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Imbróglio bilionário

Microsoft e OpenAI não estão em seus melhores termos

18.10.24

Depois de uma declaração de amor pública, feita em uma conferência realizada em San Francisco no final do ano passado, a Microsoft parece hoje não estar em seu melhor momento no relacionamento com a OpenAI, a quem a big tech disparou, naquela ocasião, um “we love you” na voz do CEO Satya Nadella. Uma das razões está no fato de cada uma estar avançando seus interesses em direção a parceiros diferentes.

Outro motivo é que a gigante da tecnologia e a startup estão tendo de lidar com um cenário de transformação que implica em discutir dinheiro e quem fica com o quê. As duas estão se aconselhando com bancos de investimento para saber como ficará a relação quando a OpenAI deixar de ser uma empresa sem fins lucrativos, processo que deve ser concluído em dois anos.

Esse caminho precisa ser trilhado após uma rodada de investimentos ocorrida no início deste mês. A dona do ChatGPT recebeu um aporte de US$ 6,6 bilhões de investidores liderados pela Thrive Capital, com participação de companhias como Nvidia, MGX e Softbank – e inclusive a própria Microsoft.

Se essa mudança não for feita no prazo acordado, os investidores poderão pedir seu dinheiro de volta. Avaliada em US$ 157 bilhões, a OpenAI é considerada a segunda maior startup dos Estados Unidos. Em primeiro lugar está a SpaceX, de Elon Musk, com valor perto dos US$ 180 bilhões.

A Microsoft, que injetou US$ 13,7 bilhões na startup desde 2019, e a OpenAI, que é a principal referência no mundo quando se fala de IA generativa, estão tentando entender como deverá ser distribuído o capital nessa transformação. Por ser a maior investidora da startup, é esperado que a big tech acabe ficando com uma grande participação na OpenAI.

Segundo o Wall Street Journal, a Microsoft buscou o Morgan Stanley para saber como ficará o negócio nessa transformação da OpenAI que, por sua vez, contratou o Goldman Sachs. Os dois lados querem descobrir também como ficará a governança da empresa. Não é comum que organizações sem fins lucrativos se convertam em companhias que visam lucro. Principalmente se elas alcançam o tamanho, o valor e o status da OpenAI.

Outro ponto que chama atenção: a Microsoft, alguns investidores privados e funcionários da OpenAI possuem direitos sobre lucros futuros gerados por uma subsidiária com fins lucrativos controlada pelo board da atual organização (operação sem fins lucrativos). Nessa questão, não se sabe, por exemplo, que parte cabe ao fundador e CEO Sam Altman, quando o negócio mudar de configuração. Michael Klein, ex-chairman do Citi, está aconselhando o comandante da OpenAI que, no passado, declarou que a parceria com a Microsoft era “o melhor 'bromance' da tecnologia”.

Em relação aos olhares dirigidos a outros parceiros, uma das querelas se refere à presença de executivos da Inflection AI, empresa de quem a Microsoft contratou em março praticamente a equipe inteira em um acordo avaliado em US$ 650 milhões, para liderar o desenvolvimento de tecnologias de IA na big tech (com base no software da OpenAI), como reporta o New York Times. A Inflection é uma concorrente da startup criadora do ChatGPT. Um dos fundadores da companhia, Mustafa Suleyman, é o CEO da Microsoft AI. A turma de Suleyman não se dá bem com o time de Altman, para simplificar.

Outro assunto que gerou tensão na relação foi a insistência da OpenAI em buscar outros recursos computacionais que não fossem apenas da Microsoft. Recentemente, Altman declarou em comunicado que a empresa é profundamente grata pela parceria com a gigante tecnológica, salientando que a grande aposta feita neles no início e “os vastos recursos computacionais” fornecidos foram essenciais para os avanços de pesquisas.

Mas, na visão da OpenAI, era preciso mais. Daí, a insistência. Em junho, a Microsoft cedeu aos pedidos e fez uma exceção no contrato. É assim a startup fechou um acordo de cerca de US$ 10 bilhões com a Oracle, que fornece chips adequados para desenvolver IA.

Agora é acompanhar como se desenrolam os próximos capítulos desse “bromance”.

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