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Mudanças climáticas

Só ação imediata pode garantir futuro habitável

20.03.23

Cientistas do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, apresentaram nesta segunda-feira, 20, novo relatório sobre as condições climáticas do planeta. Diversos alertas têm sido dados nos anos mais recentes, mostrando que a elevação da temperatura em 1,5°C em relação ao nível pré-industrial será uma tragédia para a Terra. No estudo que acaba de ser divulgado, os especialistas trazem mais uma mensagem de alarme e também uma convocação. É preciso fazer algo agora para tentarmos garantir um futuro habitável.

Segundo o relatório, o mundo deverá experimentar essa elevação por volta da “primeira metade da década de 2030, se continuarmos a queimar carvão, petróleo e gás natural do jeito que fazemos atualmente. Por outro lado, os autores do estudo também pontuam que existem várias opções viáveis e eficazes para reduzir as emissões e para que nos adaptemos às mudanças climáticas causadas pelo homem. Elas já estão disponíveis.

A integração de ações climáticas efetivas e equitativas não apenas reduzirá perdas e danos à natureza e às pessoas, mas também proporcionará benefícios mais amplos”, declarou o presidente do IPCC, Hoesung Lee. “Este relatório ressalta a urgência de tomar medidas mais ambiciosas e mostra que, se agirmos agora, ainda podemos garantir um futuro sustentável habitável para todos”, completou.

Por exemplo, se os países industrializados se unissem imediatamente para reduzir os gases do efeito estufa pela metade até 2030 e gradualmente deixassem de adicionar dióxido de carbono na atmosfera no início dos anos 2050, essas duas resoluções representariam cerca de 50% de chance de limitar o aquecimento a 1,5°C.

Em 2018, o IPCC destacou a escala sem precedentes do desafio necessário para evitar esse aquecimento. Cinco anos depois, o desafio tornou-se ainda maior devido ao aumento contínuo das emissões de gases de efeito estufa, apesar dos alertas. O ritmo e a escala do que foi feito até agora e os planos atuais são insuficientes para enfrentar as mudanças climáticas.

Em mensagem de vídeo feita na apresentação dos dados do painel, o secretário-geral da ONU, António Guterres, classificou o relatório de “guia de como desarmar a bomba-relógio climática”. Ele fez uma proposta ao G20 para que façam um “Pacto de Solidariedade Climática”. Com isso, Guterres propôs esforços adicionais dos grandes emissores para cortar emissões, enquanto economias emergentes receberiam apoio financeiro e técnico dos países mais ricos nesse esforço.

Guterres abordou uma “Agenda de Aceleração”, que considera a adesão de líderes de países desenvolvidos em um “compromisso de atingir a neutralidade de emissões o mais próximo possível de 2040 e os países em desenvolvimento o mais próximo possível de 2050”.

Pela proposta, seria eliminado o uso do carvão e neutralizada a produção de eletricidade até 2035 para todos os países desenvolvidos e 2040 para o resto do mundo. A sugestão prevê a interrupção de novas licenças e fundos para indústrias de petróleo e gás e “qualquer expansão do petróleo e reservas de gás”.

Perdas e danos, mas também ações e soluções

O novo documento – intitulado “Relatório de Síntese Mudança Climática 2023", que faz parte da sexta avaliação do clima feita pelo IPCC – destaca perdas e danos que já estamos enfrentando e continuarão no futuro. Mas ele também traz propostas de ações e soluções. Afinal, tomar medidas emergenciais agora pode resultar na mudança essencial para a transformação da sociedade e para um mundo sustentável e equitativo.

Vivemos hoje um aquecimento global de 1,1°C acima dos níveis pré-industriais. Cada aumento na temperatura do planeta resulta em perigos que crescem rapidamente, como ondas de calor mais intensas, chuvas mais fortes, inundações, deslizamentos. Os especialistas também apontam a insegurança alimentar e hídrica causadas pelo clima como riscos diante desse cenário de aquecimento. E eles se tornam ainda mais complexos se surgem outros fatores como pandemias.

O painel da ONU faz um chamamento com orientações para o “desenvolvimento resiliente ao clima”. De acordo com os cientistas, isso demanda a integração de medidas de adaptação às mudanças climáticas com ações para reduzir ou evitar as emissões de gases de efeito estufa. Como disseram, precisamos nesta década de uma ação acelerada para nos adaptarmos às mudanças já provocadas pelo clima.

Entre os exemplos estão eletrificação de baixo carbono, investimentos em transporte público com zero emissões e mesmo incentivo à caminhada e ao ciclismo para melhorar a qualidade do ar, a saúde da população e até as oportunidades de emprego.

Como ressaltou o IPCC, para as medidas serem eficazes elas precisam estar enraizadas em diversos valores da população, trazendo visões de mundo e conhecimentos vindos de variados grupos, como os indígenas. Desse modo, a estratégia de desenvolvimento resiliente ao clima poderá incluir soluções apropriadas para cada local e etnias.

Financiamento insuficiente

E é lógico que o financiamento deverá ser maior do que o está sendo feito atualmente. Hoje, os aportes insuficientes estão prejudicando o combate ao aquecimento. O painel da ONU observou que há capital global para reduzir rapidamente as emissões de gases de efeito estufa, se as barreiras existentes forem reduzidas. Aumentar esses investimentos, portanto, é fundamental para atingir as metas climáticas globais.

Se tecnologias, know-how e as medidas políticas adequadas forem compartilhadas, e o financiamento adequado for disponibilizado agora, todas as comunidades poderão reduzir ou evitar o consumo intensivo de carbono, afiançou o IPCC. Ao mesmo tempo, com aportes significativos em adaptação, é possível evitar riscos crescentes, especialmente para grupos e regiões vulneráveis.

Os cientistas ressaltaram: mudanças no setor de alimentos, eletricidade, transporte, indústria, edifícios e uso da terra podem reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Ao mesmo tempo, podem tornar mais fácil para as pessoas levarem estilos de vida com baixo teor de carbono. Uma melhor compreensão das consequências do consumo excessivo é um modo de ajudar as pessoas a fazer escolhas mais informadas.

Vivemos em um mundo diverso no qual todos têm diferentes responsabilidades e diferentes oportunidades para provocar mudanças. Alguns podem fazer muito, enquanto outros precisarão de apoio para ajudá-los a gerenciar a mudança”, comentou Lee.

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