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Festival do Clube 2024

Emergência climática, o biocentrismo de Marcelo Gleiser e o papel do mercado

09.10.24

Quem olhou pela janela na primeira quinzena de setembro teve uma prévia do apocalipse climático: céu carrancudo, precipitação fuliginosa, sol sob filtro marrom – ou vermelho.

A uma das piores secas da história, somou-se o horror das queimadas, muitas delas deliberadamente provocadas pelos inimigos da natureza. O rio aéreo que corre desde a Amazônia, um fenômeno que normalmente leva umidade para diversas regiões, cobriu de fumaça, detritos e medo cidades como Belo Horizonte, São Paulo e Curitiba.

Um artigo do climatologista Carlos Nobre, publicado no portal UOL, nos alertou para uma “verdade inconveniente”, como costumava dizer o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore: estamos por um fio. Segundo o cientista, o mês de agosto passado foi o mais quente já registrado. O planeta somente viveu situação semelhante no período interglacial ocorrido há 120 mil anos. Depois de 14 meses de fervura, há recorde de temperatura nos oceanos e aumento exponencial do número de eventos climáticos extremos. São ondas de calor, tempestades e incêndios florestais. Antes desta brutal estiagem, vivemos as dores das enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul.

De acordo com os especialistas, se mantida a temperatura de 1,5 º C acima da média do período pré-industrial, podemos tornar frequentes (e imprevisíveis) os eventos climáticos extremos. Com 2,5º C, podemos atingir o ponto de não retorno. Nesse caso, perderíamos entre 50% e 70% da Amazônia e parte considerável do permafrost da Sibéria, do Alasca e do Canadá. Os efeitos dessa mudança seriam catastróficos para o planeta. Em algumas décadas, pela elevação da temperatura, boa parte do Brasil iria se tornar inabitável.

O renomado físico, escritor e astrônomo Marcelo Gleiser está atento a este fenômeno. No livro “O Despertar do Universo Consciente” (Editora Record), lançado neste ano, ele explica que a Terra é um planeta sui generis, raríssimo, por permitir o florescimento da vida. Segundo ele, se há algo parecido em algum lugar do cosmo, é possível que esses seres estejam tão distantes que nunca farão contato conosco.Uso a astronomia de ponta para mostrar que a Terra é um planeta único dentre trilhões na nossa galáxia, e que a biodiversidade que existe aqui é uma raridade cósmica”, afirma. “Somos a exceção e não a regra”.

Gleiser alerta para a urgência de uma mudança de comportamento na direção do consumo consciente e do respeito a todas as formas de vida. Propõe, portanto, uma renovada forma de pensar nossa casa global, na qual o respeito à vida se converte na mais importante regra moral.Com isso, convido as pessoas a repensarem seus papéis como cidadãos planetários, baseando-me numa nova ética que chamo de biocentrismo”, esclarece.

É exatamente esse tema que o físico vai abordar em sua apresentação na 12ª edição do Festival do Clube de Criação, que vai acontecer nos dias 12 e 13 de outubro, no Memorial da América Latina. Com o título de “Ciência, valorização do planeta Terra e o entendimento de que a vida é algo extremamente raro”, o painel será no sábado (12) e durante 30 minutos Gleiser fará uma viagem guiada pelos futuros possíveis de sobrevivência sustentada no condomínio global.

O que proponho, em síntese, é uma releitura da narrativa de que estamos acima da natureza, argumentando que fazemos parte dela e somos muito mais frágeis e codependentes do planeta do que imaginamos”, antecipa.

Na sequência, Gleiser responderá perguntas e participará também de um debate que virá colado à apresentação do físico. O painel, intitulado “Emergência climática: doses extraordinárias de água, fogo, frio, calor. O que ainda pode ser feito para reequilibrar o planeta?, será mediado por Tomás Correa, fundador e CCO da Felicidade Collective, agência focada em sustentabilidade. Estarão também na mesa Amanda Costa, diretora da Perifa Sustentável e conselheira do Pacto Global ONU - Rede Brasil); Isabela Massola Mendes, diretora de marca global da Natura); Juliano Salgado, presidente do Instituto Terra; e Júnior Hekurari Yanomami, presidente da Urihi Associação Yanomami e presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami.

Tomás, que teve passagens por agências como DPZ, Lew’Lara, Leo Burnett Tailor Made, DM9 e Grey, nos últimos anos tem se dedicado a impulsionar a economia de impacto. Cursou o University of Cambridge Institute for Sustainability Leadership e se tornou signatário do Capitalismo Consciente Brasil. Na Felicidade Collective, ele alia estratégia, consultoria técnica e criatividade para auxiliar organizações em jornadas de sustentabilidade e no estabelecimento de relações contributivas entre marcas e pessoas.

Minha visão sobre o futuro da Terra é holística e se baseia na tese de que somos todos responsáveis pela busca de soluções”, diz. “Mas nós, como publicitários e gestores de marca, temos uma missão especial na construção de um mundo sustentável e mais igualitário”. Segundo ele, a mudança necessária precisa ser impulsionada pelo marketing, pois é o segmento da comunicação que controla a oferta e a demanda dos bens consumíveis.

Para Tomás, persiste uma falsa ideia de que a sustentabilidade reduz o lucro das empresas. “Não são, na verdade, interessantes conflitantes, porque companhias humanizadas, responsáveis e conscientes, com claros propósitos, são mais estimadas, crescem mais e duram por mais tempo”, afirma.

Junior Yanomami, por sua vez, tem experiência com a publicidade por causa da campanha “The Cost of Gold”, da DM9, em que foi narrador-protagonista. No filme, ele conta ao mundo sobre os malefícios que o garimpo causa à natureza e às comunidades de povos originários. Em 2023, os indígenas enviaram estátuas em madeira da divindade Omama, guerreiro protetor da floresta e dos Yanomami, a artistas indicados ao Oscar. A ideia foi sugerir uma nova referência simbólica sustentável na celebração das melhores obras e performances no campo da cinematografia.

A iniciativa teve muito sucesso e muita repercussão”, conta Junior, que também participou do Festival do Clube no ano passado, falando da mensagem da campanha e chamando atenção para a luta do povo Yanomami para preservar seu lar e para garantir sua própria sobrevivência. Segundo ele, discutir a emergência climática é fundamental para todas as comunidades indígenas do Brasil e da América Latina, especialmente neste momento em que a seca afeta muitos rios, fundamentais à vida na floresta.

Sobre os incêndios, ele considera que o governo precisa ter um plano estratégico, de longo prazo, para evitar esse tipo de agressão à natureza. “Não adianta combater quando plantas e animais já foram queimados; nós temos é que prevenir”, adverte. Ele observa, no entanto, que ocorreram avanços na proteção aos povos originários de Roraima, onde vive. “Agora, o governo tirou 95% dos garimpeiros, e os 5% que restaram estão escondidos na mata”, conta. Júnior celebra a construção do primeiro hospital público para atender as comunidades Yanomami da região. “Queremos progredir muito em 2025, e isso vai acontecer quando as pessoas recuperarem a saúde”, explica.

O papel de agências e outros representantes da nossa indústria diante do cenário de emergência climática será o foco de outro painel no Festival do Clube. O mediador do painel “Como o mercado de comunicação pode ajudar a combater os extremos climáticos e a onda anti-ESG”, no domingo (13), às 14h, será o jornalista Marcos Bonfim, da Bloomberg Linea. O debate terá as participações de Aline Pimenta, sócia-fundadora da Oitto Impacto; Celio Ashcar, sócio da AKM; Raphael Vandystadt, diretor de Relações Internacionais e Sustentabilidade da Africa Creative; Rui Branquinho, fundador e CCO da Giveback; e Luiza Portella, diretora de estratégia da WMcCann Rio.

Em artigo publicado em maio no jornal O Globo, Aline salientou que encarar o problema exige a compreensão de que a crise é social, não apenas climática. “O primeiro passo é entender o modelo mental que orienta nossas decisões e por que pensamos tão pouco de forma sistêmica”.

Aline segue o raciocínio do indiano Amitav Ghosh, em seu livro “O Grande Desatino: Mudanças Climáticas e o Impensável”, que defende: a crise climática é também uma crise da cultura e, portanto, da imaginação. Estaríamos ainda presos aos ideais da Era Moderna, em que se acreditava que a vida poderia ser controlada e a natureza, domesticada.

Segundo Aline, a forma ocidental vigente de ver o mundo não se atualizou e não foi capaz de acompanhar a velocidade da mudança climática. Nesse sentido, a crise de natureza social aumentou a disputa por recursos e ampliou-se a desigualdade. No artigo, ela aponta que a tragédia no Rio Grande do Sul é “mais uma triste evidência da urgente necessidade de acionarmos um novo modo de pensar estratégias e práticas de sustentabilidade institucionais e corporativas”.

Do lado das agências, que atendem grandes marcas, uma das medidas é ajudar no desenvolvimento de ações que gerem conscientização na população. E elas também pode adotar práticas mais benéficas para o planeta. Luiza Portella, Rui Branquinho e a Africa Creative participaram da série “Emergência climática”, criada em abril pelo Clubeonline (veja a parte 1, a 2, a 3, a 4 e a 5). Na ocasião, foram procuradas 42 agências de publicidade. Delas, apenas 12 responderam aos questionamentos que fizemos a respeito de suas ações internas e da maneira como contribuem com seus clientes no enfrentamento do quadro de crise climática que vivemos.

A série mostrou que o mercado tem um papel a cumprir e que há caminhos para as agências serem mais ativas nessa luta. Que se torna ainda mais desafiadora porque há uma onda anti-ESG também a ser enfrentada. Em 2023, pela primeira vez nos EUA, fundos de investimento voltados para a categoria ESG tiveram mais saídas do que entradas. O saldo do ano passado ficou negativo em US$ 13 bilhões, conforme relatou a Veja. Mas o mercado geral de fundos no país fechou 2023 com resultado positivo: US$ 79 bilhões. Ou seja, precisamos, de fato, de mais consciência e equilíbrio para garantir que a Terra continue sendo esse planeta único, raríssimo.

Walter Falceta

Veja aqui a programação quase completa do Festival do Clube 2024.

Este ano, temos os seguintes patrocinadores e apoiadores:

Patrocínio Premium (ordem alfabética): GloboGrupo PapakiRecôncavo Company.

Patrocínio Master: Santeria.

Patrocínio (ordem alfabética): Barry Company, Boiler Filmes, Café Royal, Halley Sound, Heineken, Jamute, Landscape, Lew’Lara\TBWA, Modernista, Mr. Pink Music, MugShot, MyMama Entertainment, Nós – Inteligência e inovação social, O2, Paranoid, Piloto, Purpple, União Brasileira de Compositores, TikTok, Unblock Coffee e We.

Apoio (ordem alfabética): Artmont, Antfood, Audioink, Bici Desagência, Canal markket, Canja Audio Culture, Carbono Sound Lab, Chucky Jason, Ellah Filmes, Estúdio Origem, Fuzzr, Grupo Dale!, Mercuria, Monkey-land, Pachamama, Pródigo Filmes, Punch Audio, Sailor Studio, Soko (Droga5 São Paulo), Sondery, Tribbo, UOL, Vox Haus.

Sem estas empresas, NÃO haveria Festival.

Para você não esquecer: já está à venda o ÚLTIMO LOTE de ingressos. Por conta do sucesso alcançado no ano anterior, neste lote adicionamos o Ingresso Solidário. Aproveite 15% de desconto em troca de 1kg de alimento não perecível, que deverá ser entregue no dia do evento. Adquira o seu por meio da plataforma Sympla. Garanta sua participação o quanto antes, clicando aqui. Agências, produtoras, anunciantes comprem também seu lote de ingressos o quanto antes: temos pacotes com 5% de desconto para cinco ingressos, 10% para 10 ou 15% de desconto para 15 ingressos, entre em contato com o Clube pelo e-mail clubedecriacao@clubedecriacao.com.br ou mensagem para o Whatsapp do Clube: 11 - 93704-2881. Interessados em patrocinar o evento procurem o washington@clubedecriacao.com.br

Serviço:

12º Festival do Clube de Criação - 12 e 13 de outubro - sábado e domingo - das 8h30 às 22h

Ingressos estão à venda na plataforma da Sympla (aqui). Garanta o seu.

Dúvidas ou desejo de se associar? clubedecriacao@clubedecriacao.com.br ou Whatsapp do Clube: 11 - 93704-2881

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