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Luciana Cani e os desafios de criativos brasileiros no exterior
Quem nunca sonhou em morar e trabalhar fora do país fazendo o que gosta? Pode não ser o seu caso, mas é o de muitos jovens profissionais de publicidade (e de outras carreiras também).
Era o sonho, por exemplo, de Luciana Cani, uma jovem recém-formada no início dos anos 2000 que, depois de cinco anos na Ogilvy Brasil, mudou-se com armas e bagagens para Portugal, para trabalhar na Leo Burnett Lisboa. Foi e não voltou mais.
Mais de 15 anos depois, e tendo vivido na Ásia, Europa e América do Norte – hoje ela é diretora executiva de criação da AKQA em Portland –, Luciana coleciona histórias, prêmios e tem muitas dicas para quem quer trilhar esse caminho.
Falando para um auditório lotado no Festival do Clube de Criação, ela não só tentou responder à pergunta título do painel - “Por que o talento brasileiro está tão espalhado pelo mundo?” - como trouxe depoimentos de colegas que, como ela, levam o jeitinho brasileiro para o mundo afora. “O talento dos profissionais brasileiros é muito reconhecido e desejado e existe um mundo de oportunidades esperando lá fora. Mas também tem muitos desafios e aprendizados, tanto do lado profissional quanto pessoal”, contou.
#Aprendizado 1: ter a mente aberta para se adaptar a outra cultura
Quando saiu do Brasil pela primeira vez, a jovem criativa achou que seria simples trabalhar em Portugal por falar o mesmo idioma. Mas logo percebeu que um oceano de diferenças culturais separa os dois países.
“A gente tem que deixar nossas expectativas no Brasil e ir preparado para se adaptar uma mentalidade diferente da nossa”, aconselhou.
#Aprendizado 2: não se deixe abater pela dificuldade com o idioma
A questão da língua é, basicamente, o primeiro choque de quem vai trabalhar em outro país. Não se trata de usar outro idioma só no trabalho, mas nas várias instâncias da vida, o que gera um imenso gasto de energia, além do desgaste mental.
“Quando você não domina o idioma, tem que ser mais direto e objetivo para conseguir expressar sua ideia. Isso acaba melhorando muito a forma de pensar, de criar e até de se relacionar com os outros”, contou em depoimento, no telão, Rodrigo Rodrigues, que mora há oito anos em Dubai e hoje é diretor de criação para mercados emergentes da Publicis One Touch.
#Aprendizado 3: entender a cultura do local de trabalho
Depois de nove anos em Lisboa, onde estava habituada a uma cultura de trabalho altamente colaborativa, Luciana se mudou para os Estados Unidos para se juntar à Lapiz, agência multicultural que faz parte da Leo Burnett Chicago.
Lá, ela descobriu que o conceito de colaboração, para os norte-americanos, é um pouco diferente do nosso. “Não há essa informalidade. As coisas têm que ser no tempo deles, do contrário, sua colaboração pode ser vista como invasão de espaço. É importante entender que a cultura de trabalho não é a mesma em todo lugar”, apontou.
#Aprendizado 4: saiba bem onde está se metendo
Em Chicago, Luciana assumiu como vice-presidente sênior e diretora executiva de criação para atender o mercado hispânico nos EUA. Ou seja, foi contratada para atuar em um mercado no qual não tinha experiência e teve que estudar muito para dar certo.
O atual vice-presidente de criação da Energy BBDO Chicago, Ricardo Salgado, revelou, em depoimento, que seus primeiros dois anos nos EUA foram muito difíceis exatamente por ter aceitado uma vaga que não era adequada para ele.
“Quando me convidaram, não pensei duas vezes e não me preocupei em ‘entrevistar’ a agência. Mesmo assim persisti e, na oportunidade seguinte, procurei entender bem que tipo de trabalho esperavam de mim”, contou.
#Aprendizado 5: seus pontos fracos são a sua fortaleza
Quem contrata um estrangeiro busca um ponto de vista diferente, uma visão que os “de dentro” não conseguem ter. Por isso, não se deixe intimidar por ser o diferente na sala, por falar com sotaque e por ter outra visão de mundo. Essa é sua grande vantagem sobre os demais.
Imagine, por exemplo, como é ser uma ocidental em uma posição de liderança em uma agência japonesa. Quando foi para a Saatchi & Saatchi Tóquio, Luciana sabia que estava lá para lançar um olhar diferente sobre o mercado asiático – mesmo tendo que se valer de intérpretes para se comunicar com a própria equipe.
Ser expatriado é também uma jornada de autoconhecimento. A pessoa se vê obrigada a encarar desafios que jamais imaginou que teria que enfrentar e acaba achando um jeito de dar conta do recado, trazendo à tona capacidades que nem sabia que tinha.
“Conheci pessoas incríveis, tive experiências improváveis, mas também perdi várias coisas – casamento de amigos, convivência com a família... Quem quiser seguir esse caminho deve fazê-lo não por dinheiro, mas pelo desejo de viver essa experiência. Senão, não vale a pena”, disse Luciana.
Eliane Pereira
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