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Isabel Lenza, Audioink
Neste mês de celebração da mulher, o Clubeonline está com uma série feita com mulheres que criam e/ou produzem áudio no mercado publicitário.
Um número que historicamente sempre foi diminuto, mas que começa a ganhar musculatura e crescer. Que bom!
A entrevista agora é com Isabel Lenza, diretora criativa da Audioink. Ela é cantora e compositora e tem dois discos lançados
Confira como foram as conversas anteriores com: Gil Viana, CEO da Mugshot; Mônica Agena, produtora musical da Mr. Pink; Elga Bottini, compositora e produtora musical da Capta; Janecy Nascimento, maestrina, sócia-fundadora e CEO da Loud+; Silvanny Sivuca, produtora musical da Pingado Áudio; Luna França, produtora musical, cantora e compositora da Evil Twin; Cris Botarelli, compositora e produtora musical de trilhas da Hefty; e Daniele Dantas, sound designer, compositora e sócia-fundadora da Caraesco Audio.
Clubeonline - Conte brevemente como surgiu sua história com a música.
Isabel Lenza - Cresci numa casa musical, onde meu pai colocava discos para tocar na sala. Meu irmão mais velho tinha banda e os ensaios eram em casa. Então, esse sempre foi meu ambiente. Eu tocava violão, mas profissionalmente fui comendo a música só pelas beiradas: desde dirigir vídeos a vender patrocínio para festival. Vivia a música também nas relações. Tive um namorado DJ e outro compositor. Com esse último, vivi o pacote completo de compor junto, ter músicas em parceria lançadas, dirigir clipe... Além disso, o disco dele - em que participei profundamente de todo o processo, contendo seis composições nossas -, foi indicado ao Grammy Latino. Quando a relação acabou, ficou insuportável para mim a ideia de perder a música ou de poder vivê-la somente através do outro. E, então, eu comecei a compor compulsivamente. Já era rascunho do meu primeiro disco, "Ouro" (2017). Em 2021, lancei meu segundo, "Véspera".
Clubeonline - Como começou a produzir para o mercado publicitário?
Isabel - Curiosamente, há muito anos eu faço locuções. A minha aproximação das produtoras de áudio foi sempre via repertório de voz. No final de 2023, a Paula Zakia me chamou para uma conversa na Audioink, dessa vez pela via da música, o que me deixou muito empolgada! Entrei como dupla criativa do Filipe Derado, produtor e sócio, que tem 20 anos de carreira na publicidade e me recebeu de maneira generosa, bancando e testando todas as minhas ideias. Assim como elas, Paula e Anna Di Giacomo (ambas sócias da produtora). Encontrei espaço para a criatividade, além de aprender a ter desapego, pelo dinamismo da publicidade. Em poucos meses de casa, coproduzi trilhas para HBO, InfinitePay, Chevrolet, Sadia.
Clubeonline - Passou ou passa por dificuldades, envolvendo, por exemplo, preconceito, neste universo?
Isabel - Já passei por situações em que se fosse um homem no meu lugar, o comentário não teria sido feito. Desde ter uma ideia descredibilizada para o arranjo de uma música (minha) antes mesmo de ela ser ouvida ou até receber uma crítica que nunca seria feita para um homem. Mas demorei para entender esses fatos como machismo. Entendo hoje. Mas a reação imediata foi enxergar pontos fracos em mim, quando na verdade dizem respeito à frustração do outro. Por isso, é tão importante trazer à luz essas discussões. Para que gerações mais novas se livrem o quanto antes dessas estruturas que só esmagam talentos.
Clubeonline - Você sente que ainda há poucas mulheres sendo reconhecidas e criando nas produtoras de áudio ou acredita que hoje este cenário mudou?
Isabel - Acho que houve melhora, mas não mudança. A existência dessa pauta "Mulheres no Áudio" reflete bem o que acontece. Ela é necessária para desenhar esse reconhecimento, mas revela ao mesmo tempo a desigualdade nos espaços. Desde sempre tivemos mulheres criando na música. Mas quem está abrindo espaço para elas? Quem está confiando decisões e criações a elas, dando os devidos créditos? Já é sabido que, historicamente, as mulheres foram muito desacreditadas e descreditadas em seus trabalhos de excelência, nas artes, na ciência, em qualquer área. Consequentemente, pouco divulgadas. Então, é um sistema complexo de várias camadas que precisa de abalo sísmico para se reconfigurar de ponta a ponta. Tanto para o trabalho de uma mulher ascender, como para novas mulheres terem em quem se espelhar na área. Eu nunca imaginei que pudesse fazer parte de uma produtora de áudio produzindo trilhas, pois eu não sou técnica. Precisou uma mulher (a Paula Zakia) me enxergar como produtora musical criativa e me convidar para trabalhar com ela. E foi só entrando, de fato, nos primeiros trabalhos que eu entendi que era possível. Mesmo conhecendo o trabalho de tantos produtores homens incríveis que também não são técnicos. Mas, com o movimento corajoso de uma puxar a outra, as estruturas começam a se modificar.
Clubeonline - Dos seus trabalhos feitos para propaganda, quais você destacaria? Por quê?
Isabel - Meu primeiro trabalho na Audioink foi uma trilha para um filme da HBO, de futebol feminino estrelado pela jogadora Formiga, dirigido pela Liz Dórea. Foi incrível estrear com essa mulherada e começar a entender a minha parceria com o Filipe. Destaco também a trilha para um filme de GM, que envolveu uma equipe de criação feminina da WMcCann e foi dirigido pela a Mari Zdravca. Um time em peso de mulheres criando para um universo ainda muito masculino, o de carros.
Clubeonline - Fora do universo da publicidade, o que te move? Você está em outros projetos que envolvem música?
Isabel - Eu amo entretenimento e meu encontro com a Audioink veio jogar lenha nessa fogueira também. Me vi com a possibilidade de conectar vários pontos de interesse que dialogam com a minha jornada profissional: direção de conteúdo em vídeo, estratégia, marcas e música. O resultado disso é a área de podcasts que está nascendo, trazendo projetos em que acredito muito. E, quem sabe, um meu no futuro. Na música, já tenho músicas o suficiente para um terceiro disco. Mas já aprendi que o disco se revela para você no tempo dele. Estou buscando essa clareza, sem pressa.