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Cris Botarelli, Hefty
Neste mês de celebração da mulher, o Clubeonline está com uma série feita com mulheres que criam e/ou produzem áudio no mercado publicitário.
Um número que historicamente sempre foi diminuto, mas que começa a ganhar musculatura e crescer. Que bom!
A entrevista agora é com Cris Botarelli, compositora e produtora musical de trilhas da Hefty. Ela é também multi instrumentista e toca nas bandas Far From Alaska e Swave.
Confira como foram as conversas anteriores com: Gil Viana, CEO da Mugshot; Mônica Agena, produtora musical da Mr. Pink; Elga Bottini, compositora e produtora musical da Capta; Janecy Nascimento, maestrina, sócia-fundadora e CEO da Loud+; Silvanny Sivuca, produtora musical da Pingado Áudio; e Luna França, produtora musical, cantora e compositora da Evil Twin.
Clubeonline - Conte brevemente como surgiu sua história com a música.
Cris Botarelli - Minha história na música começou bem cedo, na igreja presbiteriana, em Natal (RN), onde fui criada. Venho de família cristã e quando tinha 12 anos comecei a tocar nos cultos junto aos grupos de música de lá, no instrumento que estivesse disponível. Foi quando aprendi a me virar no violão, guitarra, baixo, viola clássica e bateria. Desde então, não parei mais. Aos 15, entrei nas minhas primeiras bandas de rock e, aos 28, larguei a carreira de advogada para vir morar em São Paulo com minha banda, o Far From Alaska, e viver de música full time.
Clubeonline - Como começou a produzir para o mercado publicitário?
Cris - Ao longo da minha vida em bandas, sempre tive essa veia produtora muito manifesta. Então, imaginava que esse momento de trabalhar com trilhas de publicidade ou cinema chegaria. Em 2021, finalmente, enquanto ainda estávamos na pandemia e as bandas estavam paradas, o Edu Luke, da produtora de áudio Hefty (onde estou até hoje), entrou em contato comigo para termos um papo sobre produção. Apesar de ter achado o máximo, naquele momento eu tinha zero experiência no mercado publicitário. Tinha muitas ideias na cabeça, mas não tinha expertise. O Edu, por sua vez, me deu a oportunidade mesmo assim, me mentorou e, desde o dia 1, me deu bastante autonomia para eu materializar minhas ideias e me desenvolver, o que foi essencial na minha trajetória. Aí, o resto é história. De lá pra cá já rolou muita coisa legal.
Clubeonline - Passou ou passa por dificuldades, envolvendo por exemplo preconceito, neste universo?
Cris - Como instrumentista até que já houve situações desconfortáveis, de me perceber subestimada na função, mas aí a terapia é subir no palco e destruir tudo (no bom sentido, é claro, ahaha). Porque não há melhor argumento do que a ação. Na publicidade, não, na verdade. Eu tenho sentido o contrário, que estamos em um momento em que a diversidade como um todo é entendida como necessária. As marcas sabem que precisam acompanhar os sinais dos tempos para conseguirem se conectar com seu público. As agências, por sua vez, também têm seguido essa tendência de diversificar suas equipes. Não quero dizer com isso que acho que atingimos um mundo ideal, especialmente quando falamos de cargos de alto escalão, que seguem majoritariamente ocupados por homens. Mas vejo com otimismo esse movimento, de que é um começo.
Clubeonline - Você sente que ainda há poucas mulheres sendo reconhecidas e criando nas produtoras de áudio ou acredita que hoje este cenário mudou?
Cris - Sim, é fato que existem poucas mulheres produzindo para publicidade. Eu conheço poucas, por exemplo. Não há muita representatividade e é uma pena... Isso precisa mudar com urgência porque reflete uma triste realidade: de que ser instrumentista, produzir e compor é uma tarefa vista como masculina. É ainda muito confiada a homens. Ainda é "exótica" a figura da mulher produtora musical. Nesse contexto, é imperativa a necessidade de a gente abrir o horizonte para mais mulheres musicistas ocuparem esse espaço também na publicidade, por meio de ações afirmativas que forneçam oportunidades de formação de mais mulheres produtoras. Acredito que exista espaço para isso, sim, no mercado. Eu sou exemplo disso, inclusive. Seria lindo que as meninas que estão começando agora passassem a ver essa função como uma possibilidade de carreira real. Todos ganham com isso.
Clubeonline - Dos seus trabalhos feitos para propaganda, quais você destacaria? Por quê?
Cris - Ai que difícil! Como falei, já rolou muita coisa legal nesses quase 3 anos na Hefty, mas eu destacaria: campanha The Gift de Hyundai (lançamento do Hb20 2022), porque, além de compor, eu cantei na trilha e ficou eternizada no Spotify da marca; Citroen C4 Cactus, por ser um indie muito minha praia; Heinz Hidden Spots, que foi um desafio de misturar funk com música clássica sem cair na caricatura; Stella Artoir - Uncomfortable Foods, por ter sido uma construção muito poética e sinérgica com o filme; e, por último, teaser oficial da série “Olhar Indiscreto”, da Netflix, em que pude explorar esse território do cinema pela primeira vez.
Clubeonline - Fora do universo da publicidade, o que te move? Você está em outros projetos que envolvem música?
Cris - Qualquer tipo de criação relacionada à música me move profundamente. Além de tocar em duas bandas de rock, o Far From Alaska e a Swave, eu tenho produzido trabalhos de artistas autorais. Ou seja, respiro música 7 dias por semana. É meu trabalho, meu lazer, meu descanso, seja na publicidade, seja nas bandas, seja nas produções. Nem tenho outros hobbies (eu deveria, eu sei, ahaha). Realmente sou muito apaixonada pelo que faço e acho que é uma grande sorte poder fazer o que amo em tantas frentes diferentes.