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Mídia e jornalismo

Desafios de 2023: Fadiga de notícias? IA? Recessão?

12.01.23

Um relatório do Reuters Institute e da Universidade de Oxford aponta o que as empresas de jornalismo podem enfrentar neste ano, que será um período de grandes preocupações no mundo a respeito da sustentabilidade do negócio em um cenário de “inflação galopante e forte aperto nas economias das famílias”. O estudo “Journalism, media, and technology trends and predictions 2023” traz tendências de mercado a partir de entrevistas feitas com 303 profissionais de 53 países, de editores a diretores comerciais, com atuação na mídia tradicional ou digital.

De acordo com a pesquisa, os entrevistados estão menos seguros em relação às perspectivas de receita em comparação ao reportado no ano passado. Do total de profissionais ouvidos, 44% dizem estar confiantes e 19% demonstram baixa confiança. As maiores preocupações estão relacionadas ao aumento dos custos, menor interesse dos anunciantes (já que o mundo fala em recessão, o que influencia na redução de investimentos em publicidade) e à diminuição das assinaturas.

Cortes também estão na pauta. Mesmo os considerados otimistas falam em demissões e em redução de custos neste ano.

Outro dilema está no aumento da fadiga de notícias, afugentando público. Especialmente quando há tópicos importantes e deprimentes como a guerra na Ucrânia e as mudanças climáticas – por sinal, 49% dos editores revelaram que criaram times para fazer reportagens sobre o assunto, dada a relevância do tema.

A fadiga está alarmando 72% dos profissionais entrevistados. Da base total, somente 12% não se preocupam com esse tipo de esgotamento do leitor. Editores planejam combater esse efeito com conteúdo mais explicativo (94%), formatos com Q&A (87%) e histórias inspiradoras (66%). Produzir notícias mais positivas foi uma opção menos popular no relatório, com 48% das respostas.

Assinantes

Os profissionais dos veículos vão investir nas ações para assinaturas ou para conquistar membros de projetos pagos. Para 80% dos entrevistados essa será uma das prioridades para obtenção de receita, mais do que a publicidade (veja mais detalhes no quadro acima). O consenso, entretanto, está mais em reter assinantes, já que o bolso dos consumidores deverá estar apertado. Os veículos que mantém uma boa base de assinaturas pretendem crescer receita com mais oferta de conteúdo premium, como newsletters, ou com eventos.

Inovação e IA

Segundo o relatório, a próxima onda de inovação já está em curso. Se alguém pensou em metaverso, errou. Como afirmam os autores, os avanços extraordinários em Inteligência Artificial vistos em 2022 representam oportunidades e desafios para o jornalismo. A tecnologia oferece às empresas a chance de agilizar processos (como facilitar transcrições e elaborar artes para artigos) e trabalhar com informações e formatos mais pessoais, que viabilizam recomendações e até entregas personalizadas de conteúdo.

No entanto, o uso da IA também trará questões existenciais e éticas, como a manipulação de imagens. Além de abrir a porta para mais casos de deep fakes, mídias sintéticas e deep porn.

As empresas de mídia já estão integrando IA em seus produtos como forma de oferecer experiências mais personalizadas. Quase três em cada dez (28%) dizem que isso faz parte de suas atividades regulares. Já 39% declaram que estão realizando experimentos nessa área. Ferramentas como ChatGPT, Dall-E 2 e Midjourney são vistas como oportunidades para a criação de conteúdo semiautomatizado, caso de chamadas e manchetes.

Quanto a outros formatos, 72% dos editores afirmam que vão apostar mais em podcasts e áudio digital. Do total de profissionais ouvidos, 69% contam que vão investir em newsletters por e-mail. Essas estratégias têm se mostrado eficazes para aumentar a fidelidade dos consumidores. O investimento em formatos de vídeo (lives, shorts, longos para documentários) também aumentou (resposta de 67% dos entrevistados) em relação ao ano passado, motivado pela explosão do TikTok. Por outro lado, apenas 4% relatam que vão investir no metaverso.

Um ponto a salientar se refere à digitalização das organizações. Nos próximos anos a questão não será a rapidez com que os veículos adotaram o digital, e sim a forma como o jornalismo está transformando seu conteúdo digital de modo a atender às expectativas do público, que está mudando rapidamente.

Redes

A respeito desses futuros consumidores de conteúdo, é preciso observar  que, conforme o estudo, as redes sociais também passarão por desafios. Embora o fator econômico impacte o mercado, as plataformas mais antigas devem sofrer uma pressão geracional, por assim dizer. Facebook e Twitter estão vendo seu público envelhecer, enquanto os mais jovens preferem usar redes como o TikTok e Instagram.

Há ainda mais um aspecto a ser considerado. O relatório indica que as pessoas irão optar mais por redes e apps que coloquem mais ênfase em conteúdos que sejam bons para a sociedade, em vez dos meios e aplicações que permitam a proliferação da indignação e raiva.

Pelas respostas dos entrevistados, Facebook e Twitter terão menos atenção em comparação ao ano anterior. Os profissionais vão se esforçar muito mais em trabalhar com TikTok, Instagram e YouTube (confira o quadro sobre redes acima). O interesse sobre o TikTok cresceu 19 pontos percentuais em relação ao estudo anterior, o que reflete o desejo de os veículos buscarem público com menos de 25 anos.

Os abalos que o Twitter vem sofrendo sob a gestão de Elon Musk chamam atenção dos jornalistas. Para 51% dos entrevistados, a potencial perda ou enfraquecimento da rede seria ruim para a imprensa, mas 17% são mais positivos quanto a esse eventual movimento. Para 42% dos profissionais ouvidos, caso o Twitter implodisse, o LinkedIn seria a primeira plataforma em que se concentrariam.

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