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O Espaço é Seu

Tá na hora de animar (Ricardo Big Passos)

17.07.15

Era uma vez uma indústria de calçados que desenvolveu um projeto de vendas de sapatos. Em seguida, mandou dois de seus consultores a uma cidadezinha isolada do mundo, para fazer as primeiras observações do potencial daquele futuro mercado. Depois de alguns dias de pesquisa, um dos consultores enviou a seguinte mensagem para a direção da empresa:

"Chefe, cancele a produção, pois aqui ninguém usa sapatos".

O segundo consultor mandou à direção da empresa a seguinte observação:

"Chefe, triplique a produção, pois aqui ninguém usa sapatos".

Muitos de vocês já conheciam essa história, mas eu não me canso de citá-la dentro do estúdio, principalmente para funcionários novos. Digo isso porque há muito tempo não se ouvia tanto a palavra "crise" no Brasil. Há um pessimismo nefasto no ar, que vem nos contaminando cronicamente. Vejo por todos os lados reclamações generalizadas. Todas elas têm um certo fundamento político e mercadológico, sem dúvida. Mas sinto um certo exagero. E eu não me contento com isso. Não quero ser o pessimista. Sugiro um respiro. Vamos tentar enxergar diferente. Mexo com 3D, portanto gosto de explorar a realidade por todos os pontos de vista possíveis, e faço questão de mostrar que tem coisa boa acontecendo por aqui. Acho que tá na hora de animar!

A animação no Brasil nunca esteve tão bem. Nunca na história do país se produziu tanto nesse gênero. E não estou falando tão somente do mercado publicitário. Coloque aí na cesta TV fechada, internet, blogs, mobile e por aí vai. São inúmeras peças, cada qual com seu brilhantismo, sendo produzidas e veiculadas em diversas plataformas.

Isso produz alguns efeitos colaterais interessantes: mais empresas atuando no mercado, novos profissionais entrando no ramo e expansão da demanda por mão-de-obra qualificada.

Os profissionais que já trabalham na área há mais tempo estão com a agenda lotada. E isso é muito bom. Já não tem muito artista talentoso dando sopa, estão todos envolvidos em algum tipo de projeto. Na verdade, estamos exportando mão-de-obra. O número de profissionais brasileiros que conheci que estão indo trabalhar nos grandes estúdios, como Pixar, Dreamworks e Weta Digital, é grande. Temos muitos "Carlos Saldanhas". Tem muita gente produzindo coisa boa por aqui. E no ramo publicitário então? Tem mais fornecedor que picolé mexicano. Mas a concorrência é saudável e os resultados disso também. Estamos vivendo um verdadeiro boom no mercado de animação nacional. E essa é uma grande notícia.

O que temos, portanto, não é um momento de crise, mas sim um momento de oportunidade. A crise nos incentiva a achar novos caminhos, experimentar novas ferramentas e sair da zona de conforto. A crise ajuda a chacoalhar a poeira. Temos a chance de usar uma das ferramentas mais poderosas no ramo da produção audiovisual. Uma ferramenta altamente explorada em mercados desenvolvidos como o americano e o europeu. E não vamos nos prender somente na estética do Buzz Lightyear. A variedade de linguagens que uma animação proporciona é abrangente e riquíssima. As técnicas são variadas, podem ir desde uma animação tradicional 2D, um cut out, um stop motion até uma animação 3D altamente técnica. E o preço, ó! Muitas vezes pode ajudar a viabilizar uma grande ideia.

Vivemos um momento histórico no Brasil e o mercado publicitário tem que se aproveitar disso mais do que nunca. Quando eu olho pro mercado, vejo o mundo descalço. Vamos animar, galera?

Por Ricardo Big Passos, sócio e diretor criativo do Big Studios, empresa especializada em animação e CGI.

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