Quase dez meses depois de a quarentena ter sido oficialmente decretada no país (24 de março) para evitar o avanço da covid-19, diversas agências estão redefinindo o modo como trabalham. O home office, que virou prática absoluta no mercado pela imposição da vida, se consolida e promete se estabelecer entre as empresas mesmo após a implantação de um plano de vacinação que atenda a população geral.
Entre as soluções pensadas para estes tempos e para o período após imunização estão a criação de aplicativos, que permitem reservar mesa e lugar na agência, a oferta de benefícios mais flexíveis, que se adequem às necessidades do funcionário, controle de acesso por QR Code e a adoção de um ambiente semelhante ao coworking.
Essas são respostas dadas pelo mercado a questões feitas pelo Clubeonline. Perguntas foram enviadas para as maiores agências do Brasil e outras. A reportagem buscou saber:
- Que lições de 2020 geraram mudanças para 2021? Home office se mantém? O RH adotará novas diretrizes?
- A agência sofreu alguma mudança? Espaços foram redefinidos para receber os colaboradores de volta? Áreas foram criadas? Desenhos do ambiente foram refeitos?
Parte das respostas dadas pelas agências - algumas vinda dos CEOs - segue abaixo. Nesta quinta-feira, 07, publicaremos mais uma rodada.
AMPFY
- O que as lições de 2020 geraram de mudanças para 2021? Como ficou o home office?
Em 2020, aprimoramos o trabalho à distância, desenvolvemos mais disciplina e tivemos equipes mais focadas. Em relação à qualidade da entrega, conseguimos manter o alto padrão e, em determinadas situações, ganhamos agilidade. Mas, quando se diz sobre intensidade das relações, aprendemos que nada substitui o contato pessoal. Outra dificuldade foi a propagação da cultura da agência, algo valioso para nós. Em 2021, vamos usar o melhor dos dois universos, mantendo um modelo híbrido, com dias de home office e dias presenciais. Em ambos, vamos continuar disponibilizando as melhores ferramentas de comunicação entre equipes e clientes, de processos e de organização. Vamos também continuar investindo em cursos e workshops, focados em bem-estar e inteligência emocional, o que nos ajudou a superar as imprevisibilidades de 2020. O objetivo é sempre criarmos um ambiente propício às melhores ideias, não importa onde as pessoas estejam.
Will Ferrari Jr., diretor de criação
- A agência sofreu mudanças no ambiente? Teve áreas criadas?
No início da pandemia, nos parecia que o home office integral tinha vindo para ficar em definitivo. Mas, com o decorrer do tempo, aprendemos que alguns profissionais, principalmente aqueles que estão em início de carreira, precisam (e muito) da troca com outros profissionais. E isso acontece, naturalmente, no ambiente físico. Isso tem feito a gente repensar o nosso futuro. Vamos experimentar um modelo híbrido. Contudo, ainda não programamos nossa volta, pois temos muitos profissionais que usam o transporte público como principal maneira de transitar pela cidade. Quando voltarmos, vamos experimentar as diversas possibilidades desse modelo. Elas são muitas e o que ficou claro para nós é que nada vai ser como antes e isso é ótimo.
Dogura Kozonoe, diretor executivo de criação
ARTPLAN
- O que as lições de 2020 geraram de mudanças para 2021? Como ficou o home office?
Foram muitas mudanças. Muitas delas já previstas, porém
aceleradas, como os processos internos compartilhados na nuvem, possibilitando um trabalho ainda mais colaborativo à distância, por exemplo. O home office, que já estávamos começando a introduzir em nosso modelo de trabalho antes da pandemia, com certeza veio para ficar. Provavelmente em um modelo híbrido que funcione para todos.
Não é mais possível e nem viável imaginar 100% da operação no escritório. O RH, que aprendeu e se reinventou demais durante esse período, com certeza adotará novas diretrizes, sempre zelando pelo bem-estar e segurança dos nossos colaboradores.
Nosso foco, que sempre foi cuidar das nossas pessoas, ficou ainda mais fortalecido nesse momento e é algo em que a agência tem o propósito de investir cada vez mais. Sem dúvida, essa tem sido a nossa principal lição.
- A agência sofreu mudanças no ambiente? Teve áreas criadas?
Os escritórios da agência, tanto em São Paulo como no Rio, estão passando por uma
repaginada. Sentimos que será importante tanto para o novo modelo de trabalho que vem pela frente (cada vez mais colaborativo, ágil e flexível), com
mais áreas de convivência e espaçamentos físicos entre as pessoas, quanto para marcar a nova fase e passar a sensação de um
novo ambiente para nossos colaboradores. Acreditamos que essa sensação de um novo espaço, além de funcional, faça parte do cuidado com o bem-estar das pessoas.
Antonio Fadiga, CEO
BETC/ HAVAS
- O que as lições de 2020 geraram de mudanças para 2021? Como ficou o home office?
2020 trouxe um grande aprendizado para a nossa indústria como um todo, incluindo agências, anunciantes e veículos. Percebemos que
somos muito mais ágeis na adaptação de um novo cenário e também muito mais produtivos do que pensávamos atuando em home office.
Agências que atendem contas internacionais já tinham parte da equipe acostumada ao trabalho virtual. A videoconferência, por exemplo, já era uma prática existente. Mas 2020 fez com que todos entrassem nessa modalidade. Então,
aprendemos a ser mais diretos, sem rodeios, e com maior produtividade. E por isso posso afirmar que, sim, o home office veio para ficar. Primeiro porque
continuaremos com esse modelo até que a vacina seja uma realidade para todos. Mas, mesmo posteriormente, acredito que o home office fará parte da nossa rotina, contudo, sem tirar a importância do escritório físico. Afinal,
nosso setor e a criatividade precisam do olho no olho, da interação, das conversas, do
brainstorm, dos improvisos, da espontaneidade e de tudo o que envolve o contato presencial. Nesse sentido, o nosso RH foi fundamental em todo esse processo. Não só para cuidar da integridade física das equipes, mas também mental de todos, colocando a saúde dos nossos colaboradores sempre em primeiro lugar. Além de todas as medidas de prevenção e segurança e de todo aparato tecnológico e estrutural para oferecer as melhores condições para o trabalho remoto, ainda
criamos a rádio BeePop, com muita música e conteúdo todos os dias da semana, com base no
mood da agência. A ideia era levar um
ambiente confortável e leve, próximo ao da BETC, para a casa das pessoas.
- A agência sofreu mudanças no ambiente? Teve áreas criadas?
Sim,
estamos preparando um ambiente totalmente novo a partir deste ano. O objetivo é que possamos ser
um verdadeiro espaço de coworking. Não teremos mais mesas e lugares fixos, por exemplo. Para isso,
criamos um aplicativo no qual o colaborador que se sentir à vontade para trabalhar da agência pode “reservar” seu local de trabalho, assim como se faz com assentos de avião. Cada um poderá planejar sua ida à BETC por meio do app, reservando seu espaço para os dias escolhidos.
A ferramenta também ajudará a orientar as pessoas do mesmo time, para que possam estar em estações próximas, se for o caso, sem aglomerações e cumprindo todas as medidas de segurança. No nosso caso, serão
grandes mesas por todo o escritório. Estamos definindo todas essas mudanças para que tenham a cara da agência, pois acreditamos que a cultura é fundamental para imprimir o nosso “tempero”. A agência precisa ter uma característica marcante e as pessoas precisam ter vontade de estar lá, para juntos podermos pensar, criar e executar. As novas áreas devem fazer com que as integrações aconteçam mais e de forma saudável, sempre. Nesse sentido,
passamos a ser um lugar ainda mais agregador, um ambiente de troca e não apenas uma estação de trabalho com uma mesa fixa. Teremos mais salas de reuniões, espaços abertos e locais que facilitem essa interação tão importante e insubstituível.
Erh Ray, CEO
FCB
- O que as lições de 2020 geraram de mudanças para 2021? Como ficou o home office?
Fomos pegos de surpresa e o home office começou sem grandes planejamentos. Fomos nos adaptando com o decorrer dos dias e chegamos à conclusão que esse modelo de trabalho veio para ficar. É uma realidade sem volta.
Uma política formal de home office será implantada em 2021. A ideia é ter um modelo híbrido, em que alguns dias da semana teremos trabalho presencial. Os outros serão de home office. Outro ponto: a FCB se adaptou em relação aos benefícios oferecidos e,
em 2021, passa a ter um benefício alimentação flexível, em que o funcionário escolherá onde quer usar o valor recebido: ou em supermercados ou em restaurante ou em ambos.
- A agência sofreu mudanças no ambiente? Teve áreas criadas?
Para 2021, temos uma grande novidade, que trará mudanças e um novo jeito de trabalhar.
O espaço físico será compartilhado com outra agência do grupo Interpublic, a IPG Dxtra. Isso foi possível devido ao sistema de home office. O espaço foi todo reorganizado.
Não teremos mais lugares fixos, num estilo de coworking. As pessoas poderão reservar o dia em que irão à agência e em qual mesa irão sentar.
Isso tudo sendo feito via aplicativo, o que facilitará essa organização. Esse novo estilo de trabalho com certeza trará ganhos ao produto criativo que temos. A troca será muito maior.
Sandra Denes, vice-presidente de RH
LIVE
- O que as lições de 2020 geraram de mudanças para 2021? Como ficou o home office?
Na Live
já operamos num formato “anywhere office” desde fevereiro de 2019. Então, o home office, que já era nosso padrão de trabalho mesmo antes da pandemia, virou em 2020 um grande fator competitivo da agência. O que fez com que conseguíssemos
conquistar muitos clientes novos e crescer mais de 20%, mesmo durante estes tempos tão difíceis. Tivemos duas mudanças importantes em 2020 que foram muito relevantes. A primeira diz respeito aos
clientes estarem finalmente muito adaptados ao trabalho remoto. Isso basicamente permite que a operação da agencia ganhe muita agilidade e produtividade, beneficiando o negócio dos clientes também. A segunda tem a ver com o
aumento das contratações de profissionais fora de São Paulo. Intensificamos isso em 2020 e
a partir de 2021 essa política de recrutamento deve ser cada vez mais forte. Isso traz muita diversidade cultural para o time e nos dá mais forças para atendermos clientes como Unilever e AmBev, que possuem uma penetração enorme nos lares do Brasil.
- A agência sofreu mudanças no ambiente? Teve áreas criadas?
A sede da agência, lançada em setembro de 2019, foi desenhada em conjunto com o
Estúdio Guto Requena para o modelo de “
anywhere office”. Ela reforça nossa operação, que segue o princípio de defesa da
qualidade dos encontros físicos. Nossa sede é um
coffee shop na Vila Madalena, com espaços de café,
workshops, reuniões importantes e eventos de educação e confraternização. Passamos basicamente o ano inteiro com a casa fechada, mas
pretendemos retomar de forma gradual no começo do ano de acordo com as normas sanitárias. O que muda é que, em 2021,
criaremos espaços de estúdio para gravação de conteúdos de áudio e vídeo e também para a realização de apresentações virtuais. A ideia é que esse espaço seja cada vez mais um lugar para potencializar relações, criatividade e conhecimento. E, assim, o trabalho das pessoas em suas casas e cidades siga forte e feliz, sabendo que sempre teremos encontros de qualidade ao longo do ano e a estrutura necessária para sustentar a cultura da Live.
Lucas Mello, CEO
OGILVY
- O que as lições de 2020 geraram de mudanças para 2021? Como ficou o home office?
A adaptação, talvez, seja a competência que melhor defina o que nós tivemos de desenvolver em 2020. O ano foi desafiador em inúmeros sentidos, não apenas enquanto agência, mas enquanto pessoas, o que trouxe reflexos diretos na maneira como trabalhamos. O cuidado com quem trabalha na Ogilvy sempre foi e será assunto de máxima prioridade. Em período de pandemia, a atenção com a saúde e a segurança foi redobrada.
Desde o início da pandemia, fizemos questão de reforçar a transparência de nossos canais de comunicação. O
Papo de Corredor,
que antes acontecia na recepção da agência, está sendo virtual. Este é um espaço onde nosso
CEO, Fernando Musa, se reúne com todas as pessoas da agência para conversar sobre assuntos importantes e tirar dúvidas. A retomada ao
trabalho presencial é um assunto recorrente nessas conversas e o Musa sempre reforça que o retorno de 100% das pessoas ocorrerá quando as condições forem seguras. Nos últimos meses, em meio ao início das flexibilizações permitidas pelos governos, algumas pessoas vieram nos procurar pois gostariam de
contar com o espaço da agência para trabalhar. Pessoas com filhos pequenos, apartamento em reforma ou com muito barulho, por exemplo, veem na Ogilvy um espaço seguro e confortável de trabalho.
Desde 3 de novembro estamos com esse formato.
Karina Ribeiro, CMO e New Business Leader
- A agência sofreu mudanças no ambiente? Teve áreas criadas?
Em agosto, enviamos uma
pesquisa para poder identificar os (as) funcionários (as) que quisessem retornar ao trabalho físico na agência. O processo foi 100% voluntário e a regra principal é que
no espaço não teria mais de 30% do nosso quadro efetivo trabalhando presencialmente ao mesmo tempo. Não há necessidade ou obrigação de que as pessoas estejam fisicamente na Ogilvy. É apenas para quem quiser. Também não temos expectativa de chegarmos a 30% presencialmente. Pode ser menos que isso. Do ponto de vista de gestão, observamos uma curva de aprendizado importante, pois, em algum momento, esse retorno será mais regular. E, quando isso acontecer, queremos ter experienciado esse modelo híbrido. O formato de home office é bastante novo.
Coletar essa experiência do modelo misto é bacana também para as pessoas, que poderão testar como se sentem ou em que formato trabalham melhor. Até o começo deste ano, o retorno presencial está sendo livre. Temos um
controle de quantas pessoas estão na agência, mas o tempo que elas irão permanecer lá é individual. Se quiserem, podem ficar meio período ou dois dias. Não há período mínimo ou máximo. A agência estará aberta cinco dias na semana.
Estamos também desenhando um novo modelo para 2021, baseado nas pesquisas de percepção dos (as) funcionários (as), pensando na real necessidade de ter tarefas presenciais ou não. Mas, por enquanto, mantemos as mesmas orientações de 2020. Ou seja, home office para todo mundo, e para os que quiserem, a possibilidade de ir até a agência com todos os protocolos de segurança.
Criamos internamente, em julho, um
comitê para preparar a agência de acordo com os protocolos estabelecidos pela Abap/ Sinapro e prefeitura de São Paulo. O Grupo WPP tem como mantra pensar nessa retomada de forma segura, gradual e voluntária. Isso permeou nosso plano que, a todo momento, teve aprovação e reportes para o board, comprovando que respeitaríamos esses pilares. O primeiro ponto para essa retomada foi uma
ação coletiva de retirada de pertences da agência, pois as pessoas acabaram deixando suas coisas nas mesas, o que dificultaria a limpeza constante e o distanciamento seguro necessário.
Para o retorno voluntário, as pessoas passam por cuidados desde a portaria, como medir a temperatura, ter disponibilidade de máscara (em caso de a pessoa esquecer) e
controle de acesso por QR code. Já dentro da agência, as mesas de trabalho foram reorganizadas para assegurar o distanciamento. Disponibilizamos totens de álcool em gel, sinalizações nos banheiros, geladeira, e em outras áreas comuns. A segurança segue em primeiro lugar.
Thaisa Veras, Talent Director
Lena Castellón