arrow_backVoltar

O Espaço é Seu

O que fazer quando ninguém vê que você não é tão moderno? (Eduardo Martins)

19.03.19

O que você faz quando ninguém está vendo que você não é tão moderno assim

Essa foi minha primeira ida ao festival SxSW e, por enquanto, eu o chamaria de um lugar onde as pessoas podem conhecer e entender os movimentos culturais, tecnológicos e humanos.

Sempre fui alertado pelos amigos a preparar minha agenda de palestras com muita antecedência, pois como são realizadas mais de 50 palestras ao mesmo tempo, fica impossível tomar uma decisão de última hora. E foi o que eu fiz.

Analisando profundamente a imensa lista de palestras e palestrantes, tive que não só me organizar, mas também escolher qual dos segmentos acompanhar. Peguei uma credencial azul onde se lia “Filmes” e escolhi seguir os contadores de “estórias”.

Escrevi “estórias” porque, quando aprendi, essa era a forma correta de se referir às narrativas populares ou tradicionais não verdadeiras, ou seja, ficcionais. Já a palavra “história” era utilizada em outro contexto, quando a intenção era se referir à ciência, ou seja, à história factual, baseada em acontecimentos reais.

O ser humano estabelece ligações interpessoais, transmite elementos culturais como regras e valores éticos por meio do ato de contar “estórias”. Prometo que não vou mais usar aspas em estória.

É difícil imaginar uma data precisa para a criação da estória (viu?), mas é sabido que foi há milhares de anos, já que contar estórias sempre foi uma característica do ser humano, mesmo antes de existir a linguagem escrita.

Daí comecei minha peregrinação atrás de Marti Noxon (adoro palíndromo), uma showrunner e roteirista que tem no currículo trabalhos como Sharp Objetcs, para a HBO, Mad Men, Grey’s Anatomy, Brothers & Sisters e outros.

Também assisti à Pamela Adlon que escreve, dirige, produz e é a protagonista da série Better Things, para o canal FX, recebendo indicação de Melhor Atriz de Comédia no Emmy e Globo de Ouro.

Não pude deixar de ver Stephanie Gillis e Al Jean, roteiristas e showrunner de nada mais, nada menos que Os Simpsons, e Deanna Marsigliese, diretora de arte de personagens da Pixar, com atuação em Divertidamente, Os Incríveis, O Bom Dinossauro e outros.

Josh Holtsclaw, ilustrador e designer, e Paul Abadilla, diretor de arte de cenários, ambos da Pixar, foram também palestrantes imperdíveis do festival.

Também entrou na minha agenda a diretora e atriz Olívia Wilde e Frank Oz, quatro vezes ganhador do Emmy, criador de Muppets Show e Vila Sésamo, diretor de A Pequena Loja de Horrores e Labirinto. Oz também foi a voz de Yoda, aquele velhinho orelhudo que troca a ordem das palavras em Star Wars.

Deixei por último meu favorito, Noah Hawley, showrunner da melhor série na minha modesta opinião: Fargo.  

Todas essas palestras aconteceram em salas pequenas do Centro de Convenções, bem próximas ao grande BallroomD. Um tipo de Grand Auditorium do Festival de Cannes, onde se realizam as palestras mais concorridas e onde as pessoas aprendem sobre um futuro longínquo e passam a discutir os impactos - positivos ou não - de vivermos num mundo com “blurred lines” entre o físico e o digital. Onde veem como as plataformas estão comprando expertise criativa. Descobrem os testes de ancestralidade e DNA e os micro-ondas falantes da Amazon. E ficam estupefatos ao descobrir que a nova economia já envelheceu.

Mas quando voltam para suas casas, talvez já na telinha pregada nas costas da poltrona à sua frente, descansam de tanta modernidade vendo e ouvindo uma estória. Um costume mais antigo do que escrever estória sem “h”.

 Eduardo Martins, diretor de criação da Talent Marcel

 

 

O Espaço é Seu

/