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Angeli anuncia que encerra carreira de cartunista
Com 51 anos de carreira, cerca de 50 deles na Folha de S. Paulo, Angeli anunciou nesta quarta-feira, 20, que encerra suas atividades como cartunista. Um comunicado na mídia social avisa que essa histórica colaboração, repleta de cartuns, charges ou tirinhas (como muitos dizem), chega ao fim por motivos de saúde. Ele se despede do espaço no jornal, “num misto de emoção e tristeza e também orgulho”.
Um dos quadrinistas mais conhecidos e referendados do país, Arnaldo Angeli Filho “está guardando o lápis na gaveta”, como afirma a Folha, após receber o diagnóstico de afasia progressiva primária, doença neurodegenerativa que afeta a comunicação. Dependendo do caso e de sua evolução, ela impacta a capacidade de falar ou de se expressar e mesmo de escrever e atinge a compreensão da linguagem verbal e da escrita.
O ator Bruce Willis se retirou recentemente de cena por ter sido diagnosticado por um tipo de afasia, o que lhe impede de atuar.
Nascido em 31 de agosto de 1956, na capital paulista, Angeli publicou aos 14 anos seu primeiro desenho na extinta revista Senhor. Em 1973, foi convidado a desenhar para a Folha de S. Paulo, no qual criou a tira diária “Chiclete com Banana”. Surgiam assim personagens que se tornariam emblemáticos como Rê Bordosa, Bob Cuspe, Wood & Stock e os Skrotinhos.
Em 1985, “Chiclete com Banana" transformou-se em uma revista de quadrinhos independente de mesmo nome, pela Circo Editorial, de outro nome lendário do setor, Toninho Mendes. O título teve grande influência no mercado editorial. Em uma das capas da “Chiclete com Banana”, um trio começou uma história de sucesso. Eram “Los Três Amigos”, personagens espelhados em seus autores: Angeli, Laerte e Glauco, que morreu em 2010.
Autor de vários livros e premiado diversas vezes como o melhor chargista brasileiro no festival HQ Mix, Angeli participou de festivais de comics em múltiplos cantos da Europa, como informa seu site. Entre eles, o Ridep - International Meeting of Press Cartoonists na França, em 2007, e o Festival Treviso – Exposição comemorativa dos 500 anos da América, em 1990, ao lado de Robert Crumb. No Brasil, em 2005, Angeli recebeu a Ordem do Mérito Cultural dada pelo Ministério da Cultura.
No cinema há mais de Angeli. No ano passado foi lançado “Bob Cuspe – Nós não gostamos de gente”, longa em animação em stop motion com direção de César Cabral. Ele dirigiu também a série documental "Angeli – The Killer", outra animação em stop motion, em 2017, e o curta “Dossiê Rê Bordosa”, também em animação stop motion, em 2008. Dois anos antes, foi lançado o longa animado “Wood & Stock, Sexo Orégano E Rock'n Roll", de Otto Guerra.
Influência e significado
À Folha, Laerte, que também tem uma parceria histórica com o diário, declarou que “Angeli tem o peso de um Pasquim inteiro em matéria de influência e significado de uma época". Ela considera que o artista foi vital “para a existência do que entendemos como humor em São Paulo." O jornal reforça a importância do trabalho de Angeli ao escrever que o encerramento da carreira de cartunista “fecha uma era dos quadrinhos”.
Na mídia social, a família e os amigos de Angeli, que assinam o comunicado de despedida, fazem um agradecimento especial aos leitores, seus “grandes parceiros” durante cinco décadas. Agora se inicia uma nova etapa, informam. Sua esposa, Carolina Guaycuru, declarou ao G1 que a carreira de artista continua, porém em um ritmo mais tranquilo. Só o ciclo como cartunista chegou ao fim.
Além disso, uma seleção de seus trabalhos – das tirinhas a revistas – está sendo montada pela Companhia das Letras em um projeto organizado por Carolina e pelo editor André Conti. É uma celebração pelos mais de 50 anos de carreira que deve se transformar em uma obra composta por dois volumes. A expectativa é ter aproximadamente mil trabalhos.
Confira o comunicado da família de Angeli na íntegra:
"É com tristeza e coragem que a família e os amigos de Angeli comunicam o fim, por questões de saúde, da histórica colaboração entre o autor e a Folha de S. Paulo. Após cinquenta e um anos de carreira, quase cinquenta deles no jornal, é num misto de emoção e tristeza e também orgulho que ele se despede desse espaço que foi, ao longo de décadas, uma janela para que os leitores pudessem observar o talento indescritível de um dos maiores artistas que o Brasil tem. Agora que esta nova etapa se inicia, deixamos aqui um agradecimento especial aos leitores que foram os grandes parceiros de Angeli durante essas cinco décadas. Com eles, seguiremos celebrando a obra de Angeli em novas publicações e exposições. Punk is not dead!"