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Urso Morto veste uniforme do McDonald's em palestra
A morte pede carona para a arte: o carismático artista plástico Urso Morto conta como transformou a questão primordial da vida em tema central de seu trabalho
A fixação na ideia da morte e muitas dúvidas sobre a vida inspiram o trabalho do artista plástico Fabríco Bambratti, mais conhecido como Urso Morto. Durante palestra no Festival do CCSP, neste domingo, 02/09, o simpático Urso Morto falou, de maneira leve e bem-humorada que, desde muito novo, refletia sobre a morte, questão primordial da vida, e sobre o fato de as pessoas não saberem lidar com isso. Resolveu, então, mergulhar no assunto.
Estudou psicanálise, refletiu, transformou a morte em tema central de seu trabalho e, mesmo sabendo da rejeição que estava por vir, resolveu ir em busca da aprovação da família, de origem simples, que nunca viu com bons olhos essa forma de expressão.
"Eles acham tudo muito estranho, desconfiam que eu não sou normal. Meu avô era encanador da General Motors, meus pais nunca foram a uma Bienal ou exposição, não entendem meu trabalho e têm certeza que eu nunca vou ganhar dinheiro com isso", disse Urso. Um dos maiores desafios do artista, portanto, é aproximar seu trabalho não só de sua família, mas de todas as pessoas que não entendem o significado empírico da arte.
"Em geral, o artista acaba ficando dentro de um ciclo restrito e não consegue atrair a atenção da maioria para um trabalho mais conceitual, sem atrativos estéticos. Então, resolvi fazer um filme mostrando elementos criados por mim e inseridos no ambiente simples da casa da minha família. Como eles continuam sem entender e gostar do meu trabalho, nunca assistiram ao vídeo, mas eu não desisto", disse o artista.
Usando um uniforme de atendente do McDonald's, onde trabalha de madrugada, ele confessou que realmente ainda não conseguiu ter lucro com o seu trabalho e, fazendo graça, mostrou ao público um slide com o saldo negativo de seu extrato bancário.
"Para melhorar minha situação financeira, fui procurar um emprego e acabei conseguindo uma vaga no McDonald's, na loja da Henrique Schaumann. Infelizmente, observo que as pessoas lá não estão felizes com o que fazem, mas elas continuam no mesmo lugar porque o trabalho é uma forma de segurança. Mas acho que elas sentem o trabalho como uma maldição e não conseguem extrair felicidade dele. Isso não deixa de ser a morte de uma vida melhor", analisa.
Durante a apresentação, o artista expôs alguns de seus quadros da série "Assim vou morrendo violentamente", sempre com objetos cortantes e a representação do vermelho como símbolo do sangue (e, inevitavelmente, da morte).
Outro destaque do trabalho de Urso é um emocionante curta produzido após viagem que ele fez a Juazeiro do Norte, uma cidadezinha no interior do Ceará. "Resolvi me afastar das minhas referências e lá realmente encontrei pessoas sem nenhum contato com a arte padrão. Eles fazem arte do jeito deles".
Para conferir este curta e outros trabalhos do Urso Morto, basta acessar www.ursomorto.com
Por Luciana Lima