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OcupaTrans: multiplicar para incluir
O conceito de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) foi debatido no Festival do Clube de Criação 2024. Uma entidade que abordou o tema nesta edição foi o OcupaTrans, projeto que visa ampliar o acesso de pessoas trans a eventos de criatividade no Brasil e no exterior. O painel “A produção audiovisual brasileira e a Diversidade, Equidade e Inclusão” contou com participações de profissionais que compartilharam com o público suas vivências no mercado e histórias inspiradoras.
Fundadora do OcupaTrans, Guilhermina de Paula foi a mediadora da mesa. Estiveram no painel também Débora Fernanda, head de RH, Diversidade & Inclusão da GUT, Luz Barbosa, cineasta e documentarista, e Nídia Aranha, artista e designer.
Guilhermina lembrou dos primeiros eventos do setor em que esteve presente e disse que era uma das únicas pessoas trans e travestis. “Era uma lacuna mesmo. E isso me gerava incômodo. Pensei no que poderia fazer para ampliar esses espaços”, disse. O primeiro passo foi com o Festival do Clube. Em 2023, o projeto obteve 20 ingressos do evento.
Mas o OcupaTrans nasceu, de fato, como relatou Guilhermina, depois que uma amiga de infância, Duda, morreu. “Nesse luto doloroso, pensei no que havia feito para tirar minha amiga das ruas. Ela começou a fazer graduação, mas teve de largar porque não podia pagar a mensalidade. Depois disso, encontrei outras pessoas trans. Formamos uma rede e partimos para a ação”, contou.
Ir além e ampliar olhares
Se no passado as pessoas trans eram raras ou invisíveis no mercado, avanços foram notados nos últimos anos. Há mais profissionais brilhando em frente e atrás das câmeras. O próximo desafio é ver mais trans em produções sobre temas que extravasam as pautas de diversidade e LGBTQIA+.
“Precisamos mostrar para o mundo pessoas trans que não estão na posição de vítimas. Tem muita injustiça ainda, mas tem muita gente construindo coisas maravilhosas. Somos potência. Não estamos o tempo todo pedindo ajuda. As minorias sociais estão fadadas a falar sobre minorias sociais. Mas somos múltiplos, temos várias dimensões e podemos falar sobre diversos assuntos. Não só da condição de pessoas trans”, afirmou Luz Barbosa. No Festival do Clube, profissionais trans participaram de painéis com temática variada.
Barbosa revelou que se descobriu trans masculino por meio do audiovisual. “Aos 16 anos, trabalhei num curta sobre um homem trans e nem sabia que isso existia até então. Uma pessoa não binária estava na equipe. Passei a acompanhar e a consumir conteúdos sobre o tema, o que me deu possibilidade e liberdade de me conhecer e saber que eu não estava sozinho”, disse o diretor da série “Afrofluxo: o som da música preta”, disponível no Globoplay (veja aqui). “Agora, tento devolver para o mundo, por meio do meu trabalho, novas perspectivas de existência”, completou.
A respeito de projetos de inclusão, Débora Fernanda ressaltou a necessidade de conexão entre as pessoas como essencial para avançar nesse sentido. “Precisamos de líderes capazes de lidar com diferentes visões e narrativas. Não há receita para começar e ser bem sucedida em projetos de diversidade. Depende de boa vontade e de encontrar pessoas dispostas. Não fazemos nada sozinhas”, avaliou.
O efeito multiplicador das ações para tornar as equipes mais plurais se estende para além das parcerias e conexões em rede: um projeto bem sucedido já é capaz de abrir caminhos e inspirar muita gente. “Falar sobre diversidade é falar de uma vastidão de pessoas que vêm no nosso caminho. Somos pautadas por oportunidades. Agarrei todas as que me deram: a boa, a ruim, a abjeta, tudo”, afirmou Nídia Aranha, que coleciona produções elogiadas no mundo todo.
Videobiografias, performances, clipes, editoriais de moda, em parcerias brilhantes da música, da moda e da tecnologia fazem parte de sua trajetória. Ludmilla, Pabllo Vittar, Iza, Erykah Badu, Google estão entre esses parceiros. Dentre as pesquisas em arte contemporânea feitas por Nídia, destaca-se "Ordenha 002", sobre lactação e mulheres trans.
A plateia acompanhou as histórias demonstrando seu encantamento. Olhares, sorrisos e aplausos deixam claro os significados e impactos de cada produção, projeto, fala ou ação ali presentes. Isso confirmou uma análise de Nídia: “É importante construir nossa poética, mas também ajudar na poética de outros artistas com discursos mais urgentes. Eles são alicerces de mudança”, pontuou.
Nídia se disse honrada de ter aberto no passado a porta de diálogo sobre temas que ficavam fora do debate. Mas lá, no palco, tudo era presente. O foco estava em quem atua hoje para melhorar o futuro.
Ju Vilas
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