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Como design e narrativas podem reparar injustiças históricas
Uma das atrações internacionais do Festival do Clube de Criação 2023, que acontece nos dias 23 e 24 de setembro, no Memorial da América Latina, é o britânico Eddie Opara, designer e sócio do estúdio de design independente Pentagram - com sedes em Nova York, Londres, Berlim e Austin. Ele demonstra com seu trabalho o quanto essa disciplina da comunicação pode unir a trinca estratégia, design e tecnologia para ajudar a criar grandes mensagens de marca e transformar positivamente a sociedade. E isso vai muito além do discurso, como se verá a seguir.
No painel “Regenerative Narrative(s)”, que ocorre no domingo 24, às 19h, no auditório Simon Bolivar, Opara promete falar da parte de craft do design tipográfico e seu potencial para não apenas retratar a utilidade do produto, mas de criar uma narrativa mais grandiosa. Com conotações históricas, simbolismos sociais e culturais, o design, segundo Opara, pode ajudar na construção de discursos progressistas e com visão de mudança para o futuro. Assim, forma e conteúdo se unem em uma interligação profunda e dinâmica da mensagem que se vai transmitir.
Recentemente, a teoria ganhou cores e vida com o projeto de identidade visual para a Ben's Best Blnz, a B3, uma marca de cannabis que oferece produtos como cigarros pré-enrolados e vapers (leia aqui). O novo empreendimento de Ben Cohen, cofundador da Ben & Jerry's, outra empresa com propósito social em seu DNA, nasceu com uma visão muito clara: vender erva e usar o poder dos negócios que ela gera para corrigir os erros da guerra contra as drogas praticada até agora, questionando “verdades” e promovendo uma reparação histórica aos negros, as maiores vítimas desse sistema. Eles foram presos ou mortos em massa, enquanto muitos outros se beneficiaram dessa indústria.
Na prática, a B3 pretende causar reflexão para a mudança da classificação legal da maconha, hoje categorizada como substância controlada, algo que a cocaína é, mas a cerveja, por exemplo, não é - para Cohen, essa é toda a raiz do problema da guerra contra as drogas.
Outro objetivo é oferecer a empreendedores negros a possibilidade de serem fornecedores da empresa, e gerar negócios para si. Todo o lucro da companhia (isso mesmo, 100%) é destinado a eles e a movimentos que lutam pela mudança na legislação.
Assim, coube a Opara e sua equipe retratar uma identidade visual não apenas de uma empresa, mas de um ecossistema que a B3 representa, com suas profundas injustiças que precisam de reparação.
Se visto de forma rasa, seria um trabalho que remeteria a clássicos da representação de produtos de cannabis, como o desenho da erva da maconha com seus trevos na cor verde. Mas Opara conseguiu reproduzir isso com muitas cores e design vibrante e direto ao ponto, expondo nas embalagens, website e produtos da B3 o verdadeiro sentido da reparação de uma injustiça histórica. A marca é simbólica, com cartazes que citam Angela Davis e Nelson Mandela impressos nas latas dos produtos. As latas do produto foram criadas para representarem a lembrança do mundo “criado” pela legislação atual, em que elas se encontram espalhadas por casas de traficantes, sem qualquer controle.
Opara é um designer de múltiplas facetas, com projetos visuais que incluíram de identidade de marca a embalagens, instalações interativas, websites, interfaces de software e diversas outras formas de se transmitir uma mensagem através do design.
Britânico nascido em Wandsworth, distrito no sul de Londres, estudou design gráfico no London College of Printing e na Yale University, concluindo o mestrado em 1997 e partindo para uma carreira em empresas como ATG, Imaginary Forces e 2x4. Em 2005, abriu a The Map Office e, cinco anos depois, tornou-se associado à Pentagram.
Sua lista de clientes inclui marcas como Samsung, Smithsonian Design Museum, Studio Museum in Harlem, Queens Museum, St. Regis Hotels, Morgan Stanley, New York University, UCLA Architecture and Urban Design, Harry N. Abrams e Princeton Architectural Press.
Foi vencedor de prêmios como o Gold Cube do Art Directors Club, e de menções no D&AD, the Society for Experiential Graphic Design (SEGD), Type Directors Club, Tokyo Type Directors Club, The American Institute of Graphic Arts (AIGA) and Communication Arts.
Autor do livro “Color Works: Best Practices for Graphic Designers”, ele tem seu trabalho na coleção permanente do Museum of Modern Art. Também é crítico na Yale University School of Art, professor e membro da Alliance Graphique Internationale.
Todo esse repertório teórico e prático será levado por Opara ao palco do Simon Bolivar, em uma oportunidade única para os presentes no Festival do Clube de Criação conhecerem mais de seu trabalho e pensamento.
Veja a programação (quase completa) do Festival do Clube 2023.
Felipe Turlão
Serviço:
11º Festival do Clube de Criação
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