceito único “música latina”. “O Brasil é latino e todos os ritmos brasileiros são latinos também. Quando a gente se refere exclusivamente à música originada em países hispanofalantes como música latina, a gente toma um recorte que deixa o Brasil fora de um grupo e deixa esse grupo fora do Brasil. Isso divide em vez de integrar”, analisa.

Na Cumbia Calavera, a gente integra e, felizmente, essa integração já acontece muito tempo antes da gente. Por exemplo, a cumbia amazônica, de origem peruana, é uma baita influenciadora do carimbó. E isso vem mais ou menos da década de 70”, conta Tetê. Em relação ao público que acompanha seu grupo, ela diz que está crescendo, sim. “Geralmente somos 16, 18, 30 pessoas tocando instrumentos de sopro e percussão, vestidas e maquiadas de caveiras. É todo um acontecimento que vai cativando o público”, resume.

Mais músicos e shows no Festival do Clube

E, para não perder o embalo e fechar este longo texto – parabéns, se você chegou até aqui – vale destacar mais algumas presenças de artistas da música nos palcos do Festival do Clube de Criação 2023. No sábado, no painel "A comunicação e o Brasil real", às 11h, no auditório Simon Bolívar, o compositor e rapper Don L estará no palco junto com Bruno Zambelli (diretor de cena da Surreal Hotel Arts), Camila Libório (gerente sênior de marketing da L'Oréal), Daniela Benoit (CEO da Manas Coletivo) e Regina Ferreira (CEO da Hutu Casting) em um papo mediado por Ary Nogueira (sócio e diretor de criação da Gana).

No domingo, no mesmo auditório, às 15h, KL Jay, um dos Racionais MCs, estará na mesa
"Soluções inteligentes para cidades inteligentes", que vai discutir como a arte, a tecnologia e um olhar inclusivo podem fazer cidades mais inteligentes. Ele dividirá o palco com Agatha de Faveri (artista plástica), Beto Lima (head comercial da JCDecaux) e Susanna Marchionni (CEO da Planet Smart City Brasil), mediados por Marcelo Reis, CEO e CCO da Leo Burnett Tailor Made.

Além disso, o Festival oferece, mais uma vez, o Palco Musical, uma área externa montada para shows. No sábado, com a curadoria da Mugshot, teremos apresentações de música urbana a partir de 13h30, com Ionder (rapper e compositor criado no Grajaú e que também é um nome na cena do trap), Jovem Blues (cantor de R&B que tem origem no bairro Guarapiranga, na Zona Sul de São Paulo) e Mano Mike (MC que é cofundador do Batalha do Paraisópolis e tem influências de funk, rap e soul), todos da Canguru Records. Às 19h30, será a vez da banda Tuyo (grupo musical curitibano de afrofuturismo e folk-pop).

No domingo, a curadoria é da Lucha Libre. A programação começa às 13h30, com a cantora e compositora Gavi. E retorna às 19h30, com Batalha de Rima.

Prepare a mente e o corpo para estes dias musicais.

Lena Castellón

Veja a programação completa do Festival do Clube 2023.

Serviço:

11º Festival do Clube de Criação

Patrocinadora premium: JCDecaux.

Patrocínio master (ordem alfabética): Globo, Google e Santeria.

Patrocínio/apoio (ordem alfabética): Adludio, Ama, Antfood, Apro+Som, At Five Gin, Barry Company, Broders, Canal Market, Canja Audio, Cervejas Avós, Cine, Droga5, Halley Sound, Kraft Heinz, Lucha Libre Áudio, Memorial da América Latina, Monkey-land, Mr Pink Music, Mugshot, My Mama, Nós - Inteligência e Inovação Social, O2 Filmes, Paranoid, Piloto TV, Publicis Groupe, Spotify, Surreal Hotel Arts, Tribbo, Unblock Coffee, UOL, Vati, Warriors VFX e WMcCann.

Ingressos estão à venda na plataforma da Sympla (aqui). Garanta o seu.

Dúvidas ou desejo de se associar? clubedecriacao@clubedecriacao.com.br ou Whatsapp do Clube: 11 - 93704-2881

Abertura dos portões e do credenciamento: 8h

Endereço Memorial: Av. Mário de Andrade, 664 - Barra Funda

Acesso pelo Metrô Barra Funda

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