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Festival do Clube 2023

Povos originários: 'estamos tentando florescer em meio ao lixo'

28.09.23

O debate “Visibilidade e Seus Impactos: Se Apropriar ou Se Aliar às Causas dos Povos Originários?”, mediado por Hanna Batista, diretora audiovisual amazonense, aconteceu durante a 11ª edição do Festival do Clube de Criação.

Hanna dirigiu a produção do vídeo “The Cost of Gold” (leia aqui), que expõe a versão alternativa da estatueta do Oscar, produzida pela DM9 para alertar a sociedade sobre a crise humanitária dos povos originários provocada pela exploração ilegal de ouro. Uma estátua alternativa, representando a divindade indígena Omama, foi enviada aos vencedores do Oscar. “É preciso comunicar que cada grama de ouro pode custar a vida de um ser humano na floresta”, destacou Hanna.

O filme da campanha (assista abaixo) foi protagonizado por Junior Hekurari Yanomami, líder da associação Yanomami Urihi (Floresta), que alertou o mundo sobre os malefícios do garimpo ilegal. Presente também ao debate, ele exibiu um painel da crise no Amazonas e em Roraima em anos recentes. Segundo ele, o ex-presidente Jair Bolsonaro incentivou a invasão das comunidades pelos garimpeiros e provocou um genocídio de seu povo. “Se o presidente Lula não tivesse tomado medidas de socorro, milhares de outras pessoas teriam morrido”, salientou.

De acordo com Junior, o desastre combinou a ação de grupos de extermínio fortemente armados, a destruição da floresta, a suspensão do atendimento médico e a poluição de rios e lagos por toneladas de mercúrio. “Perdemos os peixes e as crianças foram envenenadas por substâncias tóxicas”, lamentou.

De acordo com o líder indígena, as campanhas internacionais são fundamentais para romper os elos da cadeia de comércio de minérios nobres. “Desse modo, podemos desestimular o consumo e reduzir esse comércio que mata nosso povo”, disse. Ele ressaltou que aos 10 anos de idade as crianças Yanomami sabiam os nomes de 300 tipos de árvores e de 1.000 variedades de pássaros. “Hoje, não podemos educá-las para conhecer a natureza, pois todo nosso esforço é para mantê-las vivas”, ressaltou.

A mesa também contou com a presença de Aline Kayapó, uma das fundadoras do grupo Wayrakunas (Filhas da Ventania), destinado a discutir a luta das mulheres indígenas no ambiente de desafios e opressões da sociedade contemporânea. “O mundo não encantado, desligado da natureza, é muito pesado para nós”, refletiu. Segundo ela, o academicismo humanista se distanciou da dimensão da terra, dos bichos e das plantas. Ao mesmo tempo, os indígenas integrados sofrem como empreendedores, em um modelo de competitividade doente.

Nosso objetivo nas redes sociais e com ações presenciais é polinizar a vida, com formações educativas que possam mobilizar os parentes, especialmente as mulheres”, afirmou. Ela pediu o auxílio de publicitários e jornalistas para difundir a mensagem das Wyarakuna, não somente nas comunidades originárias, mas também no mundo das instituições e corporações não indígenas. Segundo ela, é preciso instrumentalizar a luta de resistência nos canais de comunicação. “É necessário interligar saberes da materialidade e da espiritualidade, de modo a mudar modelos; estamos tentando florescer em meio ao lixo”, frisou.

Walter Falceta

11º Festival do Clube de Criação

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