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Monetização é desafio para futuro do podcast
Prestes a completar 20 anos - o primeiro no Brasil foi produzido em 2004 -, o podcast se consolida como um dos formatos de áudio mais populares no cenário da mídia, mas recebe uma análise sobre o que se pode esperar dele daqui para frente enfrentando uma clássica crise do presente: a monetização.
Essa é a conclusão do painel "O futuro do podcast", realizado neste sábado (23), durante o Festival do Clube de Criação, no Memorial da América Latina. O painel, com mediação de Rodrigo Tigre (da Adsmovil), contou com a participação de Bárbara Rubira (produtora da Rádio Novelo), Barbara Zamberlan (líder de parcerias com criadores do Spotify), Bela Reis (do podcast Angu de Grilo) e Benedita Casé (do PCDPOD).
Tigre abriu o painel destacando dados de uma recente pesquisa da Kantar, a Inside Audio 2023. O estudo traz boas notícias para o segmento, mostrando que 50% dos entrevistados, ouvintes de áudio, usam podcast. É um crescimento de 23% em relação a 2022. O estudo da Kantar revela também que os conteúdos de podcast mais consumidos são comédia (37%), música (34%), notícias e políticas (23%), esportes (23%) e educação (22%).
Mas o ritmo de aumento de audiência e a crescente diversidade de conteúdo não se estendem aos resultados monetários em torno dos podcasts. Mesmo enaltecendo aspectos fortes e positivos do meio, como o alto índice de proximidade que os podcasts estabelecem com seu público e a boa qualidade dos produtos, de forma geral, o debate se concentrou nas dificuldades de monetização. Elas são o cerne dos desafios da sustentabilidade dos podcasts, ou seja, do seu próprio futuro.
"A nossa principal bandeira é a monetização", resumiu a jornalista Bela Reis, que realiza o Angu de Grilo em parceria com sua mãe, a também jornalista Flávia Oliveira. Segundo Bela, as marcas ainda "não sabem usar os podcasts".
"Outras plataformas de mídia estão mais consolidadas, mas do nosso lado, ainda estamos engatinhando", ela compara. "É grande a dificuldade para os podcasts continuarem existindo, muita gente lança e abandona. A gente só coloca dinheiro e não tem retorno", descreveu a jornalista, mencionando a "sensível equação" entre audiência e monetização. Para ela, as marcas deveriam usar os podcasts pensando mais na efetividade de "brand awareness" e menos no retorno de investimento diretamente ligado ao volume de vendas de produtos.
Bárbara Rubira também concorda com os desafios de monetização, mas aponta a viabilidade financeira dos podcasts da Rádio Novelo por meio de projetos sob encomenda desenvolvidos em parceria com institutos e organizações não governamentais. Ela também destacou experiências bem-sucedidas com algumas marcas, entre elas a Accenture.
Para Rodrigo Tigre, há "vários motivos" envolvendo a dificuldade para monetizar podcasts, entre eles, a fragmentação. "É um produto que está em várias plataformas. É preciso criar novas estratégias para inserir marcas nos programas", observou. "Mas não adianta ser marca golfinho, que vem e só dá um pulo. Temos de criar um relacionamento", comparou.
Barbara Zamberlan diz que sua área de atuação no Spotify existe para apoiar criadores independentes para fazer melhor uso da plataforma e ter melhores resultados. "Temos de discutir formatos. A monetização e a publicidade formam uma discussão muito rica", afirma. Durante o festival, Barbara mencionou uma pesquisa cujo resultado mostra que 70% dos entrevistados acreditam mais nos anúncios que ouvem em podcasts do que em outros meios.
Inclusão
O painel "O futuro do podcast" trouxe interessantes insights sobre o potencial desse formato de mídia com a participação de Benedita Casé, filha da atriz Regina Casé, diagnosticada com surdez aos quatro anos de idade. Ela enfrentou a perda auditiva, mas não é completamente surda, tendo conseguido desenvolver a fala e se comunicar sem a ajuda de Libras (Língua Brasileira de Sinais).
Aos 34 anos, ela lançou, no último mês de agosto, o PCDPOD, em parceria com o cineasta Pedro Henrique França, portador de nanismo. O podcast deles, com programas em vídeo no YouTube, é posicionado como o "primeiro videocast totalmente acessível", comandado por pessoas com deficiência no Brasil. O objetivo do programa é abordar o capacitismo e mostrar a autoestima, sexualidade e mercado de trabalho para as pessoas com deficiência. "Estamos com um assunto novo para o mercado e para a publicidade. Não dá para pensar no futuro do podcast se ele não passar pela inclusão", ressaltou Benedita.
Marcello Queiroz
11º Festival do Clube de Criação
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