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Enfrentar a crise é importante para 96% dos brasileiros
Um estudo anual da 3M, o Estado da Ciência (State of Science Insights) trouxe resultados importantes a respeito da percepção dos brasileiros sobre um tema que ganha cada vez mais evidência na mídia: a crise climática. Realizada em 11 países, a pesquisa mostrou que o problema preocupa a população de modo pessoal e também sob uma visão coletiva. No Brasil, 96% dos entrevistados afirmam que enfrentar esse quadro é fundamental na ótica pessoal. Além disso, 56% dizem que a mudança climática já está afetando a comunidade em que vivem.
Divulgado nesta quarta-feira, 17, o trabalho foi conduzido pela Morning Consult. Foram ouvidos 1003 brasileiros entre 13 e 24 de dezembro e mais 501 formadores de opinião (profissionais empregados que preencheram critérios de influência estabelecidos pela consultoria). O grupo é representativo da população brasileira.
Um foco do estudo é apontar o peso da ciência para o progresso da sociedade. E isso fica evidente com um dos dados apresentados: 90% dos entrevistados acreditam que a ciência pode desempenhar um papel essencial na busca por soluções para as mudanças climáticas.
Mas é preciso destacar que, além da ciência, o mundo corporativo tem uma forte missão a cumprir nesse sentido. Segundo a pesquisa, para 92% dos brasileiros as empresas precisam se comprometer mais a usar materiais sustentáveis.
As principais preocupações relacionadas às alterações ambientais são as seguintes: falta de água limpa (48% das respostas); eventos climáticos extremos, como furacões, incêndios e enchentes (41%); mudanças de longo prazo nas temperaturas e nos padrões climáticos (35%); problemas de saúde decorrentes da crise climática (32%); má qualidade do ar (29%); aumento da fome global (27%); perda de biodiversidade (23%); diminuição da qualidade de vida para as gerações futuras (23%); impacto negativo na economia, caso do aumento da pobreza e do desemprego (16%) e mudança de casa (4%). Dos entrevistados, 7% declararam não estarem preocupados com as consequências.
Outro destaque do estudo se refere à força de trabalho. Para 84% dos brasileiros, os empregos em STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) representam o futuro. O “emprego verde” também chama atenção. O conceito se aplica a um trabalho que contribui para preservar ou restaurar o meio ambiente, seja em setores tradicionais como a construção ou em áreas emergentes, a exemplo do segmento de energia renovável.
A maioria das pessoas ouvidas (88%) espera que o mercado de “empregos verdes” cresça nos próximos cinco anos. Dos entrevistados, 90% respeitam quem trabalha com esse tipo de atividade e 86% acreditam que essas profissões são cruciais para combater a crise climática. "Existe um sentimento universal de entusiasmo e respeito pelos empregos verdes – e estamos assistindo a um interesse crescente do mundo na aprendizagem de competências verdes, bem como de pessoas que estão encontrando formas de incorporar essas competências nas suas carreiras”, afirmou Paulo Gandolfi, diretor de pesquisa e desenvolvimento da 3M para a América Latina.
Por outro lado, 57% consideram que as empresas estão bem equipadas para fazer a transição para “empregos verdes”. Ou seja, 43% entendem que as companhias falham nesse quesito.
Embora o estudo demonstre que a população está, em sua maioria, preocupada com a questão climática, ainda falta muito conhecimento a respeito do tema. A expressão “pegada de carbono”, por exemplo, é desconhecida para 30% das pessoas. E 36% dos brasileiros ouviram falar, porém não estão familiarizados com o assunto. A pegada de carbono trata das emissões de gases do efeito estufa (GEE) lançadas na atmosfera por um indivíduo, uma organização, um processo ou um produto.
Letramento e comunicação
A consultora em ESG Onara Lima, que participou da divulgação do estudo, comentou que os resultados indicam que o tema vem sendo falado entre os brasileiros. No entanto, falta letramento. De acordo com ela, os 96% dos brasileiros que consideram fundamental enfrentar o quadro de emergência climática representam uma grande massa que precisa entender como se situam diante desse problema.
Gandolfi disse que um desafio enorme para as empresas é a comunicação. E isso envolve o público interno (funcionários) e o externo (consumidores). Como a pesquisa mostrou que falta conhecimento sobre a pegada de carbono - para citar um conceito -, o trabalho com os profissionais da casa tem um peso grande. Quando se pensa em impactar a maior da parte da população, então, “o desafio se multiplica por 10”.
“Temos produtos com embalagens que usam resina reciclável, compramos há dez anos energia no mercado livre, 70% de todos os recursos hídricos nós conseguimos reutilizar... Como comunicamos isso? O grande desafio das empresas sérias é transformar as narrativas para atingir o público interno e o externo”, revelou Gandolfi.
Outro ponto a ser observado é entender que social e ambiental estão conectados. “A crise climática aumenta a crise social”, disse Onara. Quando perguntados sobre o alto custo dos cursos que habilitam para os “empregos verdes” - um obstáculo para as camadas mais pobres da sociedade ou para comunidades que frequentemente são esquecidas embora sejam muito atingidas pelas questões climáticas, caso dos moradores de periferias e das populações indígenas -, tanto Gandolfi quanto Onara defenderam que é preciso ampliar o conhecimento para esses grupos.
“A gente precisa incluir essas pessoas. É possível começar com a oferta de formação de nível técnico para depois partir para o de formação executiva. A oferta de empregos verdes tem de ser democratizada”, declarou Onara. Gandolfi observou que, se nem mesmo a elite brasileira é capaz de entender os fundamentos, como “pegada de carbono”, o que se dirá da população mais carente e com menos acesso à educação? “Há muito ainda a ser feito”, acrescentou.