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Futebol feminino

O impulso que se espera com a Copa no Brasil

17.05.24

O anúncio veio na madrugada desta sexta-feira, 17, no horário brasileiro: o país vai sediar a Copa do Mundo Feminina em 2027. Em congresso realizado em Bangok, na Tailândia, a Fifa revelou para o mundo que o Brasil derrotou a candidatura conjunta de Bélgica, Alemanha e Holanda. Em ano olímpico, esse resultado ganha um peso especial. Nos Jogos de Paris, na competição de futebol, será a seleção feminina quem irá disputar medalha. A masculina não se classificou.

Esta será a primeira vez que a América do Sul receberá a Copa do Mundo Feminina. Depois de duas Copas masculinas (1950 e 2014), o Brasil terá a experiência de organizar a principal competição do futebol feminino.

A festa dos representantes brasileiros na Tailândia foi exibida ao vivo pela CazéTV, que fez a transmissão do anúncio. O canal criado pelo streamer Casimiro Miguel exibiu os 64 jogos da Copa do Mundo Feminina do ano passado, obtendo 69 milhões de visualizações ao todo.

O perfil da CazéTV no Twitter fez uma série de posts relativos ao anúncio. Em um deles, a mensagem foi a seguinte: “A maior Copa do Mundo Feminina começa agora. Vai ser em 2027, mas o trabalho do Brasil para sediar a Copa do Mundo começa já. É muito apoio, muita organização e saber que vamos fazer história”. Em outro tweet, no qual o canal revela a decisão em favor do Brasil, uma imagem mostra, na parte inferior, o oferecimento da Estrela Bet. Procurada pelo Clubeonline, a CazéTV não respondeu se podemos esperar mais uma transmissão da Copa.

A partir do anúncio, já é possível sentir efeitos positivos sobre o futebol feminino. Segundo Rafael Plastina, CEO da Sport Track, consultoria data driven na área de marketing esportivo, toda vez que um país ou cidade é escolhido para sediar um grande evento esportivo, o impacto é imenso. O primeiro é midiático. “Há uma cobertura em massa, chamando a atenção de todos para o evento. Nesse caso, ‘todos’ inclui potenciais fãs, investidores e parceiros interessados no desenvolvimento de oportunidades”.

O interesse pelo futebol feminino no país vem crescendo nos últimos anos. Na edição 2023 da pesquisa anual Sport Track, o Campeonato Brasileiro Feminino ocupou a 10ª posição entre as competições de futebol mais desejadas pelos brasileiros, empatada com a Copa do Mundo Feminina. O estudo contou com 2.100 entrevistas feitas com maiores de 16 anos e realizadas em dezembro de 2023, entre os dias 14 e 26.

A Copa do Mundo no país pode estimular um aumento de público em outras competições? “Entendo que sim, pois o futebol feminino, que já está ganhando espaço, estará surfando a onda do mundial. Logo, terá mais mídia, mais atenção do público. Consequentemente, teremos aumento de público nos estádios”, afirmou Plastina. Por outro lado, ressaltou, é importante não colocar expectativas altas de crescimento desse público. “Precisamos ter objetivos claros e alcançáveis e ter em mente que é um processo. Leva tempo. Hospedar a Copa do Mundo será um acelerador muito bem vindo”, completou.

E quanto a melhores pagamentos para as jogadoras? Plastina observou que, geralmente, a maior parte do faturamento dos clubes vai para os salários de atletas. Nesse linha, pode-se esperar melhores salários para elas, se houver mais dinheiro vindo da mídia e das marcas patrocinadoras. “Será um processo natural, mas será preciso direcionar esses investimentos para o desenvolvimento do futebol feminino. É fundamental investir na base, na escola, no fomento do interesse das meninas em praticarem o esporte, com boas condições de treinamento e segurança”, declarou.

Entusiasmada com a escolha do Brasil, Angélica Souza, cofundadora das Dibradoras, ressaltou que agora o país - que por quase 40 anos proibiu as mulheres de jogarem futebol - tem a oportunidade de mudar, de vez, o futebol feminino por aqui. Sediar a Copa, em sua visão, vem com a responsabilidade de investimentos em estrutura, nos clubes, nas competições nacionais para consolidar, de fato, a modalidade no país, acreditando em um futuro sustentável para todos os envolvidos.

Os históricos recentes dos clubes da Europa e dos Mundiais da França e da Austrália e Nova Zelândia mostram que é possível, com trabalho sério e comprometido, mudar o cenário: lotar estádios, conquistar audiência fiel e obter retornos concretos de investimentos”, disse.

Angélica - que participou do Festival do Clube de Criação do ano passado em um painel sobre futebol feminino - defendeu que será necessário comprometimento real dos atores envolvidos: CBF, organizadores da Copa, federações, clubes, imprensa e patrocinadores para fazer do evento “um grande marco da transformação do futebol feminino no país”. E salientou: “É fundamental também deixar um legado para que as próximas gerações de meninas tenham a certeza que ficou no passado a época em que o futebol não era o nosso lugar”.

Apoio das marcas

Para Plastina, haverá maior apoio das marcas ao esporte. Segundo ele, o futebol feminino terá três anos até a Copa do Mundo gerando muito mais interesse da mídia, com mais cobertura e transmissões na TV. Assim, haverá mais espaço de exposição para marcas se associarem aos eventos. “Acredito que o crescimento de marcas e investimentos de patrocinadores, será maior e mais contundente”, disse. Mais apoio, mais dinheiro, mais ações, indo além da exposição de marca. Além disso, vários patrocinadores da Fifa devem dar mais atenção e verbas para o mercado brasileiro.

A participação das marcas é fundamental no ciclo virtuoso que se quer para o futebol feminino, reforçou Angélica. “É importante que as empresas entendam que é possível criar conexões e conversas com a audiência e fãs por meio da modalidade”, afirmou.

Ela ponderou que há ainda um longo caminho para que as empresas - mesmo as que já patrocinam clubes ou competições - se apropriem do território com aportes de longo prazo, com campanhas e ativações que façam as marcas serem reconhecidas pelo público do futebol feminino. Para Angélica, chegou a hora de as marcas irem além das campanhas pontuais em grandes eventos. É preciso entrar de vez no jogo.

Em cima disso, ela faz um desafio a qualquer pessoa que não seja do mercado para que esta aponte três patrocinadores ligados ao futebol feminino brasileiro. “Agora, mais do que nunca, a oportunidade está à mesa para fazer diferente”.

A Fifa tem como marcas patrocinadoras do futebol feminino Visa e Xero. As empresas que patrocinaram a Copa do Mundo de 2023 (cota global) foram Booking.com, Budweiser, Cisco, Globant, McDonald’s, Mengniu, Panini, Rexona e Team Global Express (em ordem alfabética). Foram apoiadores: Itaú, BMO, CMG, Claro, CommBank, EstrelaBet, Frito-Lay, Geico, Hublot, Inter Rapidísimo, Jacob’s Creek, Optus, TAB e Yadea.

Já a seleção brasileira que disputou a Copa do Mundo de 2023 teve entre os patrocinadores: Guaraná Antarctica, Itaú, Kwai, Mastercard, Neoenergia, Nike e Vivo.

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