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Antonio Cicero, aos 79 anos
Antonio Cicero, escritor, compositor e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), morreu na manhã desta quarta-feira (23), na Suíça.
O poeta e crítico literário carioca sofria de Alzheimer e se submeteu a um procedimento de morte assistida e escreveu uma carta explicando a decisão (leia abaixo).
Irmão da cantora Marina Lima, Cicero ocupava uma cadeira na ABL desde o dia 10 de agosto de 2017.
Escreveu letras de música como "Fullgás","Para Começar" e "À Francesa", em parceria com a irmã, e colaborou com artistas como João Bosco, Waly Salomão, Adriana Calcanhotto, Orlando Morais e Lulu Santos - com este último, foi coautor de "O Último Romântico".
Estudou filosofia na PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), continuou na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), mas mudou-se para a capital inglesa em 1969 e terminou os estudos na Universidade de Londres.
Organizou o livro "O Relativismo Enquanto Visão do Mundo", em 1994, com conferências realizadas no projeto Banco Nacional de Ideias, promovido por ele e pelo poeta Waly Salomão. Dentre os livros de poemas estão "Guardar", de 1996, e "A Cidade e os Livros", de 2002.
Leia abaixo a carta de Antonio Cicero, na íntegra:
"Queridos amigos,
Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer.
Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.
Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi.
Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia.
Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.
Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação.
A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa – mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los.
Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.
Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.
Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!"