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Festival Do Clube 2023

'Vigilância para que histórias de resistência sejam expostas'

26.09.23

Como preservar a memória democrática e popular e ressignificar as mídias permanentes do conservadorismo autoritário nas grandes cidades? Este foi o tema principal do debate “Cartões Postais da Opressão”, realizado durante a 11ª edição do Festival do Clube de Criação.

A mediação coube a Cassia Caneco, pesquisadora do Instituto Pólis, cogestora do Espaço das Artes Pretas e mutirante do Movimento Sem Terra Leste. Segundo ela, a discussão se tornou urgente depois das ações diretas de demonumentação que se seguiram ao assassinato de George Floyd, em 2020, nos EUA. Outro motivo são as ações parlamentares progressistas que, no Brasil, contestam a veneração pública de personalidades responsáveis por crimes e violências, como os bandeirantes paulistas.

No início do debate, Luiz Antonio Dias, professor de História da PUC-SP, chamou a atenção para a memória seletiva acerca dos grandes eventos nacionais. Ele citou a Inconfidência Mineira, de proposta essencialmente conservadora, sempre exaltada nos livros didáticos. Ao mesmo tempo, de acordo com o acadêmico, são raras as narrativas sobre a Revolta dos Alfaiates, na Bahia, e sobre as ideias do líder Manuel Faustino.

O pesquisador também citou o incômodo oferecido à paisagem paulistana pela presença da estátua do bandeirante Borba Gato.Essas figuras aprisionavam negros e indígenas e constituíram um modelo de opressão que perdurou até o século 19”, afirmou. Segundo ele, seria importante que esses territórios urbanos tivessem, ao menos, contrapontos simbólicos, como marcadores da memória de figuras importantes à luta popular.

Dias afirma que o patrimônio pode ser intangível, e que é preciso prestar atenção ao não físico, como o movimento do rap, na zona sul, com destaque para o trabalho musical dos Racionais MC’s. No momento presente, ele vê especial representatividade nas ações culturais da Cooperifa, construída pelo esforço do poeta Sergio Vaz.

Deborah Neves, historiadora e pesquisadora da Unifesp, considera que é preciso rever a ideia de representatividade do patrimônio de memórias. Ela citou uma experiência de pesquisa sobre uma plantação de eucaliptos que servia à produção de dormentes para uma ferrovia. “Quando cheguei ao local, havia um assentamento do MST e percebi que aquilo era também um patrimônio de valor, ainda mais relevante do que o registro de uma empresa capitalista de transporte”, narrou.

Recentemente, Deborah se destacou na pesquisa arqueológica dos prédios do DOI-Codi, na Rua Tutoia, em São Paulo. Segundo ela, foi importante tornar esse estudo aberto à perscrutação pública. Cerca de 750 pessoas acompanharam o trabalho de investigação forense.

Na opinião de Deborah, as elites econômicas tendem a eleger seus heróis e afastar do cenário público as referências às lutas populares e democráticas. Ela citou como exemplo a retirada da Igreja do Rosário dos Homens Pretos da Praça Antonio Prado, no início do século 20, depois reconstruída no Largo do Paiçandu.

Outro exemplo, de acordo com a historiadora, foi a destinação da estátua da escritora negra Carolina Maria de Jesus. Foi instalada em Parelheiros, na periferia sul, e não nas imediações do Canindé, onde viveu e trabalhou. “Precisamos de um movimento permanente de vigilância para garantir que memórias não sejam apagadas e para que as histórias de resistência sejam expostas e contadas para as futuras gerações”.

Walter Falceta

11º Festival do Clube de Criação

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