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Mercado concorrido

Desafios de 2 festivais em um setor que disputa o público e as marcas

11.05.23

A produção do C6 Fest está em ritmo acelerado já que o evento, novo festival a entrar para o calendário cultural do país, está a poucos dias da abertura. Dividido entre duas cidades, São Paulo e Rio de Janeiro, ele abre suas portas na próxima quinta-feira, 18, no Vivo Rio, no Aterro do Flamengo, enquanto na capital paulista irá ocupar parte do Parque Ibirapuera. Esta é a primeira edição do C6 Fest, mas ele chega como “renascimento” de outro evento emblemático, afirmam seus organizadores.

Renascimento pode ser uma palavra aplicada também para o mercado, que vive um ano repleto de atividades. Se 2022 representou a retomada depois dos efeitos da pandemia, esta temporada traz o desafio de conquistar o bolso do consumidor e o interesse dos patrocinadores. Ao longo de 2023, já foram contabilizados mais de 40 evento do gênero no país.

Dentre os grandes festivais com atrações internacionais, o Brasil vê a estreia do The Town (da Rock World, que responde pelo Rock in Rio e irá promover o Lollapalooza Brasil 2024), a volta de uma grife eletrônica, o Tomorrowland, e o nascimento de uma marca que traz as raízes de outra, o C6 Fest.

No calendário de festivais musicais, é preciso dizer que um dos eventos que irá acontecer pela segunda vez no Brasil, o Primavera Sound, também trocou “de mãos”. Antes organizada pela Live Nation, a festa agora está com a T4F que, por oito edições, realizou o Lolla Brasil, a última em março passado (leia mais a respeito do fim desse acordo aqui).

O Primavera Sound será realizando no Autódromo de Interlagos, em 2 e 3 de dezembro. No mesmo local, em setembro (dias 2, 3, 7, 9 e 10), acontecerá o The Town. Como se não bastassem as turnês internacionais, o mercado tem na agenda grandes festivais como: Mita (27 e 28 de maio no Rio e 3 e 4 de junho em São Paulo), Best of Blues and Rock (2 a 4 de junho, em São Paulo), João Rock (3 de junho, em Ribeirão Preto/ SP), Coala (15, 16 e 17 de setembro, na capital paulista), Rock the mountain (4, 5, 11 e 12 de novembro em Itaipava/ RJ) e Afropunk Bahia (18 e 19 de novembro, em Salvador).

Para entender os desafios do setor em um ano tão aquecido, o Clubeonline conversou com os organizadores do C6 Fest e do Tomorrowland - outras empresas foram procuradas pela reportagem. Confira como as produtoras desses eventos, que têm propostas diferentes, estão se preparando para conquistar o público e as marcas.

C6 Fest

A organização do festival está sob o comando da Dueto Produções, de Monique Gardenberg, profissional de referência na área. No Rio, ele acontece entre os dias 18 a 20 de maio. Em São Paulo, os shows vão ocorrer entre 19 e 21 de maio. No line-up, nomes como Samara Joy, Kraftwerk, Underworld, Arlo Parks, Jon Batiste, Caetano Veloso, Tulipa Ruiz e Linn da Quebrada, com direito a homenagens musicais. A organização contou com um trabalho de curadoria feito por gente como Hermano Vianna e Ronaldo Lemos.

O naming rights é do C6 Bank. Outras marcas entram como patrocinadoras: Heineken, MetLife, Mastercard e Pernod Ricard. Clientes do banco têm vantagens exclusivas para aquisição de ingressos.

Alexandra Pain, CMO do C6 Bank, contou ao Clubeonline que ela teve a ideia de criar um festival que resgatasse o legado do Free Jazz, evento que foi organizado pela Dueto e se tornou um marco. Ela buscou Monique e as conversas engrenaram rapidamente. “Conseguimos reunir artistas consagrados e novos nomes da cena mundial no C6 Fest, que também deve entrar para a história dos festivais de música”, disse.

Para Alessandra, a realização do festival representa a continuidade da estratégia que o C6 Bank adotou desde o início de suas operações: “posicionar-se como uma marca aspiracional que faz parte da vida dos clientes de forma fluida”.

O conceito adotado pela instituição é “C6 Bank. É da sua vida”. A executiva salientou que, nos últimos anos, foram desenvolvidas ações com esse foco, entrando na vida dos clientes de maneira natural. “É esse o contexto da decisão de realizar um festival, mas também a estratégia por trás de outras decisões, como a de patrocinar a SPFW”.

O C6 Bank, que já apoiou shows como os de Norah Jones e Joss Stone, tem divulgado o festival com anúncios em diversas mídias, incluindo OOH em São Paulo, por meio de ativações em redes sociais e com a parceria de influenciadores. “Já fizemos ações com diversos públicos, como viajantes, investidores, comunidade LGBTQIA+ e, agora, com o C6 Fest, estamos fazendo essas ações com fãs de música”, explicou.

Pelo lado de quem produz e organiza o evento, há desafios que vão desde a contratação de fornecedores – que têm de cumprir com a legislação trabalhista – à conquista de mais apoiadores. Nesta entrevista, Monique Gardenberg, diretora e fundadora da Dueto, fala mais sobre isso.

Clubeonline – Quando surgiu a ideia de criar o C6 Fest?

Monique GardenbergO festival começou a renascer em 2022, após um telefonema da Alexandra Pain, do C6 Bank. Fã do Free Jazz Festival, ela sentia falta de um evento diverso e íntimo. Ficamos animadíssimos e imediatamente reunimos os curadores para trabalharmos na concepção do C6 Fest.

Clubeonline – Como o evento está posicionado no mercado, que está aquecido com a chegada de outro festival com potencial de atrair um grande público e com o retorno de outro evento com marca internacional?

MoniqueNa sua primeira edição, o C6 Fest chega com um formato que ainda é um diferencial. O line-up diverso e potente, através da excelência histórica da curadoria, chancela o seu lugar no panorama musical brasileiro.

Clubeonline – Conquistar o público brasileiro dentro do mercado de festivais é um dos desafios? Afinal, tem bolso para tanto?

MoniqueSim, é um enorme desafio. O grande número de eventos engarrafa o calendário anual das cidades e dificulta o processo, começando pela dificílima definição de datas, pela concorrência por espaço na mídia e por destaque na imprensa para chegar ao grande público. Ainda assim, o C6 Fest se diferencia no formato e na aposta da escalação de um line-up diverso e inovador. Por ser único em sua proposta, acreditamos que atingiremos um público que reconhece essas escolhas e busca uma experiência singular.

Clubeonline – Quais são os desafios de realizar hoje um evento como o C6 Fest: local, atrações, parcerias para viabilizar o projeto, adesão do público, cobertura, contar com um ecossistema que respeite direitos trabalhistas?

MoniqueÉ um quebra-cabeça. Os locais precisam garantir segurança, facilidade de acesso e espaço adequado, e não temos muitos disponíveis. No nosso caso, a adaptação aos limites de horário, por conta das leis vigentes, foi um grande desafio. Em um projeto desse porte, especialmente na reta final, o produtor precisa estar atento a cada contratação, de modo a garantir valores justos e condições de trabalho adequados.

Clubeonline – A esse respeito, como o mercado pode garantir que os fornecedores vão respeitar a legislação trabalhista?

MoniqueAtravés da fiscalização atenta da própria produção, em conjunto com o departamento jurídico, de modo a evitar qualquer desvio.

Clubeonline – Qual o peso da curadoria dentro da proposta de vocês? Como montaram esse time e o que norteou a decisão de convocar esses curadores?

MoniqueDesde a sua criação, em 1985, o festival tem na excelência da sua curadoria sua pedra fundamental. Nesta edição, o nosso antenado time de curadores conta com nomes que estão conosco desde a primeira edição, como José Nogueira, e estreantes, como Felipe Hirsch, além de Ronaldo Lemos, Hermano Vianna e Pedro Albuquerque, que nos acompanham há muito tempo. A escalação tem como premissa a busca pelo que há de mais relevante e efervescente nas cenas internacional e nacional contemporâneas.

Clubeonline – Sobre patrocínio, que marcas se juntaram ao projeto? Como será a ativação? Ainda buscam mais patrocinadores?

MoniqueHeineken, MetLife, Mastercard e Pernod Ricard. Cada marca terá um espaço e uma ativação inédita dentro da área de convivência, o Village Mastercard, onde todos os públicos podem se encontrar antes, entre e depois dos shows. Sempre estamos abertos para novas parcerias que tragam valor ao evento.




Tomorrowland

De volta ao Brasil depois de duas edições, em 2015 e 2016, o Tomorrowland se apresenta como um festival que vai além da música: ambientado em uma área de fazenda – Parque Maeda, em Itu (SP) –, ele oferece vivências de arte, cultura e gastronomia, além de receber pessoas que vão acampar no local. Marcado para os dias 12 a 14 de outubro, o evento já está com ingressos esgotados. Abertas em março, as vendas foram finalizadas em três horas.

Nascido na Bélgica, o festival se tornou um dos maiores eventos do mundo focados em música eletrônica. E também é um dos mais bonitos. Atrai também um público internacional. São aguardadas 180 mil pessoas em Itu. Do total de ingressos, 15 mil foram vendidos para outros países, como EUA, Chile, Argentina, México e Bélgica.

Fora o esgotamento das entradas para o festival, os pacotes de hospedagem em Itu e as acomodações no DreamVille, área de camping dentro do evento, também foram totalmente vendidos.

O Tomorrowland Brasil 2023 é realizado pela DC Set. O patrocinador principal é a cerveja Beck’s. A marca traz para a terceira edição o tema "The Reflection of Love", que convida o público a compartilhar positividade, amor e união. O conceito embalou o Tomorrowland da Bélgica em 2022 da Bélgica (leia mais aqui).

No line-up estão alguns dos nomes mais famosos da cena eletrônica mundial, bem como 24 DJs do Brasil: Steve Aoki, Tiësto, Martin Garrix, Alok, Steve Angello, Cat Dealers, Dimitri Vegas & Like Mike, Nervo, Gui Boratto, Marky e Aline Rocha. Nesta edição, outra novidade é um palco, o Core Stage. Trata-se de um dos palcos mais emblemáticos do Tomorrowland, unindo tecnologia e efeitos multissensoriais.

O CEO da DC Set, Rodrigo Mathias, conta para o Clubeonline que o evento voltou para ficar no Brasil e explica como o público daqui se relaciona com essa marca. Ele detalha os desafios da produtora em montar no país um evento com o gigantismo do Tomorrowland.

Clubeonline – Por que o evento está voltando ao Brasil? O que há de diferente nesta edição em relação às anteriores?

Rodrigo MathiasPorque o Tomorrowland acredita no país, onde o cenário da música eletrônica está em constante evolução e passando por um momento repleto de oportunidades. Há sete anos, nós já sabíamos a potência brasileira neste mercado. O Tomorrowland voltou para ficar, com o tema “The Reflection of Love”, que apresenta a narrativa de união e de energia positiva que o festival representa mundialmente. O palco principal, que leva o nome do tema, é um show à parte e contará com 53 metros de altura; 270 metros de largura; 990 metros quadrados de blocos de vídeo; 1.273 lâmpadas; 214 alto-falantes; 61 lasers; 18 fontes e 160 performers que vêm completar a atmosfera artística com suas coreografias perfeitamente sincronizadas. A relação dos fãs brasileiros com o Tomorrowland é única. O Brasil é a segunda maior comunidade digital do festival. Nas primeiras 24 horas do anúncio do retorno ao país, o site oficial registrou mais de 400 mil inscritos. O post no Instagram, em colaboração (Tomorrowland global e Brasil), sobre a volta teve um alcance orgânico de 3,1 milhões, maior do que o anúncio do festival na Bélgica. Sabemos que esta edição será mais uma vez espetacular e ainda mais memorável, com muitas novidades: a estreia do Core Stage e a implantação da iniciativa social da Tomorrowland Foundation em Itu. O evento também terá um grande foco na valorização da cultura e da música brasileira, com a presença de artistas locais renomados no line-up. Essa é uma forma de homenagear e celebrar a rica diversidade cultural do país, assim como destacar a importância da cena musical nacional no cenário global.

Clubeonline – Este ano o mercado está mais concorrido. Isso atrapalha os planos da organização, no sentido de que o target talvez tenha de definir bem como vai gastar seu dinheiro neste ano?

RodrigoO mercado de festivais pode ser bem competitivo, o que é positivo para o setor com os players brasileiros cada vez mais qualificados. A concorrência é saudável e estimula inovação e a criatividade, aprimorando serviços e tornando os festivais cada vez mais relevantes na vida dos consumidores. Este crescimento reforça a conexão do público com a música e entretenimento, que é ávido por novas experiências. O Brasil tem um horizonte de crescimento enorme no entretenimento e isso traz oportunidades para o Tomorrowland se diferenciar. O Tomorrowland tem um público fiel e uma proposta única de experiência imersiva em música eletrônica, criando conexões emocionais com o People of Tomorrow [como chamam os fãs]. Acreditamos que essa é a chave para o sucesso no mercado brasileiro de festivais, um setor forte e com futuro ainda mais promissor.

Clubeonline – Quais os principais desafios de trazer o Tomorrowland para o Brasil?

RodrigoTrazer o Tomorrowland envolve muitos desafios, principalmente em logística, câmbio e infraestrutura. No entanto, vemos isso como uma oportunidade para trabalhar com nossos parceiros locais e encontrar soluções criativas para garantir que os participantes tenham uma experiência excepcional. Vale destacar os desafios logísticos e operacionais em sediar o evento fora de uma grande metrópole, mas, no processo de decisão do local, a prioridade é a experiência dos nossos fãs. Faz parte do conceito do festival proporcionar um ambiente mágico e único, e o Parque Maeda em Itu oferece essa oportunidade. Temos uma equipe experiente e altamente qualificada, que trabalha em conjunto com os órgãos locais para garantir uma experiência inesquecível e segura para os participantes.

Clubeonline – Como vocês estão lidando com as questões trabalhistas dos fornecedores?

RodrigoA sustentabilidade é fundamental em todos os aspectos do festival, desde a preservação ambiental até a responsabilidade social. Nesse sentido, temos uma política de compliance que busca assegurar uma atuação ética e proporcionar condições adequadas aos profissionais e empresas envolvidas na realização do festival. Vamos prover um ambiente adequado para todos os envolvidos, que passa desde o desenvolvimento e qualificação de mão de obra local até um rígido programa de aplicação da legislação vigente, proporcionando condições adequadas para os prestadores de serviço.

Clubeonline – Como está sendo a negociação com as marcas?

RodrigoEm um mundo pós-pandemia, o valor percebido do entretenimento ao vivo pelas marcas e pessoas teve grande alta. A emoção de viver momentos inesquecíveis, a reconexão com pessoas, assistir aos seus maiores ídolos, entre outras sensações que somente a experiência ao vivo proporciona ganhou relevância na agenda. As marcas querem fazer parte desse momento inesquecível do consumidor, provendo serviços ou experiências conectadas ao conceito e à identidade do festival. O processo criativo entre os patrocinadores e o festival tem como objetivo promover uma relação orgânica das marcas na experiência, fazendo uma integração de identidade, storytelling e gerando valor ao consumidor. Destaque para a parceria entre o Tomorrowland e a Beck’s, que viabilizou o retorno do festival para o Brasil. A Beck’s vem desenvolvendo um belo trabalho de valorização da cena eletrônica, da arte e de apoio a novos talentos.

 

Lena Castellón

Mercado concorrido

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