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O Espaço é Seu

Dois lados de um mesmo festival (Alexandre Ravagnani)

30.06.15

Este ano o Festival de Cannes teve um gosto bem diferente pra mim. Venho para cá há vários anos, mas desta vez pude vivenciar dois festivais, um visto pelos bastidores, como jurado na categoria Direct e outro que é o de sempre, frequentando as palestras, e posso dizer que foi diferente de tudo que eu já havia passado ou vivido.


Como membro do júri, foi uma grande experiência. Valeu como um MBA, sem exageros. Tive a sorte de pegar uma categoria incrível como Direct, onde até o que é ruim, é bom. A média dos trabalhos é muito alta e a disputa foi acirrada, com alguns trabalhos até que relativamente simples de se fazer e brilhantes na sua essência, na ideia. Somado a isso, tive o privilégio de fazer parte de um grupo de jurados também incrível, vindo de 23 países diferentes e onde muitas vezes nos confrontávamos com 23 pontos de vista diferentes. Um grupo crítico e criterioso, que tentou encontrar o melhor da comunicação para termos no final um grande show. Tudo conduzido pela exemplar Judy John, presidente da categoria, a mulher por trás de #LikeaGirl, campanha criada para Always da P&G.


E depois da semana mais intensa e cansativa da minha vida nos bastidores de Cannes, chego finalmente para o Festival e minha percepção e olhar mudaram bastante depois de discussões tão acaloradas falando sobre boas ideias. Começo a perceber nas coisas um novo valor para o que está sendo falado e exposto, os assuntos, algumas vezes, acabam sendo melhor compreendidos e, em outras, são mais rasos e vazios de significados. Parece que a mente fica mais atenta ao que é realmente uma novidade na comunicação, separando do que é uma releitura qualquer. Aí percebo o poder transformador que a participação como jurado pode fazer com você e como pode ajudar a trilhar caminhos.


Este ano o Festival não aconteceu somente no Palais. O festival tomou as ruas e estrelas como o Google e o Facebook comandaram grande parte deste show. É lá que acontece o verdadeiro one to one entre os milhares de delegados que vieram a Cannes. Apesar da bermuda e do chinelo nos pés, este se torna o momento ideal para qualquer discussão sobre criatividade, engajamento, consumidor e o futuro da comunicação. Você encontra as pessoas relaxadas e abertas para um bom papo e, mais uma vez, Cannes prova que a descontração e a informalidade alimentam nossa indústria e os novos donos do dinheiro novo, sempre que podem, conseguem reafirmar e esfregar na cara de todo mundo como eles são mais modernos, antenados e bacana que os outros. A cultura geek nunca esteve tão em alta como agora.


Além dos “puxadinhos” fora do Palais, outro “puxadinho”, mas oficial do evento, foi o Lions Innovation. Este ano o Festival de Cannes criou o Lions Innovation, onde discussões mais nos moldes do SxSW sobre o what's next e o que vai surgir amanhã começam a voltar para a agenda de Cannes. É lá que devemos nos voltar porque a tecnologia é que irá ser o drive do que de novo vai surgir na comunicação e alimentar o que será a virada nos nossos negócios. Mais uma vez o festival sai na frente em perceber isso e crescer ainda mais as categorias e consequentemente as inscrições, tanto de peças quanto de pessoas. O Festival tem fins comerciais, a inscrição é cara, colocar um case pra competir também, mas continua sendo muito desejado por todo criativo, agência e cliente. É só olhar para o resultado dos premiados deste ano e dizer: isso merece ou não ganhar Leão? 


Alexandre Ravagnani, diretor de criação da Havas São Paulo e jurado de Direct no Cannes Lions


 

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